MERCADO DE TRABALHO

Mulheres na TI: por que elas ainda são minoria no setor de tecnologia?

Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), apenas 20% das pessoas que atuam na área são mulheres

Marcelo Aprígio
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Marcelo Aprígio
Publicado em 07/03/2021 às 18:00
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Profissões do futuro - FOTO: PEXELS
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Faz tempo que já não cabe mais a ideia de que a área tecnológica é destinada apenas a homens. O resgate da história do setor mostra que mulheres estão envolvidas na computação desde a origem, graças a nomes como Ada Lovelace, primeira programadora da história, ou Mary Kenneth Keller, primeira mulher a receber um diploma de pós-graduação em computação.

Entretanto, a diferença entre homens e mulheres no mercado de tecnologia é enorme. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), apenas 20% das pessoas que atuam na área são mulheres. Elas correspondiam a apenas 13,3% das matrículas nos cursos presenciais de graduação na área de Computação e Tecnologias da Informação e Comunicação e 21,6% na área de Engenharia e profissões correlatas.

Para a cientista da computação Laís Xavier, primeira mulher a assumir a presidência da Associação das Empresas de Tecnologia de Pernambuco (Assespro-PE) em 40 anos, a baixa presença das mulheres em cargos de TI está ligada a fatores educacionais. “Enquanto os meninos são incentivados desde cedo a pensar racionalmente, as meninas são estimuladas a brincar de boneca", afirma a especialista, que é CEO da Mídias Criativas.

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MULHERES DA TI | Lais Xavier, presidente da Assespro PE - FOX FALSH STUDIO/ASSEPRO/DIVULGAÇÃO

Na tentativa de abrir mais espaços para as mulheres no setor, ainda quando era estudante de Engenharia da Computação na Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Lhaís Rodrigues criou o “Women Makers” (mulheres que fazem, em tradução livre), um projeto que busca emponderar, inspirar e incentivar a participação feminina nas áreas de Tecnologia, Engenharia e Empreendedorismo. “Nossa ideia era ajudar o maior número de pessoas a buscarem a profissão que elas quiserem seguir, principalmente as mulheres que querem atuar na área de tecnologia”, conta a jovem.

A iniciativa de pessoas como Lhaís e de instituições que tentam aproximar as mulheres da tecnologia podem trazer resultados importantes. Nos Estados Unidos, onde esse movimento é um pouco mais antigo, os efeitos já são sentidos. De acordo com levantamento feito pelo site HackerRank, baseado em informações do governo americano, o setor de TI contratou mais mulheres do que homens nos primeiros nove meses de 2019. Segundo as informações, cerca de 65% das 39,9 mil vagas criadas no período foram ocupadas por elas. Ainda não há dados de 2020, porque a realização do levantamento no ano passado foi prejudicada por causa da pandemia.

E o Brasil tem condições de viver um fenômeno parecido. Segundo o estudo Doutores brasileiros titulados no exterior, do Centro de Gestão e Estudos Estratégicos (CGEE), as mulheres representaram 60% desse universo. Porém, as doutoras tituladas no exterior ainda ganham menos que seus pares do sexo masculino, que recebem, em média, um salário 26,5% maior. Um dado que aponta o trabalho árduo a ser feito na busca pela igualdade entre os gêneros, de acordo com a advogada e socióloga Bruna Rompatto.

"Reduzir a hostilidade de certos ambientes de trabalho, assegurar medidas protetivas contra assédios morais e sexuais e descortinar preconceitos em determinadas carreiras são ações necessárias para que as mulheres sejam mais participativas e reconhecidas na área de CT", afirma ela.

Preconceito de gênero

“Enquanto eu era estagiária ou desenvolvedora, não sentia nada. Mas mudou quando virei empresária. Eu representava uma empresa e tinha a sensação que, a cada reunião, as pessoas estavam esperando outra pessoa chegar. Não tinham a percepção que seria uma mulher de TI. Eu sentia que as pessoas não me davam credibilidade”, lembra Laís Xavier.

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MULHERES DA TI | Mercado da tecnologia para mulheres - PEXELS

Como ela, 81% das mulheres já sofreram preconceito de gênero, seja na escola ou no ambiente de trabalho. É o que aponta uma pesquisa realizada pela Yoctoo, consultoria de recrutamento e seleção especializada no segmento de TI. Cerca de 43% afirmam sofrer preconceito na universidade, já que os cursos são majoritariamente masculinos. Mas, os maiores problemas estão mesmo no ambiente de trabalho.

De acordo com 63% das mulheres ouvidas pela pesquisa, é nas empresas onde o preconceito mais acontece. Para elas, o maior desafio é ter que provar sua própria competência técnica o tempo todo (82%). Na sequência, aparece a dificuldade em serem respeitadas por pares, superiores e subordinados do gênero masculino (51%). “Essa é uma triste realidade enfrentada por muitas mulheres que decidem abraçar a carreira de tecnologia no Brasil. Precisamos trabalhar para mudar isso, afinal, existe uma grande demanda reprimida por profissionais dessa área”, afirma Paulo Exel, diretor da Yoctoo.

O preconceito também influencia diretamente na ocupação dos cargos de liderança. Segundo uma consultoria de marketing digital desenvolvida pela empresa TWIRI, 27,4% das empresas brasileiras não possuem nenhuma mulher exercendo qualquer cargo de chefia. Além disso, em 32,3% das companhias nacionais, a presença feminina não passa de 10% do total das posições de liderança.

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MULHERES DA TI | Monique Fonseca, engenheira sênior de telecomunicações da TIM - DIVULGAÇÃO/TIM

Para mudar essa realidade, a TIM anunciou, no início de março, a meta de aumentar para 35% a participação de mulheres em cargos de liderança em toda a empresa. Só no conselho de administração, por exemplo, 30% dos assentos já são delas.

“Ter uma representatividade na liderança inspira muito quem está no começo da carreira a enfrentar os desafios e ver que há possibilidade de chegar no topo. Isso é importante para fazer com que mais meninas sigam em frente”, diz a engenheira sênior de telecomunicações Monique Fonseca, que está na gigante de tecnologia há mais de sete anos e hoje trabalha no setor de redes, responsável pela qualidade e sinal do serviços.

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É preciso ampliar as oportunidades voltadas para as meninas. Na área de tecnologia a fala delas está sempre rodeada pelo 'isso não é para mim'", conta Lhaís Rodrigues, que criou o movimento Women Makers para empoderar mulheres - FOTO:ACERVO PESSOAL
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Ter uma representatividade na liderança inspira muito quem está no começo da carreira. Isso é importante para fazer com que mais meninas sigam em frente", opina a engenheira sênior de telecomunicações da TIM, Monique Fonseca - FOTO:DIVULGAÇÃO/TIM
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Por ser um ambiente de incertezas a inovação está no DNA deste tipo de negócio, portanto um ambiente inovador, com boas possibilidades de aprendizado, além de, normalmente, ser um ambiente mais flexível. Essa disposição para mudanças é importante e talvez isso seja algo desafiador para algumas pessoas", pontua, Laís Xavier - FOTO:FOX FALSH STUDIO/ASSEPRO/DIVULGAÇÃO
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MULHERES DA TI | Mercado da tecnologia para mulheres - FOTO:PEXELS

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