SALDO POSITIVO

Na contramão do Brasil, Pernambuco ampliou postos de trabalho na economia criativa em 2020

Diante dos números positivos, especialistas já projetam um 2021 com resultados ainda mais favoráveis para o setor no Estado

Marcelo Aprígio
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Marcelo Aprígio
Publicado em 11/04/2021 às 9:00
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o setor abriu quase 1,5 mil postos de trabalho no Estado, só em 2020, na contramão do Brasil, que terminou o ano com saldo negativo de -523 mil postos - FOTO: LEO MOTTA/ACERVO JC IMAGEM
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Mais do que imaginação, criatividade é negócio, que abre as portas do mercado de trabalho para milhares de pernambucanos. Tanto é que, mesmo em meio à maior crise sanitária da história, com reflexos diretos em indicadores econômicos, o setor abriu quase 1,5 mil postos de trabalho no Estado, só em 2020, na contramão do Brasil, que terminou o ano com saldo negativo de -523 mil postos. Os dados são do Painel de Dados do Observatório Itaú Cultural, que monitora a evolução econômica da indústria criativa no Brasil, e foram divulgados no começo da semana.

Para chegar ao resultado, o Observatório Itaú Cultural leva em consideração funções em diversas áreas que dependem da criatividade para serem desempenhadas, não sendo uniformizadas ou passíveis de serem substituídas por máquinas.

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Se o objetivo do cliente for realçar a decoração, a loja Sobrado 7, espaço de artesanato, conta com esculturas em madeiras de artesãos da Região Nordeste - DIVULGAÇÃO/RIOMAR

Além disso, o levantamento foi feito a partir de diversas fontes oficiais como a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua; a Pesquisa Anual de Serviços; a Pesquisa Industrial Anual, todas do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Também foram aproveitados dados da Relação Anual de Informações Sociais do Ministério da Economia e do Sistema de Informações Contábeis e Fiscais do Setor Público Brasileiro.

Enquanto o País teve uma queda de 6,4%, Pernambuco aumentou o número de empregos no setor em 0,6%. Um incremento pequeno, que, apesar do tamanho, anima o mercado local, que em 2018 já contava com mais de 4,7 mil empresas do ramo. "É um crescimento que parece mínimo, mas muito relevante se considerarmos o momento de crise profunda", afirma Eduardo Saron, diretor do Itaú Cultural, em nota enviada por sua assessoria de imprensa.

“Isso revela sinalizações de que a economia deixou de cortar postos, o que é um alento para todos os trabalhadores do setor”, completa ele, creditando ao setor audiovisual e de tecnologia da informação a responsabilidade por puxar esses dados para cima.

Avaliação parecida também faz Bernardo Peixoto, presidente da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo de Pernambuco (Fecomercio-PE). Segundo ele, a produção de sites, web design, podcasts e vídeos para a promoção dos produtos e serviços nos canais digitais são exemplos de serviços que foram bastante demandados e contribuíram para o aumento do número de vagas. “Acredito que esse leve crescimento se deve aos setores de design e do audiovisual, que tiveram um aumento significativo da demanda durante a pandemia, visto que o digital passou a ter muito mais relevância nesses tempos de distanciamento social”, pontua Bernardo.

 

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TECH Mulheres do setor revelam que, em algum momento da carreira, sentiram dificuldade de serem respeitadas - PEXELS

UM 2021 AINDA MELHOR

Diante dos números positivos, Ana Carla Fonseca, professora do curso de economia criativa e cidades criativas da Fundação Getulio Vargas (FGV), projeta um 2021 com resultados ainda mais favoráveis para o setor. “Nada estava previsto no cenário que se desenhou, mas a agilidade na resposta aos desafios apresentados fez, talvez, a diferença na retomada econômica para esse setor. Por isso, imagino que 2021 será um ano bem melhor do que 2020, pois já aprendemos muitas lições com a pandemia, mas o principal legado é a capacidade de se reinventar e, nesse aspecto, a Economia Criativa tem vantagens inquestionáveis”, afirma ela, ressaltando, porém, que para desenvolver a economia criativa, ideias novas, claro, são fundamentais, mas não bastam.

"Há uma leitura de que brasileiro é criativo e, então, está tudo resolvido. Lógico que não depende só disso. Estamos falando de negócios, e há toda uma carga de preparo que não necessariamente é levada em conta", afirma.

Uma das instituições que tenta suprir essa lacuna no Brasil é o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae). Em 2020, a entidade mapeou oportunidades e ações de fomento à indústria criativa. Como festivais online, premiações e cursos de capacitação gratuitos. O Sebrae também lançou um edital de apoio a projetos de inovação em empreendimentos. Voltado para microempreendedores individuais, microempresas e empresas de pequeno porte, o edital contemplou 21 projetos de inovação, dos segmentos de artesanato, moda, música, audiovisual e games.

“Os editais são muito importantes para impulsionar esse mercado. Não vamos ensinar os profissionais a criar. Ele está com a cabeça nas nuvens, no bom sentido. Nosso papel é ser a linha da pipa, e ajudá-lo na capacitação de gestão, na captação de recursos e na oportunidade de expor seu trabalho”, diz a gestora de Projetos de Economia Criativa do Sebrae em Pernambuco, Verônica Ribeiro.

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Rafaela Mendes, Empreendedora em Economia Criativa e idealizadora da Marca Rafa Q Faz. - ACERVO PESSOAL

Ainda conforme a gestora da instituição, para o projeto foram disponibilizados recursos da ordem de R$ 470 mil só em Pernambuco, com o intuito de estimular empreendedores culturais/criativos a transformarem suas ideias em bens ou serviços economicamente viáveis e sustentáveis, de maneira a alavancar a Economia Criativa no Estado, contribuindo para geração de mais empregos e renda.

Um dos projetos selecionados foi o da empreendedora Rafaela Mendes. No começo da pandemia, em março do ano passado, ela, que é proprietária da marca Rafa Q Faz, se tornou uma das pioneiras na venda de máscaras de tecido. “Estávamos sem chão, como muitos empreendedores, mas decidimos iniciar as vendas das máscaras ainda em março de 2020, mesmo quando ainda não se tinha uma recomendação formal do uso delas. Tivemos que correr contra o tempo, pois foi preciso investir em conhecimento para acelerar nossa presença no mundo digital”, afirma a empreendedora, contando que o apoio do Sebrae Pernambuco foi fundamental nessa fase, que dificultou ainda mais os planos de empreendedores pelo Brasil afora.

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Economia Criativa, produtos da marca Rafa Q Faz. - ACERVO PESSOAL

ESTÍMULO

Se empreender é difícil, ser criativo também não é assim tão simples. As dificuldades do país até ajudam a estimular a capacidade dos brasileiros de inventarem soluções, mas o grande diferencial para formar profissionais criativos é a educação.

"O Brasil está tão preocupado em vencer desafios de uma educação do século 19 que não pensa no século 21", diz Ana Carla Fonseca, da FGV. "Talento criativo será um dos únicos perfis de trabalho que sobreviverá à inteligência artificial."

Por essa razão, ainda nos anos 90, alguns países começaram a atualizar seus currículos para abarcar o conceito, que surgiu na Austrália, em 1994. Apesar de ter nascido na Oceania, foi o Reino Unido, em 1997, o primeiro a entender o seu potencial como estratégia de desenvolvimento e criar políticas específicas para esses setores.

“Esses segmentos ganham agora um papel estratégico, já que, hoje, sai na frente quem consegue migrar da lógica da produção em massa e da concorrência pelo preço baixo para a lógica da diferenciação e da experiência”, conta Bernardo Peixoto, da Fecomercio.

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Estávamos sem chão, como muitos empreendedores, mas decidimos iniciar as vendas das máscaras ainda em março de 2020, mesmo quando ainda não se tinha uma recomendação formal do uso delas", conta Rafaela Mendes, proprietária da marca Rafa Q Faz - FOTO:ACERVO PESSOAL
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Se o objetivo do cliente for realçar a decoração, a loja Sobrado 7, espaço de artesanato, conta com esculturas em madeiras de artesãos da Região Nordeste - FOTO:DIVULGAÇÃO/RIOMAR
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Economia Criativa, produtos da marca Rafa Q Faz. - FOTO:ACERVO PESSOAL
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Profissões do futuro - FOTO:PEXELS
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Para Bernardo Peixoto, presidente da Fecomércio-PE, programa do governo de Pernambuco irá ajudar principalmente micro e pequenos empresários e jovens em busca do primeiro emprego - FOTO:DIVULGAÇÃO
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VOLTA POR CIMA Setores do audiovisual e da tecnologia da informação puxaram retomada na indústria criativa - FOTO:LUIS GOMES/DIVULGAÇÃO

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