Combustível leva mais de 50% do lucro dos motoristas de apps como Uber e 99
Aumento do ganho dos condutores que estaria sendo dado pelas plataformas não tem sido suficiente
Não é novidade, mas é a constatação. Motoristas de aplicativo de transporte individual privado de passageiros, como Uber e 99, estão perdendo mais da metade do que ganham com o gasto de combustíveis para trabalhar. E essa perda deu um salto grande. Em 2020 a proporção era de 20% e, agora, subiu para 53%. Não é à toa que as plataformas têm se mexido e anunciado reposições, enquanto os motoristas parceiros reclamam e duvidam. E, no meio, está o passageiro que sofre com o serviço.
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Os combustíveis veiculares ficaram em média 32% mais caros em 2021, segundo dados da Associação Nacional de Petróleo (ANP). O preço médio do litro da gasolina estava em R$ 4,57 no início do ano, alcançou R$ 6,09 e já chega a R$ 7,16 em alguns pontos do Brasil. Já o etanol custava R$ 3,17 e hoje sai por R$ 4,73. Devido a esse aumento, as plataformas de transporte foram pressionadas a aumentar os valores repassados para os condutores, o que começou de agosto para setembro, escalonadamente, pelo País. Os reajustes variam de 10% a 25% na 99 e de 10% a 35% na Uber, dependendo da demanda, do local e do horário da corrida.
As associações de motoristas de aplicativo do País se uniram em uma só voz para dizer que o reajuste não cobre o impacto dos combustíveis. “Os reajustes divulgados amplamente pelas empresas Uber e 99 não passam de pirotecnia para agradar a imprensa e os usuários. Na prática, o aumento não tem chegado ao motorista, que precisa continuar selecionando as viagens para não ter prejuízo. A Uber prometeu um aumento variável, de 11% a 18%, que na prática, não estabelece regras claras. Inclusive, o aplicativo não informa ao motorista o valor do km e do tempo. Enquanto a 99 informou que foi feito um reajuste de 10%, mas oferta aos passageiros um desconto de 10% na maioria das viagens”, critica Thiago Silva, presidente da Associação dos Motoristas e Motofretistas por Aplicativos de Pernambuco (Amape).
MAIS IMPACTO
Crise para os motoristas de aplicativos, crise para o setor de aluguel de veículos. Segundo dados da Associação Brasileira das Locadoras de Automóveis (ABLA), 30 mil carros de aluguel foram devolvidos pelos motoristas de aplicativo no País em 3 meses. Assim como os combustíveis, o custo dos carros de aluguel subiu em 2021, afastando os motoristas de app já em crise.
MOTORISTAS SÃO MUITOS NO PAÍS
Apesar da crise, os motoristas de aplicativo - agora incluindo os entregadores - são uma importante força na economia brasileira. Estudo do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) aponta que o Brasil tem 1,4 milhão de trabalhadores de aplicativo atualmente, sendo 1,1 milhão de motoristas e 278 mil entregadores. Esses trabalhadores correspondem a 31% do total de 4,4 milhões de pessoas que trabalham no setor de transporte, armazenagem e correio no Brasil.
CONFIRA O ESTDUDO DO IPEA NA ÍNTEGRA
O mesmo estudo, inclusive, revela que os aplicativos já são vistos como emprego real pelos trabalhadores. Menos de 5% dos entrevistados veem os aplicativos como um trabalho secundário. No estudo, o Ipea afirma que os apps formaram uma rede de segurança em tempos de crise econômica. E aponta tendências: “Uma queda inicial do número de trabalhadores no transporte de passageiros, seguida por uma recuperação; e um crescimento em meados de 2020, seguido por uma estabilização ao final de 2020 no setor de transporte de mercadorias”.