Desinformação e 'fake news' marcam 'midterms' nos EUA

Políticos conservadores são acusados de amplificar narrativas falsas durante a campanha para as eleições de meio mandato nos EUA
AFP
Publicado em 21/10/2022 às 22:32
MIDTERMS Essas eleições de meio de mandato são realizadas dois anos após as presidenciais nos EUA Foto: ANNA MONEYMAKER/GETTY IMAGES VIA AFP


Vários candidatos nas eleições de meio de mandato nos Estados Unidos foram alvo de chacota por afirmarem que algumas escolas instalaram caixas de areia para estudantes que se identificam como gatos, mas analistas garantem que a estratégia é calculada, séria e até efetiva.

Pelo menos 20 candidatos conservadores, muitos deles republicanos já eleitos, fizeram essas afirmações, de acordo com uma compilação de declarações públicas da NBC News.

É o que alguns observadores chamam de "desinformação zumbi": falsidades que ressurgem depois de serem repetidamente derrubadas por verificadores de fatos. Neste caso, a afirmação foi desmentida pelas escolas, e até mesmo um legislador republicano se desculpou e se retratou em um comunicado divulgado em março.

A onda de desinformação durante a campanha para as eleições de 8 de novembro ecoa uma guerra cultural mais ampla que ocorre nos Estados Unidos sobre os direitos dos transexuais e as escolas "woke", ou seja, que "despertam a consciência" dos alunos sobre a identidade de gênero. Essa abordagem enfrenta grande resistência de eleitores conservadores.

"Os legisladores que continuam repetindo como papagaios essas histórias desacreditadas provavelmente fazem isso porque acham que é politicamente conveniente, independentemente de acreditarem, ou não", disse à AFP Joshua A. Tucker, codiretor do Centro de Redes Sociais e Políticas (CSMAP, na sigla em inglês)AFP, da Universidade de Nova York.

"E, enquanto vivermos em uma era onde a identidade e a cultura estão na raiz das principais divisões políticas na sociedade americana, vamos continuar vendo figuras políticas aferradas a afirmações bizarras para mostrar de que lado estão na guerra. guerra cultural", alertou.

Para Matthew Motta, professor associado da Universidade de Boston, há um "claro incentivo eleitoral" para que políticos conservadores espalhem desinformação.

"Pesquisas em Ciência Política sugerem que os temas de guerra cultural, como esses (direitos LGBT e política 'woke'), são relativamente fáceis de entender para os eleitores", explicou, acrescentando que "os políticos republicanos podem fazer circular informações falsas como essa para tentar melhorar sua posição eleitoral".

Há tempos, políticos conservadores são acusados de amplificar narrativas falsas: da afirmação do ex-presidente Donald Trump de que ele foi roubado em sua tentativa de reeleição em 2020 até informações erradas sobre a pandemia da covid-19 e a teoria da conspiração QAnon.

Uma análise feita pelo CSMAP de postagens no Facebook dos candidatos ao Congresso mostrou que, nesta eleição de meio de mandato, os republicanos compartilharam mais links para fontes de informação pouco confiáveis do que para as eleições gerais de 2020.

"Os republicanos na disputa compartilham, constantemente, fontes menos confiáveis do que os republicanos que já estão no cargo", disse o relatório, que identificou a ex-governadora do Alasca Sarah Palin como uma "supercompartilhadora" de desinformação.

Hemant Kakkar, professor assistente da Universidade de Duke, destacou, porém, o risco de aprofundar a divisão já existente em torno da desinformação, ao generalizar que todos os conservadores são promotores da informação falsa.

"Percebemos que alguns conservadores sem escrúpulos precisam criar divisão, desordem e confusão ao transmitir informações falsas", disse Kakkar à AFP. "No entanto, é apenas um grupo minoritário".

Divulgada este mês, a pesquisa de Kakkar também apontou para a "inadequação" das intervenções de verificação de dados para dissuadir esse pequeno grupo de difundir "fake news".

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