Migração e fronteira EUA-México: a missão da vice-presidente Kamala Harris
Na sexta-feira (7), foi Harris - e não o presidente Joe Biden - que se reuniu virtualmente com o presidente mexicano, Andrés Manuel López Obrador
A tarefa de resolver o problema migratório de longa data na fronteira dos Estados Unidos com o México é um desafio difícil para a vice-presidente Kamala Harris, mas também uma oportunidade para escapar da frustração de ser número dois na Casa Branca. Na sexta-feira (7), foi Harris - e não o presidente Joe Biden - que se reuniu virtualmente com o presidente mexicano, Andrés Manuel López Obrador.
"Agradecemos ao presidente Biden por tê-la nomeado para liderar tudo relacionado à migração", disse Obrador. E em junho, será Harris quem fará uma visita oficial ao México e à Guatemala, provavelmente uma semana antes da primeira viagem de Biden ao exterior - à Europa.
Poucas questões têm uma história tão longa e espinhosa para democratas e republicanos quanto a questão da imigração e asilo ao longo da fronteira de mais de 3.000 quilômetros entre os Estados Unidos e o México. Mas sob o ex-presidente Donald Trump (2017-2021) o problema se tornou ainda mais crítico, pois ele construiu muitas de suas promessas eleitorais sobre a demonização dos imigrantes sem documentos e na necessidade de um novo e reforçado muro fronteiriço.
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Biden, que prometeu uma política migratória mais "humana", se viu em um dilema quando as travessias ilegais na fronteira dispararam desde o início de seu governo, e decidiu que Harris seria a responsável por encontrar uma resposta. "Quando ela fala, ela fala por mim", disse o presidente em 24 de março.
Tecnicamente, Harris não deve lidar com a fronteira em si. Sua missão é buscar soluções mais profundas nos países centro-americanos de onde fogem a maioria dos migrantes: o chamado "Triângulo Norte" formado por El Salvador, Guatemala e Honduras. Encontrar uma maneira de convencer todas essas pessoas a ficarem em seus países foi o principal tema de discussão com López Obrador na sexta-feira.
Mas, na realidade, o público e certamente grande parte da oposição republicana não fazem distinção. Uma das críticas mais frequentes da rede conservadora Fox News e da mídia de direita é que Harris já fracassou ao não visitar a fronteira. "O Triângulo Norte não é o mesmo que a fronteira", disse em abril a porta-voz da Casa Branca, Jen Psaki. No entanto, para os críticos de Harris, o estrago já foi feito.
Afinal, ela viaja para muitos outros lugares nos Estados Unidos para assuntos da vice-presidência. Por que não à beira da crise que ela quer resolver? A forma como a crise vai se desenrolar é crucial, já que muitos veem Harris como uma potencial candidata presidencial esperando sua vez. Ao chegar à Casa Branca em 20 de janeiro, Harris, de 56 anos, se tornou o braço direito de Biden, 78, o presidente mais velho a assumir o cargo. E embora Biden diga que buscará um segundo mandato em quatro anos, também faz o possível para impulsionar Harris, que antes foi senadora e procuradora-geral da Califórnia.
"O presidente nos deu instruções claras", disse Ron Klain, chefe de gabinete de Biden, ao New York Times. "Nosso objetivo é torná-la conhecida o máximo que pudermos". Liz Peek, colaboradora da Fox News, escreveu em The Hill que o papel da fronteira condenará as ambições de Harris. "As chances de Kamala Harris ser eleita presidente derretem mais rápido do que sorvete em agosto", escreveu.
Mas Carl Tobias, professor de direito da Universidade de Richmond, diz que Harris "enfiou a linha na agulha". "Ser vice-presidente sempre foi uma função difícil e delicada porque o vice-presidente não quer ofuscar o presidente". "Harris aproveitou esse papel como uma oportunidade para mostrar que pode fazer um excelente trabalho em uma questão espinhosa", conclui.