Futebol Pernambucano

Com paralisação pela covid-19, clubes do interior de PE buscam ajuda nesta crise

Dificuldade financeira para manter elenco em dia e saber da possibilidade de retorno do Campeonato Pernambucano são algumas das preocupações externadas pelos times

Lucas Holanda
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Lucas Holanda
Publicado em 19/04/2020 às 9:04
Bobby Fabisak/JC Imagem
Salgueiro (foto) e o Afogados estão no mesmo grupo. - FOTO: Bobby Fabisak/JC Imagem

O Campeonato Pernambucano foi paralisado no dia 16 de março. De lá para cá, neste período de pouco mais de um mês, os clubes do interior são os mais afetados pela situação causada pela pandemia do novo coronavírus no estado. Sem outras fontes de receita, eles foram enxugando as despesas ao máximo. Alguns dependem de patrocínios de prefeituras e estão sem receber, outros possuem receitas variadas, mas estão também bastante preocupados.

Afogados, Central e Salgueiro, por estarem classificados para a Série D desta temporada, receberam R$ 120 mil da CBF, o que ajudou a quitar a folha salarial do clube no momento. Porém, os demais seguem sem uma ajuda maior por parte da entidade máxima do futebol brasileiro. Contaram apenas com um aporte da Federação Pernambucana de Futebol, mas um valor que não foi suficiente para cobrir os custos. A reportagem do Jornal do Commercio entrevistou representantes de seis dos sete times para entender a situação de cada um deles e neste primeiro mês de paralisação. Até o fechamento desta matéria, não foi possível o contato com um representante do Retrô.

Afogados da Ingazeira

A Coruja do Sertão, apesar das dificuldades, está bem encaminhada financeiramente. Com o auxílio recebido, adiantou a folha de abril para o elenco está com tudo quitado. Como boa parte dos atletas terá o contrato encerrado no dia 30 deste mês, o clube passará a não ter maiores obrigações caso a paralisação siga por mais tempo. Contudo, há o contraponto de querer manter suas peças. Mas não dá para renovar sem uma definição.

“A situação encontra-se a mesma, com tudo parado. Não sei o que fazer. Pedi uma informação a Murilo Falcão, diretor de competições da Federação, porque os contratos do Afogados terminam dia 30 e não posso prorrogar esses contratos sem saber quando vai ter jogo, e não vou poder ficar pagando jogador. Quando você prorroga, você tem que arcar com os salários. Eu não posso. Conversei com ele sobre o que poderia ser feito e ele disse que iria ter uma reunião com o Sindicato dos Atletas e estamos no aguardo. Ele disse que, até semana que vem, teremos uma resposta de como vai ficar essa situação”, explicou o presidente do Afogados, João Nogueira.

Central

Também com a ajuda da CBF, a Patativa tem mantido sua folha em dia. Também vem conversando com patrocinadores e para acertar um denominador comum neste período, em que todos possam amenizar os prejuízos e o Alvinegro possa manter uma renda durante esta pausa. O presidente do clube, Alexandre César, também aproveitou para pedir uma revisão do calendário do futebol brasileiro, já que o Estadual tem sido uma competição que não dá lucro para os clubes.

“Participamos do Campeonato Pernambucano agora, um campeonato que nos deu prejuízo em vários aspectos. O nosso time não emplacou, a torcida não chegou junto, perdemos datas. O calendário foi feito sob medida para que os clubes do interior tivessem dificuldades. Não que tenha sido feito propositalmente. A gente sabe da competência e do caráter do Murilo (Falcão) e do presidente Evandro (Carvalho), mas o calendário beneficiou os clubes que tinham outros calendários, outras competições, em detrimento aos clubes que não tinham. Nós recebemos uma ajuda da Federação Pernambucana, mas quando desconta transferências, taxas e inscrição, não fica nada. Então nós literalmente pagamos para trabalhar. Eu acredito que tem que rever toda a estrutura do futebol brasileiro”, afirmou o mandatário.

Decisão

O time de Bonito vem em situação complicada. Logo que foi determinada a paralisação, o presidente se reuniu com a comissão técnica e jogadores e deixou claro que não havia dinheiro e, consequentemente, não teria como pagá-los. Assim, acertou com as partes que ficariam sem salários, voltando a receber quando o Campeonato Pernambucano for retomado, isso também com o técnico Nilson Corrêa, que reiterou um pedido maior de cuidado por parte da FPF.

“O presidente falou com os jogadores, todos eles entenderam, concordaram, e as coisas ficaram resolvidas dessa forma. Agora estamos na expectativa se volta ou não, quando volta, como vai ser. Diante disso, o clube entrou em contato com os atletas e, muito provavelmente, se não todos, 90% deve voltar. Então acho que passa por aí a situação. Essa questão está bem resolvida e não sabemos o que vai acontecer. Esperamos que a Federação tenha um olhar especial com o Decisão, Petrolina e Vitória, que não tem calendário, ao lado do Retrô. Mas os três primeiros, se a Federação não chegar junto, não sei se conseguem retornar para o campeonato”, pontuou o comandante do Decisão.

Petrolina

A Fera Sertaneja está em uma situação bem complicada. Ela não recebeu nenhuma ajuda financeira por parte da CBF e fica no aguardo, assim como diversos clubes do Brasil que não disputam as quatro principais divisões do país. Apenas obteve um valor dado pela FPF. Com a folha salarial de março atrasada, o clube não tem como pagar os atletas e vai liberá-los.

“A situação é complicada. Estamos hoje com o salário de março atrasado. Por conta da pandemia, a prefeitura não pode fazer o repasse da gente e estamos com todos os jogadores liberados para suas casas. Vamos conversar com todos mas, infelizmente, todos terão que ser dispensados. Vamos negociar de um por um para deixá-los liberados. Se o campeonato voltar, provavelmente a maioria vai ter convite para jogar em outros times, porque vai começar Série C, Série D. E seria muito injusto o clube segurar os jogadores para virem jogar aqui um mês e irem embora para procurar emprego de novo. Vamos liberar e, quando o campeonato voltar, quem estiver disponível, vamos chamar para retornar ao time do Petrolina para terminar o campeonato. Mas infelizmente a gente não consegue manter esses jogadores no clube”, argumentou o presidente do Petrolina, Jeferson Câmara.

Salgueiro

Bastante realista sobre as dificuldades e do cenário que virá após a pandemia, o Salgueiro conseguiu pagar o mês de março para seus jogadores. Porém, no restante, o clube segue parado. O patrocínio maior do Carcará vem da prefeitura da cidade, que assim como em outros municípios, está destinando a maior parte da verba que possui para a saúde. Desta forma, a equipe vai conversando com os atletas e comissão técnica e deixou claro que, quando tudo voltar, será preciso fazer mudanças.

“Já passei para meus atletas e comissão técnica que, quando retornar todo mundo, vamos nos reunir e discutir como vai ser. Vamos fazer um novo planejamento, ver o quanto de dinheiro que vai entrar e ver esses planos junto com eles, onde todos já foram alertados que as coisas não vão ser iguais a como eram. Com essa pandemia, todos clubes, grandes, médios, pequenos, de todas as séries, Real Madrid e Barcelona, vão sofrer consequências. O Salgueiro vai sofrer também e vamos aguardar, saber quanto tempo vai demorar essa pandemia e fazer o planejamento”, falou o presidente José Guilherme.

Vitória

O Tricolor das Tabocas adota uma posição mais cautelosa ainda, prezando desde o princípio pela integridade de quem faz o clube. Por isso cobra uma reunião entre as agremiações e a FPF assim que o futebol puder ser retomado, para saber se o Estadual segue ou não. O time só conseguiu pagar a primeira quinzena de março ao elenco e não tem dinheiro para pagar mais. Com isso, o presidente de honra do Vitória, Paulo Roberto, pede a ajuda da CBF para que o valor de R$ 75 mil por três meses, solicitado pelos clubes que jogam a primeira divisão dos estaduais, mas não estão nas competições nacionais, seja atendido.

“O momento é de solidariedade, todos nós precisamos de ajuda. Sobre o retorno do campeonato, não posso concordar com uma volta kamikaze. Me perdoe a brincadeira, mas não jogamos totó, onde ninguém tem contato com o outro. Quando as autoridades responsáveis pela saúde liberarem o futebol, acredito que a coisa mais racional a se fazer seja convocar uma reunião com todos os presidentes e a federação. Aí a gente pode decidir, de forma conjunta, o que vamos retomar. Muita gente acha que digo isso porque o Vitória está mal na tabela, mas não é. Digo isso pela minha saúde, dos jogadores e de todo mundo. Muitos tentam minimizar, mas não é uma simples gripe”, disse o mandatário.

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