África

Em visita ao Sudão do Sul, papa pede 'novo salto' pela paz

É a primeira visita de um pontífice ao Sudão do Sul desde que o país, de maioria cristã, conseguiu sua independência do Sudão, de maioria muçulmana

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Renata Monteiro

Publicado em 03/02/2023 às 18:49
O papa Francisco ao lado do presidente do Sudão do Sul, Salva Kiir - Tiziana FABI / AFP

Da AFP

O papa Francisco exortou os líderes sul-sudaneses nesta sexta-feira (3) a dar "um novo salto" pela paz, alertando que a história se lembrará deles por suas ações, ao iniciar uma visita de três dias ao conturbado país africano.

"O processo de paz e reconciliação exige um novo salto", declarou o pontífice de 86 anos em um discurso no palácio presidencial de Juba, capital do Sudão do Sul.

E esse pode ser um "caminho tortuoso, mas inadiável", acrescentou.

É a primeira visita de um pontífice ao Sudão do Sul desde que o país, de maioria cristã, conseguiu sua independência do Sudão, de maioria muçulmana, após décadas de conflito.

A guerra civil na qual o país mergulhou entre 2013 e 2018 deixou 380.000 mortos e milhões de deslocados.

"As gerações futuras honrarão ou apagarão a memória dos vossos nomes com base naquilo que agora fizerdes", advertiu Francisco às autoridades.

"Basta de sangue derramado, basta de conflitos, basta de violências e recíprocas acusações sobre quem as comete, basta de deixar à míngua de paz este povo dela sedento. Basta de destruição, é a hora de construir", clamou Francisco.

O pontífice argentino está acompanhado por líderes das Igrejas da Inglaterra e da Escócia, representantes das outras duas confissões cristãs deste país de 12 milhões de habitantes.

Francisco, que se desloca em uma cadeira de rodas, chegou a Juba após uma viagem de quatro dias na República Democrática do Congo (RDC). Ao chegar ao aeroporto, foi recebido pelo presidente Salva Kiir.

O presidente sul-sudanês anunciou que seu governo estava disposto a retomar as negociações de paz com uma coalizão de grupos rebeldes, que não assinaram o acordo de 2018 para encerrar a guerra civil.

O Executivo se retirou em novembro destas discussões iniciadas em Roma em 2019.

Horas antes da chegada do pontífice, as ruas - que foram asfaltadas para a ocasião - foram tomadas na capital. Muitos fiéis levavam cartazes dando boas-vindas a Francisco.

"Estou muito emocionada por vê-lo", disse à AFP Hanah Zachariah, de 20 anos. A jovem é parte de um grupo de cerca de 60 jovens que caminharam 400 km até a capital, pregando uma mensagem de unidade em um país com mais de 60 grupos étnicos.

A Igreja Católica preenche um vazio em áreas sem serviços governamentais e onde os trabalhadores humanitários costumam ser vítimas de ataques ou mortos violentamente.

A ONG Human Rights Watch pediu aos líderes religiosos que pressionem dirigentes do Sudão do Sul a "resolverem a atual crise de direitos humanos do país e a impunidade generalizada".

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Em 2019, um ano após a assinatura do acordo de paz, Francisco recebeu os dois inimigos, Salva Kiir e Riek Mashar, no Vaticano e se ajoelhou para beijar-lhes os pés, suplicando que fizessem as pazes.

Apesar dos pedidos do papa por reconciliação, a violência continua, incentivada por elites políticas.

Muitos esperam que sua visita contenha os confrontos. "Já sofremos muito. Agora queremos alcançar a paz", declarou Robert Michael, de 36 anos, que esperava vê-lo.

Para a visita de Francisco, foram mobilizados cerca de 5.000 policiais e soldados adicionais e a sexta-feira foi decretada feriado nacional.

Esta viagem deveria ter sido realizada em julho de 2022, mas foi adiada por problemas no joelho de Francisco.

Na RDC, outro país africano afetado pela violência, Francisco fez um discurso aos bispos congoleses na capital Kinshasa. O argentino pediu então que não se limitassem a "ação política" e se concentrassem no povo.

Na terça, ao iniciar sua visita, denunciou o "colonialismo econômico", que impede a RDC de se "beneficiar suficientemente de seus imensos recursos" naturais.

Esta é a quadragésima viagem internacional do chefe da Igreja Católica desde que foi eleito em 2013 e a terceira à África subsaariana.

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