Sujando nome da mulher

Por que as mulheres também contrataram mais dívidas do que os homens?
Fernando Castilho
Publicado em 11/10/2022 às 3:00
No Brasil, 47,5% das mulheres eram pouco ativas em 2019. Já os homens apresentaram uma taxa de 32,1% Foto: FELIPE RIBEIRO/JC IMAGEM


A nova pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor da CNC revela que o endividamento avançou entre as mulheres, de agosto para setembro ( 0,9 p.p.), enquanto caiu ligeiramente entre os homens (-0,1 p.p.).

No intervalo de um ano, as mulheres também contrataram mais dívidas do que os homens ( 5,9 p.p. e 5,1 p.p., respectivamente), principalmente no cartão de crédito e no cheque especial, as duas modalidades em que houve crescimento da proporção de mulheres endividadas.

Não faz sentido. O número de mulheres trabalhando, segundo a RAIS, no item Empregos Formais por Sexo e Proporção de Mulheres (2010/2020) indica que elas têm 43,6% dos empregos com carteira assinada. Além do fato de que tradicionalmente as mulheres são muito melhor pagadoras que os homens. Além disso, no Cadastro Positivo, do total de pessoas impactadas, 11,8 milhões são mulheres e 10,3 milhões de homens.

Então, por que as mulheres também contrataram mais dívidas do que os homens?

A explicação está no fato de que depois de entrarem na lista de devedores do SPC Brasil e do Serasa as mulheres emprestam seus nome e CPF para novas compras a crédito e quando eles não pagam também as novas dívidas, elas entram na lista negra.

Segundo a CNC, a melhora progressiva do mercado de trabalho, as políticas de transferência de renda mais robustas e a queda da inflação geral nos últimos meses refletem-se positivamente na renda disponível. Mas o orçamento das famílias de menor renda segue apertado com nível de endividamento alto, bem como os juros elevados, que pioram as despesas financeiras associadas às dívidas em andamento.

E é aí que entra o endividamento com o grande vilão do crédito no Brasil. E novamente a questão do gênero entra no debate. Cartões de crédito, carnês de loja e cheque especial foram os tipos de dívida que mais cresceram em um ano ( 1 p.p., 0,6 p.p., 0,6 p.p., nesta ordem). E, novamente, as mulheres são as mais endividadas no cartão de crédito e no cheque especial.

O fenômeno de emprestar o nome para compras da família, cujo líder está com restrições, se repete nos cartões de crédito. Hoje, segundo a pesquisa da CNC, os devedores de cartões são 85,6%, embora os débitos se repitam em Carnês (19,4%), financiamento de carros (9,6%) e depois o crédito pessoal (em bancos) que chega a 9,1%. O débito com o financiamento completa o Top Five de maiores devedores do Brasil com apenas 7, 9%. E, em muitos casos, o devedor está pendurado em todos os cinco.

A Pesquisa Nacional de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic) é apurada mensalmente pela Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC) desde janeiro de 2010. Os dados são coletados em todas as capitais dos Estados e no Distrito Federal, com aproximadamente 18 mil consumidores.

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