Mesmo quem não tem carro, vai ser impactado com os novos reajustes do preço da gasolina e do diesel anunciado pela Petrobras para entrar em vigor nesta terça-feira (26) que ficou em 7% para a gasolina e em 9% para o diesel nas vendas feitas as distribuidoras. E a principal consequência destes reajustes serão percebidos pelo aumento de uma antiga conhecida dos brasileiros: a inflação, uma alta generalizada de preços, que vai chegar ao bolso de todos. "A gasolina compromete 6% do orçamento familiar, enquanto o diesel resulta num comprometimento de 0,20%. No entanto, o diesel sai espalhando a inflação, que é ruim pra todos", explica o economista da Fundação Getúlio Vargas (FGV)- Instituto Brasileiro de Economia (Ibre) - André Braz.
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"O diesel acaba tendo um papel indireto muito grande em todas as cadeias produtivas. É o principal combustível usado pelo transporte rodoviário contaminando o frete, o transporte público urbano, a produção industrial e a geração de energia, já que é o combustível usado por muitas termelétricas, provocando aumento nos preços que vão desde os produtos da feira aos eletrodomésticos", afirma André.
Segundo ele, "a alta dos combustíveis é ruim pra todos, principalmente para as pessoas de baixa renda, que recebem o salário, gastam quase que imediatamente e não têm qualquer proteção". De acordo com as informações do IPCA, nos últimos 12 meses - que acabaram no dia 15 de outubro -, foram registradas as seguintes variações nos preços dos combustíveis: 40,4% na gasolina; 37,6% no diesel; 39,5% no Gás Natural Veicular (GNV) e 57,9% no etanol.
E os constantes aumentos dos combustíveis já alteraram as expectativas da inflação de 2021. "Há alguns meses, a previsão era de que o IPCA ficasse em 8,5% este ano. Agora, está se esperando uma inflação que passe de 10%. A principal consequência disso é que a pessoa gasta a mesma quantidade de dinheiro e compra menos coisas. Há uma perda do poder de compra", comenta o economista e professor do Centro Universitário Tiradentes (Unit) Edgard Leonardo.
Para o presidente da Associação Nordestina de Logística (Anelog), Fernando Trigueiro, o impacto do aumento dos combustíveis é grande em toda a cadeia produtiva do Brasil, porque o transporte rodoviário é responsável por 62% de todos os bens transportado no País. O diesel é usado por caminhões e veículos grandes que transportam cargas.
ESCALADA
Mas por que os combustíveis não param de subir ? Primeiro, o preço do barril de petróleo é fixado de acordo com a produção estabelecida principalmente pela Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) que define o quanto vai ser produzido e isso consequentemente norteia o preço do produto no mercado internacional. Somente como exemplo, o preço do barril de petróleo tipo brent para os contratos futuros chegou a US$ 85,99 na segunda-feira (25), sendo o maior preço alcançado desde outubro de 2018. E a expectativa é de que alcance US$ 90 até o fim do ano. O aumento do preço vem ocorrendo desde o final de 2020 e isso está provocando uma alta da inflação em vários países, incluindo alguns da Europa.
No Brasil, há um outro fator que está deixando os combustíveis mais caros: a valorização do dólar diante do Real. "Além do aumento do preço do barril de petróleo, o Brasil vai precisar de mais reais para comprar a mesma quantidade de petróleo", argumenta Edgard. O preço do dólar (em Real) registrou uma alta de 49% nos últimos dois anos. A valorização do dólar ocorre principalmente por causa da instabilidade política do País.
E, como se não bastasse todos os fatores acima, atualmente o Brasil está comprando mais diesel para ter energia elétrica. O País está passando por uma grande crise energética devido à estiagem na área que abastece os reservatórios das principais hidrelétricas do Sudeste/Centro-Oeste do País. Isso fez o governo federal aumentar a quantidade de termelétricas que estão produzindo energia. É por isso que a conta de luz já subiu, o que incluiu o aumento do preço da bandeira tarifária vermelha para bancar o custo extra da produção da energia termelétrica.
PETROBRAS
Além do cenário internacional, os constantes reajuste dos preço dos combustíveis no Brasil está atrelado a uma política de preços implementada pela Petrobras, que repassa a alta do preço do mercado internacional e a alta do dólar para o consumidor final. Essa política tem sido criticada por secretários da Fazenda que fazem parte de gestões estaduais que fazem oposição ao atual presidente da República, Jair Bolsonaro (sem partido).
"A Petrobras perdeu milhões, quando o preço do petróleo no mercado internacional aumentou e não repassou essa alta para os consumidores. Tem que manter a paridade da alta do petróleo no mercado internacional com o preço de venda no País", defende Edgard. No entanto, ele sugere que as regras poderiam ser mais claras e os reajustes ocorrerem dentro de uma certa periodicidade para os consumidores - incluindo as empresas fazerem as suas planilhas de custo -".
O secretário da Fazenda de Pernambuco, Décio Padilha, defende a implementação de um fundo de equalização de preços, que viria "da parte que a União tem direito aos dividendos trimestrais da Petrobras , ou seja , uma parte dos dividendos que são apurados de três em três meses, seriam destinados a um fundo do qual só seria sacado quando houver necessidade de aumentar os combustíveis por motivo da variação do dólar, da desvalorização do real ou por causa do aumento da cotação do preço do barril de petróleo no mercado internacional". Segundo ele, muitos países adotam este fundo de equalização.
O Brasil também produz petróleo. Antigamente, era muito comum o País fazer estoque regulador de alguns produtos como forma de barrar o preço, quando o mesmo tivesse num momento de alta no mercado internacional. Quando isso ocorresse, o País consumiria o produto armazenado e isso contribuiria para "regular" o preço no mercado interno.
Ou seja, de acordo com alguns especialistas, há alguns mecanismos que poderiam freiar a inflação que o preço do barril de petróleo está provocando no País e o que está faltando mesmo é uma decisão política implementada de uma forma planejada.
E, como não bastasse isso tudo, o presidente da República, Jair Bolsonaro (sem partido) diz que a culpa da alta dos combustíveis é dos governos estaduais, porque cobram alíquotas que variam de 25% a 31% do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) embutido no preço final da gasolina. Na média do País, o ICMS representa 27,6% e 15,9% do preço da gasolina e do diesel. No preço do diesel, a Petrobras fica com 52,4% e a Cide/PIS/Pasep e Confins - que são cobrados pelo governo federal - correspondem a 6,9%. No preço da gasolina, a Petrobras responde por 33,6% dos custos e a Cide/PIS/Pasep e Confins correspondem a 11,5% do preço total do produto. A Petrobras pertence é uma empresa de economia mista e o seu sócio majoritário é o governo do Brasil.
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