Saneamento: com Recife e Jaboatão entre os piores do País, Pernambuco pode perder R$ 28 bi e abrir mão de 23 mil empregos

Para garantir universalização dos serviços de saneamento, Estado tem demanda de R$ 21,2 bilhões a serem investidos nos próximos 35 anos
Lucas Moraes
Publicado em 06/07/2022 às 22:02
Rio Tejipió cheio na manhã desta terça-feira (7) Foto: BRUNO CAMPOS/JC IMAGEM


Nas últimas chuvas que atingiram fortemente Pernambuco, para além do volume de água, chamou atenção nas ruas a quantidade de lixo, extravasado pelos rios e canais que cortam a cidade. Em outros pontos, mesmo após a estiada, os problemas se acumulavam em ruas sem asfalto que juntavam lama, água da chuva e esgoto - sem ter para onde escoar.

O problema é recorrente. Os gestores cobraram intensamente a conscientização da população. Mas, do outro lado da bancada, há ainda uma demanda enorme que também precisa ser evidenciada e que, sem os investimentos necessários para universalização do saneamento fazem com que haja uma perda grande social e econômica, deixando para trás a geração de novos 23 mil novos empregos e ganhos de R$ 28 bilhões, segundo o Trata Brasil. 

Em Pernambuco, uma das questões que conduzem facilmente à explicação dos problemas vistos há poucos dias de forma potencializada pela chuvarada é que os recursos hídricos do Estado (rios, riachos, lagoas, canais) recebem uma carga de 195,7 bilhões de litros por ano de água poluída, apenas de esgoto residencial não tratado. 

O número estrambólico equivale a cerca de 78,3 mil piscinas olímpicas de poluição por ano ou 214,4 piscinas olímpicas de poluição por dia. E esse "mar" de poluição é reflexo de outro ponto que depende mais do poder público do que da população: 56% dos moradores do Recife não têm acesso aos serviços de coleta de esgoto.

Ou seja, 925,8 mil habitantes são impedidos de fazer a destinação correta das mais diversas águas poluídas pelas atividades cotidianas. 

Guga Matos/JC Imagem - Alagamentos e falta de saneamento nas comunidades do Suvaco da Cobra em Barra de Jangada, Jaboatão dos Guararapes e problemas também na Comunidade do Pilar.

Os dados são alguns dos muitos elencados pelo Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento (SNIS), de 2020, mas agora são relembrados porque, num estudo regional do Trata Brasil, a falta de investimento para universalização do saneamento básico pode fazer com o Estado deixe de gerar 23 mil postos de trabalho. 

"Os indicadores de saneamento de todo o Estado são desafiadores. A Região Metropolitana de Recife passa por uma mudança aos poucos com a PPP de saneamento assinada em 2013 (entre a Compesa e a BRK). No entanto, o restante do Estado ainda tem muito com o que avançar em termos de acesso à água e esgotamento sanitário", diz a presidente-executiva do Instituto Trata Brasil, Luana Siewert Pretto. 

Para se chegar à universalização, o estudo aponta a necessidade de investimentos de R$ 21,2 bilhões nos próximos 35 anos; recursos capazes de incorporar quase 2,4 milhões de pessoas no sistema de distribuição de água tratada e cerca de 6,4 milhões de pessoas no sistema de coleta de esgoto.

Com a universalização do saneamento até 2040, Pernambuco teria ganhos líquidos, ou seja, já descontados os investimentos necessários, de R$ 18 bilhões e de R$ 27,9 bilhões até 2055 - valores que podem ser perdidos sem os avanços necessários. 

O prazo de 2021 a 2040 é o tempo definido pelo novo marco regulatório do saneamento para alcança da meta de universalização. Quando avaliado o prazo alongado até 2055, leva-se em conta a extensão temporal usualmente empregada em contratos de concessão ou subconcessão na área de saneamento. 

O Recife e Jaboatão dos Guararapes figuram entre as 100 piores cidades no que diz respeito ao saneamento no País, ocupando, respectivamente, as 83ª e 88ª posições. 

A situação do saneamento básico nos 15 maiores municípios do Estado, numa população estimada em 9,6 milhões em 2020, 1,8 milhão de pessoas ainda moravam em residências sem acesso à água tratada.

No caso do acesso à coleta de esgoto o número foi ainda maior 6,6 milhões de habitantes moravam em residências sem coleta de esgoto.

Dos 9,6 milhões de habitantes espalhados em 185 municípios, 80,7% da população é atendida com abastecimento de água, enquanto somente 30,4% possuem coleta de esgoto em suas residências.

Além disso, o Estado perde quase 50% de água potável na distribuição, ou seja, de 100 litros produzidos, 50% não chegam à casa dos moradores devido aos vazamentos, erros de leitura dos hidrômetros e furtos.

Sem acesso à água tratada, a falta de saneamento deixa parte da população ainda mais exposta a doenças. A pandemia da covid-19 deixou clara a necessidade da higienização constantes para evitar a propagação do coronavírus. 

Onde dá para melhorar com mais saneamento em Pernambuco?

E o estudo deixa claro: só na saúde, por exemplo, a universalização traria uma redução de custos que deverá gerar a R$ 2,6 bilhões na economia das cidades do Estado.

A economia total com a melhoria das condições de saúde da população do Estado, pela chegada do saneamento, entre 2021 e 2055, deve ser de R$ 136,3 milhões ao ano ou de R$ 4,8 bilhões no período.

Gente saudável, com acesso a condições básicas de saneamento, consegue faltar menos no trabalho, ou seja, ser mais produtivo e, por conseguinte, gerar mais renda - evitando também gastos relacionados às questões de saneamento. 

A valor presente, o aumento de renda do trabalho com a expansão do saneamento entre 2021 e 2055 será de R$ 107,4 milhões ao ano ou de R$ 3,8 bilhões no período.

Guga Matos/JC Imagem - Alagamentos e falta de saneamento nas comunidades do Suvaco da Cobra em Barra de Jangada, Jaboatão dos Guararapes e problemas também na Comunidade do Pilar.

A melhoria nas condições do acesso à água e esgotamento sanitário também são capazes de fazer com que os proprietários de imóveis que alugam ou que vivem em moradia própria valorizem os imóveis tenham ganhos de R$ 146,7 milhões por ano no conjunto do Estado, o que totalizará um ganho a valor presente de R$ 5,1 bilhões entre 2021 e 2055. 

No turismo, o saneamento é capaz de atrair R$ 261,4 milhões ao ano ou  R$ 9,1 bilhões no período até 2055. 

"Os ganhos apresentados no estudo em longo prazo são expressivos. Além disso, o Estado possui grande potencial turístico, que poderia ser ainda mais explorado com avanços no saneamento, o investimento correto no setor geraria mudanças históricas em Pernambuco”, garante Siewert Pretto.

Entre 2021 e 2055, o incremento de renda nas operações de saneamento deve alcançar cerca de R$ 1,3 bilhão em Pernambuco e o aumento de despesas das famílias com essas operações deve somar R$ 1 bilhão. 

O que é investido em saneamento em Pernambuco?

Desde 2013, a Compesa mantém o Programa Cidade Saneada, Parceria Público-Privada (PPP) firmada para a prestação dos serviços de esgotamento sanitário da Região Metropolitana do Recife e Goiana.

Até então há um total de 57 Estações de Tratamento em operação, além de 1.800 quilômetros de redes em funcionamento. O que garante, mensalmente, o tratamento de cerca de 4 milhões de m³ de esgoto. Segundo a Compesa, houve uma elevação do total da população do Grande Recife com esgotamento sanitário: para 38%.

O programa tem um investimento total de R$ 6,7 bilhões; e até 2021, foram investidos pouco mais de R$ 2 bilhões.

A estatal de saneamento mantém atualmente cerca de 300 obras, de abastecimento e esgotamento sanitário em andamento em todas as regiões do Estado e, para 2022, já dentro da previsão de investimentos para cumprimento da meta inicial do marco regulatório, serão aplicados R$ 1,3 bilhão, segundo planejamento da Compesa. 

TAGS
Economia saneamento investimentos
Veja também
últimas
Mais Lidas
Webstory