O REI E O TRIO DE FERRO

O dia em que Ramon, artilheiro do Santa Cruz, ofuscou o Rei Pelé no Arruda

Acostumado a ser reverenciado, foi Pelé quem se curvou diante de Ramon, atacante do Santa Cruz. E foi além: pediu a contratação do tricolor para jogar ao seu lado.

Leonardo Vasconcelos
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Publicado em 25/10/2020 às 1:09 | Atualizado em 25/10/2020 às 12:54
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HISTÓRICO Quem foi ver Pelé, viu Ramon brilhar em campo - FOTO: Bruno Campos / JC Imagem

Acostumado a ser reverenciado, foi Pelé quem se curvou diante de Ramon, atacante do Santa Cruz. E foi além: pediu a contratação do tricolor para jogar ao seu lado. Recebeu um não. Sim, Ramon foi realmente fantástico na tarde daquele domingo, dia 7 de outubro de 1973, quando marcou dois gols na lendária vitória da Cobra Coral contra o Santos por 3x2, no Arruda lotado. Tanto que o Rei o quis no Santos. Mas ele ficou no clube pernambucano, onde no mesmo ano se tornou artilheiro do Brasileiro com 21 gols (três a mais que o próprio Pelé e se tornou o primeiro goleador do torneio atuando em um clube nordestino) e se imortalizou como o terceiro maior artilheiro da história do Santa Cruz com 148 gols.

Mas aquele saudoso dia que terminou com um convite do maior jogador de todos os tempos começou com um pedido inusitado que atravessou o tempo. Na manhã daquele domingo, os jogadores tricolores foram surpreendidos com a visita na concentração do então presidente da Federação Pernambucana de Futebol, Rubens Moreira. "Ele veio oferecer um bicho pra gente em caso de vitória, mas pediu 'encarecidamente' para não chegar duro demais, não bater muito em Pelé. Claro que não iríamos ser desleais, afinal ele também era nosso ídolo", contou Ramon.

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Apito inicial. Gritos da arquibancada. Coração batendo forte. Bem ao lado, o Rei. "No meio do jogo nós mesmos nos pegávamos parando para admirar ele. Era uma elegância em tudo o que fazia, em cada toque de bola", lembrou Ramon. Mas o encantamento durou poucos minutos, pra ser mais preciso apenas 12. Tempo que o verdadeiro protagonista fez seu primeiro gol. "Teve um bate-rebate na área, a bola sobrou pra mim e eu chutei pro fundo das redes", contou o atacante. Luciano Veloso fez dois a zero de pênalti.

Aos oito minutos da segunda etapa, Ramon marcou pela segunda vez. "Invadi a área e dois zagueiros iam me imprensar, mas eu passei por eles e na saída do goleiro, mesmo sem ângulo, eu bati de três dedos e acertei o lado oposto", disse. Um golaço que ainda ecoa nos ouvidos de Ramon: "Ainda hoje escuto a narração vibrante de Roberto Queiroz (da Rádio Jornal) e me emociono, é de arrepiar!".

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O Santos ainda ensaiou uma reação fazendo dois gols (um deles de Pelé), mas neste dia o ator principal de sempre foi um mero coadjuvante. "Por onde Pelé passava a imprensa só ia atrás dele, então me surpreendi quando os repórteres vieram pra cima de mim. Nem acreditava. Fiquei me perguntando se tinha feito tudo aquilo mesmo", contou. O Rei também se impressionou e foi perguntar ao lateral tricolor Gena, que era seu grande amigo, se Ramon, de fato, jogava sempre daquele jeito ou tinha sido somente naquele jogo. Quando recebeu as ótimas referências, Pelé imediatamente solicitou à direção santista a contratação dele. Todavia, na mesma hora, os dirigentes tricolores recusaram a proposta.

Questionado pela reportagem do Jornal do Commercio, se de alguma forma ficou magoado com a negativa do clube, Ramon não titubeia. "Não, eu estava feliz no Santa Cruz e focado em ser o artilheiro do Brasileirão. E consegui", disparou. No final daquele 7 de outubro de 1973 tudo programado foi devidamente cumprido. O bicho foi pago. O Rei saiu de campo inteiro. Mas sem ter levado Ramon.

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