"Do suor descer": na alta temporada, Aeroporto do Recife deixa passageiros no calor com falta de ar-condicionado
Investimento de R$ 120 milhões, incluindo renovação da climatização, consta da primeira fase de melhorias feitas pela empresa espanhola Aena
Com o Recife num mês em que, em média, as temperaturas batem facilmente os 30 graus diariamente, turistas e tantas outras pessoas que entram ou saem da capital pernambucana pela principal porta, o Aeroporto Internacional do Recife Guararapes - Gilberto Freyre, têm sentido na pele o calor. A culpa, no entanto, não é só da alta temperatura, mas também da administração privada do terminal, já que a espanhola Aena tem enfrentado problemas para manter a refrigeração, dos guichês até a sala de embarque, segundo relatos.
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Sob a gestão da empresa espanhola, o terminal recifense ainda padece de investimentos mais robustos. A movimentação de passageiros cresce após o hiato provocado pelo período mais grave da pandemia da covid-19, mas as melhorias no aeroporto, seguindo o calendário de investimentos, ainda são tímidas. A falta de refrigeração adequada é um dos problemas que expõem essa disparidade, conforme relatam usuários do terminal.
"Eles (administradora) desligaram todos os ares-condicionados do aeroporto faz um tempo já. Estamos trabalhando em condições insalubres. Parece que estamos em uma sauna. Todos os passageiros, sem exceção, reclamam do calor, dos guichês até a sala de embarque. Tem gente que sofre de hipertiroidismo e está trabalhando nessas condições. É um problema que já vem há alguns meses e, exatamente nesse período é feita a promessa de resolver algo e nunca se resolveu nada", reclama o funcionário de uma empresa aérea que preferiu não se identificar.
A esteticista Kelly Adolfo, 39 anos, esteve no terminal nesta segunda-feira (8), para esperar a chegada de um voo. "Está muito quente. Poderia intensificar o ar-condicionado. A temperatura lá fora está muito alta e aqui estamos sentindo o calor. Poderia estar mais agradável. Aqui em cima (2º piso) dá para se notar bem o mesmo calor sentido lá fora. Deveria aumentar a potência, porque eu estou suando", reclama, ao tocar a testa. Hoje, no terminal, o piso térreo era o que contava com um clima mais ameno para os frequentadores. Situação que piorava à medida em que se chegava ao primeiro e ao segundo piso.
Longe dos guichês das companhias, mas sob as mesmas reclamações, a gerente de um estabelecimento que funciona no terminal, que também não quis se identificar, tem vivido a mesma situação. "Realmente está muito quente. Tem dias que está do suor descer, mesmo. Há cerca de duas semanas temos sentido isso. Os clientes que querem acessar as máquinas sempre reclamam e perguntam o que está acontecendo com o ar-condicionado do aeroporto, a gente sempre fala que deve estar em manutenção, mas na verdade não sabemos", diz ela.
Embora a empresa para a qual trabalha não tenha notificado oficialmente a Aena em busca de resposta para o problema, ela diz que a administradora não tem dado nenhum esclarecimento aos passageiros e trabalhadores, que têm sofrido com a falta de refrigeração durante todo o dia. "Trabalho das 7h às 16h, é o dia inteiro assim. À noite é do mesmo jeito", comenta.
Desde a privatização, em março de 2020, a Aena concluiu a primeira fase (1A) de melhorias requeridas pela Anac, após revisão das datas pactuadas em função da pandemia. Nessa fase, foram aportados R$ 120 milhões, garantindo a renovação dos banheiros, dos sistemas de iluminação, sinalização, reparos nos telhados, fachadas, revitalização ou substituição de pisos, além da própria climatização (que agora é alvo de críticas), de acordo com a própria empresa.
A segunda etapa de investimento (1B) deve ter os trabalhos iniciados ainda só em 2022, com entrega prevista para um ano depois, em 2023. Nessa fase são esperadas a ampliação do terminal, mais pontes de embarque, aumento da capacidade operacional, adequação de segurança operacional, incremento das áreas de pista, táxi e pátio de voo, com crescimento da quantidade de posições de estacionamento de aeronaves. Também estão previstas adequações do número de equipamentos de check-in, sistema de inspeção de bagagens, balcões aduaneiros e de imigração, bem como espaço comercial, podendo receber um maior número de lojas e restaurantes.
O montante a ser investido especificamente nesta fase ainda é indefinido, mas segundo os Estudos de Viabilidade Técnica, Econômica e Ambiental (EVTEAs) realizados pelo Ministério da Infraestrutura, a estimativa é de que nos primeiros cinco anos de vigência sejam investidos R$ 1,47 bilhão nos três blocos de aeroportos leiloados, já com correção inflacionária, o que inclui o bloco no qual está inserido o terminal da capital pernambucana, que conta também com Juazeiro do Norte (CE), João Pessoa (PB), Campina Grande (PB), Aracaju (SE) e Maceió (AL).
A despeito das previsões de investimentos, neste mês de novembro, o Aeroporto do Recife, entre pousos e decolagens, deverá receber 5.917 voos, o que o leva a, dentro do cenário de pandemia, ter um crescimento real de 4,34%, superando os números registrados no mês de novembro de 2019.
Mas a situação econômica não tem sido das melhores para a Aena desde quando, no começo de 2020, assumiu por meio de concessão a administração dos terminais. O do Recife teve um volume de 8,6 milhões de passageiros em 2019; no ano passado, o número caiu para 4,7 milhões, ou seja, quase a metade. O prejuízo líquido da Aena Brasil em 2020 foi de R$ 330,4 milhões.
Desde maio deste ano, a companhia também reajustou a precificação das tarifas de conexão (doméstica e internacional), pouso e permanência do terminal. A tarifa de Embarque Doméstico no Recife, por exemplo, que se transforma em receita para a Aena, passou a ser de R$ 38,33, enquanto a Internacional passou a ser de R$ 67,87. O valor das tarifas reflete as avaliações de quesitos, como a climatização, feitas pela Anac.
Levando-se em conta a prévia da inflação do último mês de outubro, o Recife se consolidou ainda como a capital do País com a maior variação no preço das passagens aéreas no acumulado do ano. De acordo com os dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a capital pernambucana apresentou uma variação de 27,12% no período. O número está bem à frente das demais cidades, inclusive acima da média nacional (13,26%).
Anac e Aena
Questionada sobre o problema da climatização, a Anac, responsável pela regulação dos serviços prestados pela administradora privada, diz que a regulação de qualidade de serviços de aeroportos abrange Indicadores de Qualidade de Serviço (IQS), cujo resultado final gera o cálculo do Fator Q, que tem efeitos nas tarifas aeroportuárias da concessionária.
Especificamente sobre o aspecto da refrigeração, a Anac diz que o Aeroporto de Recife tem IQS 'conforto térmico', que é integrante da Pesquisa de Satisfação de Passageiros, atingindo o" padrão requerido" até o último período avaliado - não especificado pela agência.
"Eventuais demandas acerca do tema são tratadas e fiscalizadas conforme os termos do contrato de concessão", reforça a Anac. Adicionalmente, a agência diz que a concessão se encontra atualmente na Fase 1B, "que tem por objetivo a ampliação e adequação da infraestrutura aeroportuária. E a concessionária deve realizar melhorias no aeroporto até junho de 2023".
Já a Aena, por sua vez, afirmou que "o sistema de climatização do Aeroporto do Recife está em funcionamento e nunca esteve desativado". Além disso, a operadora disse que, nesta segunda-feira (8), a Central de Água Gelada (CAG) do terminal esteve em manutenção corretiva e a expectativa é que as instalações voltem a pleno funcionamento até o fim do dia. Ainda segundo a Aena, foram instalados 260 novos aparelhos de climatização, na primeira fase de melhorias no terminal. Leia nota completa:
A Aena Brasil esclarece que o sistema de climatização do Aeroporto do Recife está em funcionamento e nunca esteve desativado. Nesta segunda-feira (8), a Central de Água Gelada (CAG) do terminal esteve em manutenção corretiva e a expectativa é que as instalações voltem a pleno funcionamento até o fim do dia. Além disso, a concessionária reforça que, para suprir a demanda do terminal, especialmente com a retomada das atividades do setor e a chegada da temporada em que a sensação térmica eleva-se, foram instalados 260 novos aparelhos de climatização, na primeira fase de melhorias no terminal.
Rotineiramente, funcionários do aeroporto fazem medições de temperatura que são enviadas à Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) em relatórios de controle de qualidade, comprovando que o terminal segue as exigências de temperatura feitas pelo órgão regulador.
A Aena Brasil está sempre trabalhando para melhorar a experiência de passageiros, usuários e lojistas. Na próxima fase de investimentos no aeroporto, com obras marcadas para começar no início de 2022, a ampliação do terminal vai trazer mais espaço para todas as áreas, aumentando o bem-estar, as acomodações e a sensação de conforto térmico.