Espiritismo e Burocracia
Kardec nos traz, as informações colhidas em manifestações espirituais, o esclarecimento necessário. O Evangelho se tornou claro e compreensível
OTÁVIO PEREIRA DE OLIVEIRA
A caminhada da Doutrina Espírita ainda é curta em relação ao Cristianismo original, mas aparentemente está quase estacionada em relação aos recursos de divulgação disponíveis.
Jesus utilizava dois recursos básicos: primeiro o exemplo pessoal e, segundo, a palavra plena, clara e contundente. Queria Ele que as pessoas pensassem naquilo que ouviam, meditassem e elaborassem. Transformassem as suas palavras em mudanças íntimas, o que hoje chamamos no moderno cristianismo de “reforma íntima”.
Ao passarem suas palavras para o papel, começaram as inclusões, as interpretações e se dava início a síndrome do personalismo. Com o advento do Espiritismo, uma luz se fazia presente. Aqueles que tiveram a oportunidade de experenciar uma ou mais existências, trouxeram à lume a assertiva das falas de Jesus, através da mediunidade ostensiva.
Kardec nos traz, através das informações colhidas em manifestações espirituais, o esclarecimento necessário. O Evangelho se tornou claro e compreensível, acessível a todos, letrados ou não. Toda a Codificação possibilitou a compreensão de que era Deus e o papel de Jesus em nossas vidas.
A disputa pela posse da verdade criou uma diversidade de interpretações. Jesus deixa de ser o consolador dos que sofrem e torna-se juiz implacável. Apiedando-se da humanidade e concluindo que ela já estava preparada para um novo passo, não mais precisando de profetas ou santos para que divulgassem ou ensinassem o Cristianismo.
Os meios de comunicação evoluíram. Médiuns esclarecidos, dentro dos preceitos doutrinários, trouxeram explicações e levaram muita compreensão daquilo que havia sido revelado sob forma velada, tais como as parábolas. Livros, artigos e outras formas de comunicação ampliaram o conhecimento e o entendimento dos ensinamentos de Jesus.
A mídia nos ofereceu uma série de possibilidades de divulgação. Foram criados os Centros Espíritas para que o conhecimento chegasse à população. Os Centros propiciaram a formação das Federações Espíritas. Havia um cuidado especial para que o Cristianismo não tomasse novamente rumo indejado da mistificação, do proselitismo e do estímulo ao culto do personalismo. Não havia mais santos, nem profetas. Apenas homens que ao perderem o copo físico, nos traziam suas experiências e conselhos.
Mas o esforço de Kardec na preparação e divulgação da Codificação Espírita, coadunada pela ação de médiuns como Leon Denis, no passado, e do outros tantos na modernidade, como Chico Xavier, Divaldo Franco e Ivone Pereira, que tornaram o entendimento da vida que não se esvai e da responsabilidade de cada um com o processo existencial, que nada mais é do que o exercício do “contrato reencarnatório”.
Tudo caminhava na direção do aprimoramento do ser humano. No entanto, esquecemos que o caminho ensinado por Jesus não era fácil. A cada curva do caminho se nos apresentava um obstáculo. Muitos, esquecendo da luz que a lanterna do Evangelho nos possibilitou, deixaram que as pilhas da compreensão, da reflexão e de tantas coisas se perdessem.
Conhecer sem praticar, mesmo sendo alertados sobre o compromisso reencarnatório, que não é uma ameaça, apenas nos alerta que a existência é passageira e que devemos nos cuidar aproveitando-a, pois a nossa realidade vital, ou melhor, espiritual é eterna.
Muitas vezes nos preocupamos com aquelas ações delituosas que nos constrangem junto à sociedade e cuidamos em escondê-las. Praticamos aquelas que são desculpáveis aos nossos olhos, esquecendo da profundidade do olhar de Deus.
Não devemos nos fixar em roteiro, elaborados no sentido de facilitar a compreensão dos textos originais. Entretanto, muitos se fixam neles e não conseguem elaborar ou estabelecer propósitos de reforma íntima. Poderíamos dizer que são os “Espíritas Roteiristas”.
Muitas vezes vemos alguns se perderem na compreensão do Espiritismo, não enxergando que ele é um indicador de rumo a seguir. Procurando nele apenas um lenitivo para a “cura” de suas dores e sofrimentos. Somos seres dinâmicos e transitórios neste mundo de expiação e provas. Portanto, aproveitemos a oportunidade para dar um significado produtivo a nossa consciência como seres encarnados em possibilidade de evolução. Não importa o que aprendemos ou sabemos. Importa é o que fazemos com esse cabedal adquirido.
Não somos burocratas nem um arquivo morto para armazenar saberes. Somos divulgadores da Boa Nova e multiplicadores. Multipliquemos!
Otávio Pereira de Oliveira é trabalhador voluntário da Federação Espírita Pernambucana (FEP)