Nos EUA, Biden anuncia perdão de empréstimos estudantis para americanos de baixa renda

Plano anunciado ontem nos EUA prevê perdão de dívida de até US$ 20 mil para estudantes de baixa e média renda no País
AFP
Publicado em 24/08/2022 às 22:18
CUSTO Curso em faculdade nos EUA gera dívida média de US$ 25 mil Foto: STEFANI REYNOLDS / AFP


O presidente americano, Joe Biden, anunciou nesta quarta-feira (24) que a maioria dos egressos do ensino superior nos Estados Unidos que mantêm dívidas estudantis terão um alívio de 10.000 dólares.

"Cumprindo minha promessa de campanha, minha administração está anunciando um plano para dar um alívio às famílias trabalhadoras e de classe média, enquanto se preparam para retomar os pagamentos dos empréstimos estudantis federais, em janeiro de 2023", tuitou Biden.

O desconto de 10.000 dólares, anunciado a três meses das eleições de meio de mandato, tradicionalmente difíceis para o Partido Democrata no poder, só se aplica a quem ganhar menos de 125.000 dólares ao ano.

Para quem frequentou a universidade com ajuda do governo por meio das bolsas Pell, o alívio será de 20.000 dólares.

Segundo um estudo da universidade da Pensilvânia, o alívio de 10.000 dólares por si só custaria ao Estado cerca de 300 bilhões de dólares.

O gasto é necessário não só por questões de justiça social, mas também para que os "Estados Unidos ganhem a competição econômica do século XXI" graças à educação, justificou o presidente de 79 anos, durante um discurso posterior.

Segundo Biden, o desconto será financiado com a redução do déficit, alcançada em seu mandato.

JOE CLASSE MÉDIA

O presidente democrata, apelidado de "Joe Classe Média", volta a se apresentar como um defensor deste grupo socioeconômico, em oposição à redução de impostos para empresas, decretada por seu antecessor, o republicano Donald Trump.

A discussão sobre a dívida estudantil foi de fato intensa, como ocorre toda vez que se propõe transferir gastos privados à esfera pública em saúde e educação nos Estados Unidos.

Mas a decisão, que demandou mais de um ano de trabalho da Casa Branca, foi saudada por personalidades do Partido Democrata.

Os senadores Chuck Schumer e Elizabeth Warren evocaram em nota "um gigantesco passo rumo à resolução da crise da dívida estudantil".

Já para o líder republicano no Senado, Mitch McConnell, tratou-se de uma reforma "profundamente injusta" e "uma bofetada para todas as famílias que fizeram sacrifícios para poupar para (pagar) a universidade" e conseguiram quitar a dívida por completo.

A decisão também divide os especialistas.

Alguns consideram que o gesto financeiro é arriscado em um momento em que os Estados Unidos enfrentam uma alta dos preços.

Foi o caso de Jason Furman, ex-conselheiro econômico do ex-presidente Barack Obama, que advertiu no Twitter que é "inconsequente jogar 500 bilhões de dólares de gasolina no fogo da inflação".

Por outro lado, o economista-chefe da agência Moody's, Mark Zandi, avaliou que o impacto da medida sobre o crescimento e a inflação seria "marginal".

PROBLEMA HISTÓRICO NOS EUA

O problema da dívida estudantil dura décadas nos Estados Unidos.

As universidades com frequência podem custar entre 10.000 e 70.000 dólares ao ano, deixando os graduados com uma dívida avassaladora quando entram no mercado de trabalho.

Segundo estimativas do governo, a dívida média dos estudantes americanos quando se formam é de 25.000 dólares, um montante que muitos demoram anos ou até décadas para pagar.

No total, cerca de 45 milhões de universitários devem em todo o país 1,6 trilhão de dólares, segundo a Casa Branca.

A promessa de amortizar a dívida estudantil "é a razão pela qual muitas pessoas da minha idade e da minha geração votaram nele (Joe Biden), porque é algo que nos afeta fortemente", ressaltou Amarie Betancourt, de 20 anos, estudante na Howard University de Washington.

"Já é uma bênção que parte (da dívida) seja anulada", acrescentou Vivian Santo-Smith, estudante de ciência política na mesma universidade privada, historicamente relacionada com a comunidade afro-americana.

Biden ressaltou, no entanto, que a moratória sobre o reembolso dos empréstimos estudantis instaurada durante a pandemia terminará no fim do ano, e que será preciso começar a pagar a dívida após a dedução do perdão parcial decretado nesta quarta.

 

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