A renúncia esperada do diretor-geral da Organização Mundial do Comércio (OMC), o brasileiro Roberto Azevêdo, caiu como uma bomba nesta quinta-feira (14), com a pandemia de coronavírus atingindo em cheio a economia mundial.
Respondendo às informações da imprensa de que ele deixaria o cargo antes do final de seu mandato em 2021, um porta-voz da organização, Keith Rockwell, disse à AFP que "a OMC fará um anúncio a este respeito após a reunião dos chefes de delegação às 16h (11h de Brasília)". Segundo várias fontes diplomáticas, o futuro do brasileiro estará na agenda da reunião.
De acordo com o jornal "Valor Econômico", Roberto Azevêdo anunciará na tarde desta quarta que vai abandonar o cargo em 1º de setembro, um ano antes de completar seu segundo mandato.
Em discurso antecipado pelo veículo, Azevêdo explicará que está "convencido de que a minha saída neste momento ajudará a OMC a escolher seu novo caminho".
"Com esta decisão evito que a Organização fique presa a dois processos simultâneos: a preparação da próxima reunião ministerial e o processo de substituição do diretor-geral", afirmará ele.
A provável saída prematura do brasileiro em setembro ocorre em um momento em que a economia mundial sofre o mais duro golpe desde a Grande Depressão da década de 1930.
O comércio internacional é fortemente afetado pela pandemia do coronavírus, que fez afundar a produção e o comércio.
Se for confirmada, a demissão do chefe da OMC "chega em um momento muito ruim para a instituição", estima o diretor do Centro de Estudos Prospectivos e Informações Internacionais (CEPII), Sébastien Jean.
"O sistema comercial está profundamente desestabilizado tanto pelas tensões anteriores, incluindo as duras críticas do presidente americano, Donald Trump, as múltiplas violações dos acordos, a guerra comercial EUA-China e a paralisia do órgão de apelação, e por medidas tomadas em reação à crise, incluindo restrições às exportações", disse ele à AFP.
Diplomata de carreira, Roberto Azevêdo iniciou seu segundo mandato de quatro anos em setembro de 2017. Ele assumiu o comando do órgão em 2013, sucedendo ao francês Pascal Lamy.
Antes de se tornar chefe da OMC, era, desde 2008, o representante permanente do Brasil nessa organização, onde conquistou a reputação de bom negociador.