Em um cenário de inflação ainda pressionada e crédito mais caro, o comércio varejista registrou perdas em julho. O volume vendido caiu 0,8% ante junho, o terceiro mês consecutivo de quedas, segundo dados da Pesquisa Mensal de Comércio, divulgados na quarta-feira (14) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Na comparação com julho de 2021, a queda foi de 5,2%.
O resultado ficou aquém das estimativas de analistas ouvidos pelo Estadão/Broadcast, que esperavam alta de 0,2%. O dado negativo contrasta com o avanço de 1,1% do setor de serviços no período, indicando um período de ajustes na economia, avaliou o sócio e economista-chefe do Banco Modal, Felipe Sichel.
"O nível de incertezas, sejam domésticas, sejam externas, aumentou consideravelmente", acrescentou Sichel, que prevê desaceleração da atividade econômica no quarto trimestre, provocada pelo aumento da taxa de juros. "Já estará impactado por um quadro de política monetária restritiva", disse o economista.
O resultado negativo não alterou a previsão do C6 Bank de um crescimento de 2,3% para o Produto Interno Bruto (PIB) este ano. A expectativa é de desaceleração da atividade econômica no segundo semestre, "mas o pagamento de benefícios sociais mais altos e o aumento da massa salarial podem atenuar um pouco essa desaceleração para o segmento do varejo", previu a economista Claudia Moreno, em nota.
No varejo, houve perdas disseminadas entre as atividades pesquisadas. Segundo Cristiano Santos, gerente da pesquisa do IBGE, "o aumento de preços influencia a decisão de consumo das famílias".
O IBGE informou que a inflação impactou negativamente em julho alimentação no domicílio, mobiliário, eletrodomésticos e equipamentos, vestuário, produtos farmacêuticos, automóvel novo e material de construção. Na direção oposta, houve redução nos preços dos combustíveis após o corte de tributos. Com isso, o volume vendido de combustíveis e lubrificantes cresceu 12,2% em julho.
"Chama atenção que as vendas dos setores sensíveis a crédito, como móveis, veículos e materiais de construção, caíram mais do que a dos sensíveis a renda. No mês, o recuo das categorias sensíveis a crédito foi de 2,5%, enquanto nos sensíveis a renda a retração foi de 0,7%. Esse comportamento mostra como os juros altos começam a impactar o consumo", frisou Claudia Moreno, do C6 Bank.
Após três meses de quedas acumuladas, de maio a julho, o volume vendido pelo varejo está 2,7% abaixo do nível alcançado em abril
O volume de vendas do varejo chegou a julho em nível 0,5% acima do nível de fevereiro de 2020, no período pré-pandemia. Poucos segmentos estão acima do patamar pré-crise sanitária. É o caso de artigos farmacêuticos (20,7%) e combustíveis (11,3%).