Papa Francisco: Fofoca é uma praga pior do que a Covid

O papa Francisco disse ainda na sua pregação do domingo que "o grande fofoqueiro é o diabo"
JC
Publicado em 06/09/2020 às 11:55
Papa Francisco na oração do Angelus: "fofoca é pior que Covid" Foto: VATICAN MEDIA/DIVULGAÇÃO


O Papa Francisco disse durante sua pregação, neste domingo (6/9) que a fofoca é uma praga pior do que Covid-19. Disse ainda que a fofoca está tentando dividir a Igreja Católica Romana e que "o grande fofoqueiro é o diabo". O texto foi reproduzido nas redes sociais do Vaticano:

"O ensinamento de Jesus nos ajuda muito, porque pensemos num exemplo: quando nós vemos um erro, um defeito, um escorregão de um irmão ou de uma irmã, normalmente a primeira coisa que fazemos é contar aos outros, fofocar. As fofocas fecham o coração à comunidade, impedem a unidade da Igreja. O grande fofoqueiro – o grande fofoqueiro - é o diabo, que sempre sai dizendo coisas ruins dos outros, porque ele é o mentiroso que tenta desunir a Igreja, afastar os irmãos e não fazer comunidade. Por favor, irmãos e irmãs, façamos um esforço para não fofocar. A fofoca é uma peste pior que a Covid, pior. Façamos um esforço: nada de fofoca. Nada de fofoca."

 

Burocracia

O pontífice se desviou do texto original da sua bênção semanal para reiterar sua reclamação sobre a fofoca nas comunidades da Igreja Católica e da burocracia do Vaticano. Os comentários surgiram enquanto ele falava sobre uma passagem do evangelho que destaca a necessidade de corrigir os outros, quando fazem algo errado. 

Confira a pregação do Papa Francisco:

A publicação oficial do Vaticano, a Vatican News, publicou a seguinte explicação sobre a fala de Francisco:

A passagem do Evangelho deste domingo comentado pelo Papa fala da correção fraterna, e convida-nos a refletir sobre a dupla dimensão da existência cristã: a dimensão comunitária, que exige a proteção da comunhão, e a dimensão pessoal, que exige atenção e respeito por cada consciência individual.

Para corrigir o irmão que cometeu um erro, Jesus sugere uma pedagogia de recuperação, articulada em três etapas. Primeiro diz: "Avisa-o entre você e ele sozinho", ou seja, não coloque o seu pecado em praça pública. É uma questão de ir ao irmão com discrição, não para o julgar, mas para o ajudar a perceber o que fez", salienta Bergoglio, "contudo, pode acontecer que, apesar das minhas boas intenções, a primeira intervenção falhe. Neste caso é bom não desistir, que se arranje, eu lavo as minhas mãos, não, isso não é cristão, mas recorrer ao apoio de algum outro irmão ou irmã.

Jesus diz: "se ele não ouvir, leve consigo um ou duas pessoas novamente para que tudo se resolva com a palavra de duas ou três testemunhas. As duas testemunhas solicitadas não são para acusarem e julgar, mas para ajudar, para a recuperação", continua o Pontífice. "Também o amor de dois ou três irmãos pode ser insuficiente. Neste caso - acrescenta Jesus -, "dizê-lo à comunidade", ou seja, à Igreja. Em algumas situações, toda a comunidade está envolvida. Há coisas que não podem deixar indiferentes os outros irmãos: é necessário um amor maior para recuperar o irmão. Mas por vezes até isto pode não ser suficiente. Jesus diz: "Se nem mesmo à comunidade ele ouvir, seja tratado como se fosse um pagão ou um publicano”. Esta expressão, aparentemente tão desdenhosa - disse o Papa Francisco -, convida-nos de fato a colocar o nosso irmão de volta nas mãos de Deus: "só o Pai poderá demonstrar um amor maior do que o de todos os irmãos juntos. É o amor de Jesus, que acolheu os publicanos e pagãos, escandalizando as pessoas bem pensantes da época."

Francisco disse que “não é fácil pôr em prática este ensinamento de Jesus, por várias razões. Há o medo de que o irmão ou irmã reaja mal; por vezes não há confidência suficiente com ele ou ela... E outras razões.

"Não se trata de uma questão de condenação sem apelo, mas do reconhecimento de que por vezes as nossas tentativas humanas podem falhar, e que só estando sozinho perante Deus pode colocar o nosso irmão perante a sua própria consciência e a responsabilidade pelos seus atos".

Francisco encerrou a sua alocução pedindo a Nossa Senhora que “nos ajude a fazer da correção fraterna um hábito saudável, para que nas nossas comunidades possam sempre ser estabelecidas novas relações fraternas, baseadas no perdão recíproco e sobretudo no poder invencível da misericórdia de Deus”.

Repercussão

Sobre a pregação papal, o jornal britânico The Guardian lembrou que, na hierarquia católica, pratica-se a correção fraterna entre padres e bispos, sem tornar públicos os erros, e isso vem sendo alegado por vítimas de casos de abusos sexuais por parte de integrantes da Igreja como uma forma de ofensores escaparem de punição. Essa prática serviu de mote ao filme "Spotlight", ganhador do Oscar em 2016. 

 

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