O que o dólar tem a ver com o pão francês que você come no café da manhã, com a gasolina que coloca no seu carro, com a carne que prepara para o almoço e com o celular novo que sonha em comprar? Se o dinheiro norte-americano nem é a nossa moeda, por que interfere tanto na economia brasileira? Basta acompanhar o noticiário para ouvir que o dólar foi o grande responsável pela inflação de produtos e serviços. Não bastasse a interferência que tem na economia, nos últimos 5 anos, o real registrou desvalorização recorde diante do dólar.
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Apesar de o Brasil ter um agronegócio de perfil internacional, um parque industrial diversificado e um setor de serviços diverso; nenhum país é autossuficiente e vive isolado. A globalização aumentou as trocas mundiais e a dependência entre as nações. Várias regiões no globo se especializaram em algumas indústrias. É o exemplo da China e da Índia na produção de insumos para a fabricação de medicamentos. A pandemia da covid-19 escancarou essa realidade para o mundo, com a disputa da matéria-prima para a produção de vacinas, por exemplo. E esses insumos são negociados em dólar. Por isso, quando se falava no valor da dose da vacina, o preço era dolarizado.
Presidente da Búzios Consultoria, o economista Rafael Ramos explica como a alta do dólar pode interferir de forma direta e indireta na economia. "O dólar pode interferir nas relação de preço atuando no aumento do custo de importação de matéria-prima, maquinários e até mesmo na compra do produto final importado. Assim como ele pode gerar incentivos para que o produtor nacional direcione a sua produção para fora, visto que o dólar alto trará maiores ganhos, também pode desabastecer o mercado interno e causar pressão de preços", observa.
PÃOZINHO
Uma das maneiras de entender a influência do dólar na economia é o exemplo do prosaico pão francês, indispensável na mesa dos brasileiros. A disparada do dólar pressiona o preço do trigo, usado na produção não só do pão francês, mas de outros pães, bolos, biscoitos, macarrão e demais alimentos fabricados com farinha de trigo. O Brasil consome cerca de 12 milhões de toneladas de trigo por ano, segundo a Associação Brasileira das Indústrias de Biscoitos, Massas Alimentícias e Pães e Bolos Industrializados (Abimapi). Metade desse trigo é produzida no mercado interno e a outra metade é importada, principalmente da Argentina. Como o trigo é considerado uma commodity (matéria-prima), sua cotação é definida no mercado internacional, em dólar. Se o dólar sobe, o preço do trigo sobe junto.
Ramos diz que o exemplo do trigo ajuda a explicar a alta no preço do carro e de eletroeletrônicos, dependente de peças e componentes importados. Já no caso da gasolina, que o brasileiro vem sentindo fortemente no bolso, a política de preços da Petrobras atrela o valor dos combustíveis ao preço do barril do petróleo (dolarizado) e demais insumos internacionais. Isso fez com que a estatal reajustasse o valor do combustível, que em Pernambuco ultrapassou a casa dos R$ 7,00.
"No caso da carne, é diferente. A interferência se dá de forma indireta, visto que o aumento do dólar gera incentivo de vender fora, ou seja, desabastece o mercado local e cria pressão de preço por causa da redução da oferta", destaca.
A pressão sobre os preços se agrava quando o real se desvaloriza diante do dólar. No caso do turismo internacional, essa desvalorização é fortemente percebida, porque a moeda perde valor de compra no exterior. Segundo dados do Banco Central, a última vez que a moeda brasileira se valorizou sobre a norte-americana foi em 2016. De lá para cá, foi só desvalorização, ano a ano, com pior resultado em 2020, no primeiro ano da covid-19.
VALORIZAÇÃO DO DÓLAR DIANTE DO REAL
ANO - VARIAÇÃO %
2016 - (-17,69)
2017 - 1,99
2018 - 16,92
2019 - 3,50
2020 - 29,36
2021 - 7,47
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