Rússia alerta contra zona de exclusão aérea e retoma ofensiva sobre porto da Ucrânia

Russos afirmaram que a guerra na Ucrânia aumentará se a Otan impor uma zona de exclusão aérea na Ucrânia
AFP
Publicado em 05/03/2022 às 20:07
Em solo ucraniano, o exército russo retomou a ofensiva contra cidades do sudeste do país Foto: Gertrud Zach/US Department of Defense/AFP


A Rússia alertou neste sábado (5) que a guerra na Ucrânia aumentará se a Otan impor uma zona de exclusão aérea na Ucrânia e retomou a ofensiva sobre o porto estratégico de Mariupol, após um breve cessar-fogo que não cumpriu o objetivo de evacuar a população civil.

O presidente russo, Vladimir Putin, afirmou que a declaração de uma zona de exclusão aérea teria "consequências colossais e catastróficas não somente na Europa, mas no mundo todo" e que qualquer país que tentar impor tal medida será considerado inimigo.

O presidente ucraniano, Volodimir Zelensky, disse na sexta-feira que a recusa da Otan em tomar essa decisão foi como dar "um sinal verde para a continuação dos bombardeios contra cidades e vilas ucranianas".

Em solo ucraniano, o exército russo retomou a ofensiva contra cidades do sudeste do país, Volnovaja e o porto de Mariupol, no mar de Azov, que há vários dias resite, apesar de não ter água ou eletricidade.

O cessar-fogo havia sido decidido poucas horas antes para permitir a saída da população civil da cidade. No entanto, a operação "foi adiada por motivos de segurança", já que as forças russas "continuam bombardeando Mariupol e seus arredores", indicou a prefeitura da cidade.

O Ministério de Defesa russo afirmou que a operação foi frustrada em função de grupos "nacionalistas" ucranianos que usam a população "como escudo humanos".

O controle de Mariupol tem caráter estratégico para a Rússia, porque permitiria garantir uma continuidade territorial entre suas forças procedentes da península de Crimeia e as unidades dos territórios separatistas pró-Moscou da região ucraniana de Donbass, ao leste.

Avanço russo

As tropas russas se aproximam ao mesmo tempo da capital Kiev, onde encontram uma intensa resistência, e bombardeiam bairros dos subúrbios ao oeste da capital ucraniana. A cidade de Chernihiv, ao norte, também é alvo de bombardeios constantes, que deixaram muitas vítimas civis nos últimos dias.

Correspondentes da AFP que visitaram a cidade neste sábado viram cenas de destruição, apesar da insistência do presidente russo Vladimir Putin de que suas forças não atacam áreas residenciais.

"Havia corpos no chão por todas as partes. Eles esperavam para entrar numa farmácia, e agora estão todos mortos", relatou à AFP um morador de Chernigov, Sergei.

Quase 1,4 milhão de ucranianos fugiram do país desde o início da ofensiva russa, em 24 de fevereiro, de acordo com dados da ONU, e centenas de milhares estão deslocados na Ucrânia.

Em Kharkiv, segunda maior cidade da Ucrânia, as forças locais lançaram um contra-ataque e, segundo o presidente Zelinsky, "infligiram aos invasores perdas que jamais imaginariam em seus piores pesadelos".

O ministro ucraniano da Defesa, Oleksiy Reznikov, afirmou neste sábado que a Rússia mudou de tática ao observar a grande resistência que frustrou seu aparente plano de conquistar rapidamente as grandes cidades e derrubar o governo de Zelensky.

Após 10 dias de ataques, a Rússia conseguiu tomar apenas duas cidades importantes, Berdiansk e Kherson, na costa do mar Negro.

A Rússia e a Ucrânia realizarão na segunda-feira uma terceira rodada de negociações, informou um membro da delegação ucraniana. Na segunda reunião, foi acordado a abertura de corredores humanitários para a população civil, que até agora não se materializaram.

Evitar "mal-entendidos"

Os bombardeios provocaram um incêndio na maior usina nuclear da Europa, o que gerou o temor de uma nova catástrofe nuclear como a de Chernobyl em 1986, que aconteceu em solo ucraniano quando era parte da União Soviética.

Os Estados Unidos e a Rússia estabeleceram uma linha telefônica direta entre suas forças armadas para reduzir qualquer risco de "mal-entendido", que poderia provocar um confronto direto entre a Otan e Moscou, ambos com poder de fogo nuclear.

O chefe do Estado-Maior dos EUA, general Mark Milley, rejeitou neste sábado a ideia de uma zona de exclusão aérea na Ucrânia. "Se uma zona de exclusão aérea fosse declarada, alguém teria que aplicá-la" e isso significaria "combater ativamente a força aérea russa", algo que nenhum membro da Aliança "disse querer fazer", explicou.

O chefe da diplomacia ucraniana, Dmytro Kuleba, pediu neste sábado, em reunião com o seu homólogo americano, Antony Blinken, a entrega de aviões e sistemas de defensa antiaérea ao seu país e qualificou a recusa da Otan de impor a medida como um "sinal de fraqueza" diante da Rússia.

"Não é segredo que nossa principal demanda é por aeronaves de combate e sistemas de defesa antiaérea", disse Kuleba, ao falar sobre seu encontro com Blinken na fronteira entre Ucrânia e Polônia.

Imprensa deixa Rússia

Putin, que não parece afetado pelo isolamento diplomático, econômico, esportivo e cultural da Rússia, negou relatos de que pretende declarar lei marcial na Rússia.

"A lei marcial se aplica em caso de agressão, principalmente nas regiões onde ocorreram os combates. Não temos essa situação e espero que não aconteça", explicou.

As autoridades russas reforçaram suas restrições à imprensa e ao acesso a informações independentes.

A agência Efe, bem como a Rádio e Televisão Espanhola (RTVE), a BBC britânica, a agência de informação financeira Bloomberg e os canais públicos alemães ARD e ZDF e a italiana RAI anunciaram a suspensão da sua presença na Rússia, depois que Moscou aprovou uma lei que prevê multas e penas de até 15 anos de prisão para quem publicar "notícias falsas" sobre o exército russo.

Vários sites de notícias estavam parcialmente inacessíveis na Rússia, enquanto o acesso ao Twitter era restrito e o Facebook bloqueado.

O porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, defendeu neste sábado a necessária "firmeza" da lei, argumentando que a Rússia está enfrentando uma "guerra de informação".

FMI teme "impactos devastadores"

A guerra mantém o mundo em suspense e afeta as Bolsas de valores, assim como os preços das commodities e da energia.

Muitas empresas anunciaram a saída do mercado russo. Neste sábado foi a vez da líder mundial do setor têxtil, o grupo espanhol Inditex, proprietário da marca Zara, que suspendeu "temporariamente" as atividades nas 502 lojas que possui na Rússia.

Zelensky pediu neste sábado o endurecimento das sanções, especialmente a proibição das importações de petróleo e gás russos, em uma reunião virtual com legisladores americanos.

O isolamento da Rússia ficará maus severo em 8 de março, dia após o qual a companhia aérea russa Aeroflot não fará mais voos internacionais. O FMI alertou que os impactos serão "ainda mais devastadores" se o conflito aumentar.

Como no fim de semana passado, manifestações foram organizadas em algumas cidades europeias para denunciar a invasão russa. Cerca de 40.000 pessoas se reuniram em Genebra, milhares em Roma e Paris e algumas centenas em Londres.

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