Corpus Christi: Fé e Solidariedade em Tempos de Crise

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JC

Publicado em 26/05/2024 às 0:00
Pedro Ferreira de Lima Filho
Pedro Ferreira de Lima Filho - DIVULGAÇÃO

PEDRO FERREIRA DE LIMA FILHO


No coração da tradição cristã, a festa de Corpus Christi irradia uma essência que transcende as barreiras do tempo e espaço, conectando-se ao cerne da humanidade em sua jornada espiritual. Originada no século XIII, na Bélgica, esta celebração foi instituída para honrar o corpo e o sangue de Cristo na Eucaristia, um símbolo sagrado de comunhão e renovação espiritual.
Ao longo dos séculos, Corpus Christi tem sido marcada por procissões solenes, onde os fiéis carregam o Santíssimo Sacramento pelas ruas, testemunhando publicamente sua fé e devoção. É um momento de comunhão entre os crentes, um ato de profunda reverência diante do mistério da presença real de Cristo na hóstia consagrada.
Contudo, diante dos desafios contemporâneos que assolam não apenas o Brasil, mas o mundo como um todo, é imperativo repensar o significado e a prática desta festa em consonância com os tempos atuais. Nosso país enfrenta crises climáticas devastadoras, como a seca no Nordeste e as inundações no Sul, além de conviver com a triste realidade das guerras que assolam diversas regiões do globo.
É neste contexto de adversidade e necessidade que a mensagem de Corpus Christi adquire uma relevância ainda maior. As palavras do Salmo 82,3 ecoam como um chamado à ação: "Defendei o pobre e o órfão, fazei justiça ao aflito e ao necessitado." Neste momento crucial, a celebração da Eucaristia deve nos inspirar a agir em solidariedade e compaixão para com aqueles que sofrem, seja pela fome, pela sede, ou pela injustiça.
A celebração de Corpus Christi ecoa através dos séculos como um lembrete vívido da presença divina entre nós, manifestada na simplicidade do pão e do vinho consagrados. Em 1 Coríntios 10,16, Paulo nos lembra: "O cálice da bênção que abençoamos, não é a comunhão do sangue de Cristo? O pão que partimos, não é a comunhão do corpo de Cristo?" Assim, neste dia sagrado, somos convidados a renovar nossa fé na promessa de salvação e redenção que se encontra na Eucaristia.

Enquanto nos reunimos em oração e adoração, não podemos ignorar as realidades dolorosas que assolam nosso mundo. Em meio às águas que inundam as terras e à aridez que devasta os campos, somos confrontados com a fragilidade da criação e a urgência de agir em prol de sua preservação. Como nos lembra Gênesis 2,15, somos chamados a ser "bons administradores da criação de Deus" e a cuidar zelosamente da terra que nos foi confiada.
Além das catástrofes naturais, somos confrontados com a terrível realidade das guerras e conflitos que afligem tantas nações. Em Mateus 5,9, Jesus nos chama a ser "pacíficos" e a buscar a reconciliação mesmo em meio à adversidade. Neste sentido, a festa de Corpus Christi nos desafia a ser instrumentos de paz e justiça, a trabalhar incansavelmente pela reconciliação e pela erradicação das causas subjacentes aos conflitos.
No entanto, a verdadeira transformação só pode ocorrer quando nos unimos em solidariedade e compaixão, seguindo o exemplo de Cristo, que "não veio para ser servido, mas para servir" como relatado no Evangelho de Mateus 20 28. É por meio do serviço desinteressado aos necessitados que testemunhamos o amor de Deus em ação, alimentando os famintos, consolando os aflitos e acolhendo os estrangeiros.
Assim como Jesus multiplicou os pães e os peixes para alimentar as multidões, somos chamados a compartilhar generosamente os dons que recebemos, confiantes de que "Deus ama quem dá com alegria", conforme previsto em 2 Coríntios 9,7. Que a festa de Corpus Christi seja, portanto, um momento de renovação espiritual e compromisso prático, onde nos comprometemos a ser "a luz do mundo" e "o sal da terra" ressaltado na Boa Nova de São Mateus 5,13-14), irradiando o amor e a misericórdia de Cristo em meio às trevas e ao sofrimento.
Neste dia santo, possamos nos unir em oração e ação, buscando inspiração no exemplo de Cristo e na promessa de sua presença constante entre nós. Que nossa celebração de Corpus Christi seja mais do que uma mera formalidade religiosa, mas sim um testemunho vivo do amor redentor de Deus, capaz de transformar corações e renovar a face da terra.

Pedro Ferreira de Lima Filho é articulista, assessor executivo, Colunista Especial, Correspondente Jurídico, Polígrafo, Polímata, Servidor Público Concursado de Carreira, Teólogo, Especialista em Educação Especial e Inclusiva, pós-graduado em Ensino Religioso, mestre em Bíblia, doutor em Teologia e professor universitário nos Cursos de Graduação e Pós-Graduação E-mail: filho9@icloud.com

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