A Índia superou nesta segunda-feira (17) a marca de 50.000 mortes provocadas pelo novo coronavírus, que se propaga em pequenas cidades, localidades e áreas rurais, onde predomina uma forte estigmatização dos pacientes e com sistemas de saúde frágeis. Muitos analistas consideram que o número real de afetados pode ser muito maior devido ao reduzido nível de testes de diagnóstico no país. Além disso, o registro de mortes tem muitos problemas neste país gigantesco de 1,3 bilhão de habitantes.
A Índia superou na semana passada o Reino Unido no quarto lugar em número de vítimas fatais, atrás dos Estados Unidos, Brasil e México, e nesta segunda-feira informou que alcançou a marca de 50.921 mortes provocadas pelo novo coronavírus, depois de registrar 941 óbitos nas últimas 24 horas, de acordo com dados do ministério da Saúde.
O segundo país mais populoso do planeta, que tem algumas das maiores cidades e subúrbios do mundo, é o terceiro com mais infectados, superado por Estados Unidos e Brasil, com 2,65 milhões de casos.
Apesar do aumento do número de mortos, o ministério da Saúde afirmou no domingo que a taxa de letalidade do vírus é uma das "menores do mundo", abaixo de 2%. "Uma estratégia agressiva de testes de diagnóstico, amplo rastreamento e o tratamento eficaz por meio de uma série de medidas contribuíram para o alto nível de curas existente", afirmou o ministério em um comunicado.
Segundo o portal Worldometer, Estados Unidos (170.000 mortos) têm uma taxa de mortalidade de 3,11%, enquanto no Brasil (107.000) é de 3,22%. De acordo com o ministério indiano da Saúde, Estados Unidos atingiram 50.000 mortes em 23 dias, o Brasil em 96 e o México em 141. A Índia levou 156 dias para alcançar a marca. Algumas possíveis razões foram citadas, como a população relativamente jovem da Índia, o clima e a maior exposição a doenças como a tuberculose.
Mas os analistas afirmam que a taxa de testes por milhão de habitantes na Índia é muito menor que em outros países e que muitas mortes não foram registradas corretamente. "Alguns estudos indicam que apenas uma a cada quatro mortes é certificada e tem a causa estabelecida", afirmou à AFP Lalit Kant, ex-diretora de doenças transmissíveis e epidemiologia do Conselho Indiano de Pesquisa Médica. O primeiro-ministro indiano, Narendra Modi, anunciou em março um dos confinamentos mais rígidos do mundo, que provocou uma profunda crise na terceira maior economia da Ásia.
Dezenas de milhões de jovens migrantes ficaram sem trabalho da noite para o dia e muitos deles retornaram, em alguns casos a pé, de Nova Délhi, Mumbai e outras grandes cidades para suas áreas de nascimento.
O confinamento foi flexibilizado depois de algumas semanas, mas vários setores reclamam da falta de mão de obra. Os governos estaduais e locais voltaram a adotar restrições, pois o vírus se propagou a pequenas cidades, localidades e áreas urbanas, onde vivem quase 70% dos indianos. As evidências, no entanto, mostram que medidas como o uso de máscara ou o distanciamento físico foram ignoradas nestas regiões. Além disso, existe o medo de ser estigmatizado em caso de resultado positivo para COVID-19, o que faz com que muitas pessoas evitem o teste.
No sábado (15), o primeiro-ministro Modi disse que o país está desenvolvendo pesquisas e testes com três possíveis vacinas e que o governo está preparado para produzir grandes quantidades de doses se alguma delas se mostrar viável. "Assim que recebermos a luz verde de nossos cientistas, iniciaremos a produção em larga escala da vacina. Já fizemos todos os preparativos", afirmou.