O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central reduziu nesta quarta-feira, 20, pela sexta vez seguida, a taxa básica de juros (Selic) em 0,50 ponto porcentual, desta vez de 11,25% para 10,75% ao ano. A mudança de tom veio no comunicado divulgado depois da reunião do colegiado, que abriu caminho para uma troca no ritmo dos novos cortes.
No texto, o Copom afirma que, "em função da elevação da incerteza e da consequente necessidade de maior flexibilidade na condução da política monetária", antevê redução "de mesma magnitude (ou seja, 0,5 ponto)" apenas "na próxima reunião" - e não mais "nas próximas reuniões", no plural, como apareceu nos comunicados anteriores. O próximo encontro do comitê está marcado para 7 e 8 de maio.
"O comitê avalia que essa é a condução apropriada para manter a política monetária contracionista necessária para o processo desinflacionário", diz o texto. Como mostrou o Estadão/Broadcast (sistema de notícias em tempo real do Grupo Estado), a mudança de tom já era esperada por parte dos analistas de mercado, em função dos indicadores mostrando que a atividade econômica está mais forte do que o previsto inicialmente, com eventuais impactos para a inflação.
Esta quarta foi também de decisão nos Estados Unidos, completando a chamada "Superquarta" dos juros - como o mercado se refere às reuniões do Copom e do Federal Reserve (Fed, o banco central americano) no mesmo dia. Só que, nos EUA, o resultado foi diferente. Os integrantes do Fed não só decidiram manter as taxas entre 5,25% e 5,50% ao ano, como não deram pistas sobre quando devem iniciar um ciclo de queda dos juros (mais informações na pág. B2).
'Contracionista'
Segundo o comunicado do Copom, "a conjuntura atual, caracterizada por um estágio do processo desinflacionário que tende a ser mais lento, expectativas de inflação com reancoragem apenas parcial e um cenário global desafiador, demanda serenidade e moderação na condução da política monetária". A seguir, fala em reforçar "a necessidade de perseverar com uma política monetária contracionista até que se consolide não apenas o processo de desinflação, como também a ancoragem das expectativas em torno de suas metas".
A XP Investimentos manteve a projeção de Selic de 9% no fim do atual ciclo de corte, patamar que seria alcançado no segundo semestre, mas avalia que há agora um viés de alta para essa estimativa após a alteração no chamado "forward guidance" (sinalização) do Copom. "Patamares maiores que 9% parecem ter probabilidade maior que patamares abaixo de 9%", disse o economista da corretora Rodolfo Margato. Para ele, a retirada do plural em "próximas reuniões" se deve à opção dos membros do colegiado de ter maior grau de liberdade e de flexibilidade na condução da política monetária.
Já a Nova Futura Investimentos alterou suas projeções para Selic neste e no próximo ano após a mudança na comunicação feita pelo Copom. A corretora mudou de 9,0% para 9,5% a estimativa de taxa final em 2024, com mais uma queda de 0,50 ponto porcentual em maio e três seguidas de 0,25 ponto. Depois, para 2025, a casa vê juro a 8,5%, ante 8% antes.
"Acreditamos que, diante da piora na qualidade dos IPCAs recentes, da resiliência da atividade e da força do mercado de trabalho, além de um cenário global mais adverso, a opção do comitê de buscar maiores graus de liberdade é condizente com a evolução do cenário desde a última reunião", disse o economista-chefe da Nova Futura, Nicolas Borsoi, em nota.
Para a Capital Economics, o BC deve reduzir o ritmo de queda da taxa em breve, provavelmente no encontro de junho. "Outro corte de 0,50 ponto no próximo encontro do Copom, para 10,25%, parece altamente provável. A mudança no 'forward guidance' não exclui outro corte de 0,50 ponto na reunião subsequente, em junho. Mas, com a força do mercado de trabalho provavelmente mantendo a inflação de serviços elevada, acreditamos que o Copom vai se inclinar para cortes de 0,25 ponto até lá", afirma a consultoria