O que é estagflação? Você vai começar a ouvir muito este termo no Brasil a partir de agora. Entenda
Brasil vive um momento de baixo crescimento econômico e avanço desenfreado nos preços, o que configura um cenário de estagflação. População pobre é a mais afetada pelos efeitos dessa anomalia econômica
Você sabe o que é estagflação? Apesar do nome difícil, não precisa ser economista para entender minimamente o conceito. Ela ocorre quando os preços estão em forte alta, mas a atividade econômica parece estagnada. Explicando de outro jeito: é quando o PIB (bens e serviços produzidos pelo País) não cresce, enquanto a inflação avança. Os brasileiros sabem o que isso significa na prática: as compras do mercado ficaram mais caras, o gás para cozinhar explodiu o preço, a gasolina e o diesel não param de subir e a conta de energia ficou mais cara. Por outro lado, com a economia sem dinamismo, o desemprego cede pouco e a renda das famílias está ladeira abaixo. Diante da conjuntura, se a situação do País não melhorar, alguns economistas acreditam que o Brasil poderá entrar em estagflação em 2022. Outros são mais otimistas e acreditam que acontecerá uma virada.
A estagflação é conhecida como o pior dos dois mundos: de um lado o País sem crescimento econômico e do outro os preços se reajustando. "Sempre que surge uma crise econômica, as pessoas ficam preocupadas e pesquisando sobre estagflação. Aconteceu em 2008 e 2009 e se repete agora. O momento de hoje leva a pensar nesse cenário, porque para 2022 fala-se em crescimento de 1% ou até menos do que isso e em recessão", observa o professor do Departamento de Economia da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e consultor de empresas, Ecio Costa.
Apesar dos prognósticos, Costa não acredita que a estagflação vai se confirmar. Na avaliação dele, o ano de 2022 terá vários fatores que poderão contribuir para tirar o Brasil da crise. "Teremos o pagamento do Auxílio Brasil, as Eleições 2022 e uma expectativa de crescimento da economia mundial. Além de tudo isso, o Banco Central já está agindo aumentando os juros para segurar a inflação. Não acredito em estagflação, a inflação que estamos enfrentando é transitória, não pelo aumento da demanda, mas pela alta do dólar e outros fatores", observa.
JUROS ALTOS PARA BATER A INFLAÇÃO
O salto da inflação, que já ultrapassou dois dígitos (10,25%) no acumulado dos últimos 12 meses, fez com que o governo brasileiro tomasse providências e promovesse uma rápida escalada dos juros. Na prática, a estratégia de subir os juros é para desestimular o consumo e segurar a inflação. Se a Selic (juros básicos da economia) começou o ano com taxa de 2%, ela foi aumentando paulatinamente, chegando a 6,65% em setembro e batendo 7,75% em outubro, com tendência de manter o viés de alta.
Para o professor de finanças do Centro de Ciências e Tecnologia (CCT) da Universidade Presbiteriana Mackenzie Campinas (UPM), José Matias Filho, ainda faltam alguns elementos para a estagflação se instalar no País que vão além da alta na inflação e na taxa de desemprego. "A estagflação é caracterizada também por recessão econômica, ou seja, diminuição do PIB, o que não está acontecendo aqui no Brasil. Eu não vejo essa possibilidade no curto prazo, além de não estarmos também em um processo de expansão de crédito descontrolado", afirma. No ano passado, o PIB brasileiro registrou queda de 4,1% e a expectativa para 2021 é de crescimento de 4,97%, segundo o último Boletim Focus, do Banco Central. Para 2022, a projeção de avanço do PIB é de 1,5%.
Já a professora Leila Pellegrino, também do CCT, considera que o cenário para o Brasil não é bom, podendo ocorrer a estagflação. Além do baixo crescimento, da inflação e do desemprego, ela aponta a instabilidade política como mais uma causa de vulnerabilidade no País e em suas relações de confiança. "Isso agrava a situação do câmbio, o que faz com que a inflação se agrave mais. A instabilidade pode comprometer as decisões de investimento, o que também pode significar uma retomada mais lenta da atividade econômica no Brasil", alerta.
No mundo, alguns especialistas dizem que começam a surgir preocupações com um quadro de estagflação em países ricos. O choque no custo da energia global, com a alta na cotação do petróleo, e os desajustes na cadeia produtiva mundial provocados pela pandemia estão aumentando as expectativas de inflação em vários países, ao mesmo tempo em que há uma redução nas estimativas de crescimento econômico.
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