Depois de comemorar sua vitória sobre Donald Trump, Joe Biden se concentrou nos preparativos para sua chegada à Casa Branca neste domingo (8) com duas prioridades: o combate à pandemia e a reconciliação de um país dividido, sem ter ainda recebido o reconhecimento do presidente republicano.
O democrata recebeu os parabéns de várias lideranças de todo o mundo - com exceções como México e Brasil -, mas Trump não lhe concedeu a vitória, alegando "fraude" na eleição, sem apresentar provas.
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Trump prometeu redobrar sua ofensiva judicial para desafiar os resultados, mas o destino dessas ações não parece promissor e elas foram ignoradas pelos eleitores democratas que celebravam nas ruas das grandes cidades na noite de sábado.
Diante do silêncio de seu rival, Biden fez um discurso naquela noite focado na promessa de "cicatrizar" o país.
"Prometo ser um presidente que busca não dividir, mas unir", disse ele durante um comício ao ar livre em Wilmington, Delaware.
A pandemia de covid-19 - que mata mais de 236.000 nos Estados Unidos - estará no centro das atividades de Biden como presidente eleito.
Nesta segunda-feira, ele formará um grupo de especialistas para desenvolver um plano nacional de combate ao vírus que poderá ser implantado a partir do mesmo dia em que assumir o poder, no dia 20 de janeiro.
Em sua campanha ele já traçou alguns limites, como o projeto de uma rede nacional para a realização de testes, a obrigatoriedade do uso de máscaras em prédios federais e a vacina gratuita, assim que ela for desenvolvida e testada.
Outro eixo importante é a promessa de cancelar o processo de retirada dos Estados Unidos da Organização Mundial da Saúde (OMS), lançado por Trump, e voltar ao Acordo do Clima de Paris para limitar as emissões que causam as mudanças climáticas.
Além disso, o democrata prometeu anular o decreto republicano de imigração que proíbe a entrada no país de cidadãos de vários países muçulmanos e anunciou que abrirá caminho para a regularização de cerca de 11 milhões de imigrantes sem documentos.
- Incerteza sobre maioria no Senado -
A atitude de Trump nos próximos dias pesará na capacidade de Biden de atuar antes de 20 de janeiro, uma vez que, para ter acesso às agendas, é necessária uma decisão administrativa para efetivamente lançar a transição.
Esta manhã, Trump citou um especialista no Twitter dizendo que a "eleição foi roubada" e depois ele deixou a Casa Branca para jogar golfe.
Biden e sua companheira de chapa, a senadora negra Kamala Harris - a primeira mulher a se tornar vice-presidente do país - devem começar a considerar a composição de seu gabinete, que deve dar às mulheres e às minorias um lugar de destaque.
Em sintonia com seu discurso de unidade, especula-se também sobre a inclusão de representantes da extrema esquerda de seu partido, sem esquecer os centristas e talvez até alguns republicanos. Mas essa decisão está sujeita à forma como o Senado será formado e esses resultados ainda não estão completos.
Nesta legislatura que termina, os republicanos detêm a maioria na Câmara Alta com 53 dos 100 assentos. Nesta eleição, em que 35 cadeiras foram renovadas, os democratas perderam uma e obtiveram duas dos republicanos.
No entanto, a contagem dos votos em dois estados ainda precisa ser concluída e na Geórgia um segundo turno será necessário porque nenhum dos candidatos atingiu o limite para ser eleito. A eleição será realizada no dia 5 de janeiro, juntamente com a eleição do segundo senador por este estado.
O Senado será crucial na resposta à aguda crise econômica causada pela covid-19 que deixou milhões de desempregados e danos profundos à economia dos Estados Unidos.
Antes das eleições, a Câmara dos Representantes dominada pelos democratas e o governo não chegaram a um acordo para lançar um novo plano de ajuda como o pacote de US$ 3 trilhões aprovado em março.
Diante das poucas chances de chegar a um acordo antes da mudança de comando, essas negociações seriam um primeiro teste para o governo Biden se os republicanos mantiverem a maioria no Senado. Também permitiria que os republicanos bloqueassem as indicações para o novo governo.
Bolsonaro e AMLO não parabenizam Biden
Muitos dos líderes mundiais ignoraram os apelos republicanos levados à Justiça americana e parabenizaram Biden por sua vitória, com duas notáveis exceções na América Latina: os presidentes do México, Andrés Manuel López Obrador, e de Jair Bolsonaro.
López Obrador indicou que aguardará a resolução das "questões jurídicas" para se pronunciar e Bolsonaro simplesmente se calou.
Até o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, que desejava a vitória de Trump, celebrou Biden, a quem chamou de "grande amigo de Israel".
O ex-presidente republicano George W. Bush ligou para Biden para parabenizá-lo por sua vitória em uma eleição que descreveu como "honesta" e com um resultado "claro".
Nos Estados Unidos, os políticos republicanos ativos não romperam as fileiras - exceto os habituais rebeldes, como o senador e ex-candidato à presidência Mitt Romney.
"Devemos proteger nossa democracia com total transparência", disse no Twitter a primeira-dama Melania Trump.
O poderoso senador republicano Lindsey Graham pediu a Trump, da Fox Network, que não reconhecesse a derrota.
"Vamos trabalhar com Biden se ele ganhar, mas Trump não perdeu. Senhor presidente, não ceda, lute muito", acrescentou.
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