Da AFP
O papa Francisco exortou os líderes sul-sudaneses nesta sexta-feira (3) a dar "um novo salto" pela paz, alertando que a história se lembrará deles por suas ações, ao iniciar uma visita de três dias ao conturbado país africano.
"O processo de paz e reconciliação exige um novo salto", declarou o pontífice de 86 anos em um discurso no palácio presidencial de Juba, capital do Sudão do Sul.
E esse pode ser um "caminho tortuoso, mas inadiável", acrescentou.
É a primeira visita de um pontífice ao Sudão do Sul desde que o país, de maioria cristã, conseguiu sua independência do Sudão, de maioria muçulmana, após décadas de conflito.
A guerra civil na qual o país mergulhou entre 2013 e 2018 deixou 380.000 mortos e milhões de deslocados.
"As gerações futuras honrarão ou apagarão a memória dos vossos nomes com base naquilo que agora fizerdes", advertiu Francisco às autoridades.
"Basta de sangue derramado, basta de conflitos, basta de violências e recíprocas acusações sobre quem as comete, basta de deixar à míngua de paz este povo dela sedento. Basta de destruição, é a hora de construir", clamou Francisco.
O pontífice argentino está acompanhado por líderes das Igrejas da Inglaterra e da Escócia, representantes das outras duas confissões cristãs deste país de 12 milhões de habitantes.
Francisco, que se desloca em uma cadeira de rodas, chegou a Juba após uma viagem de quatro dias na República Democrática do Congo (RDC). Ao chegar ao aeroporto, foi recebido pelo presidente Salva Kiir.
O presidente sul-sudanês anunciou que seu governo estava disposto a retomar as negociações de paz com uma coalizão de grupos rebeldes, que não assinaram o acordo de 2018 para encerrar a guerra civil.
O Executivo se retirou em novembro destas discussões iniciadas em Roma em 2019.
Horas antes da chegada do pontífice, as ruas - que foram asfaltadas para a ocasião - foram tomadas na capital. Muitos fiéis levavam cartazes dando boas-vindas a Francisco.
"Estou muito emocionada por vê-lo", disse à AFP Hanah Zachariah, de 20 anos. A jovem é parte de um grupo de cerca de 60 jovens que caminharam 400 km até a capital, pregando uma mensagem de unidade em um país com mais de 60 grupos étnicos.
A Igreja Católica preenche um vazio em áreas sem serviços governamentais e onde os trabalhadores humanitários costumam ser vítimas de ataques ou mortos violentamente.
A ONG Human Rights Watch pediu aos líderes religiosos que pressionem dirigentes do Sudão do Sul a "resolverem a atual crise de direitos humanos do país e a impunidade generalizada".
Em 2019, um ano após a assinatura do acordo de paz, Francisco recebeu os dois inimigos, Salva Kiir e Riek Mashar, no Vaticano e se ajoelhou para beijar-lhes os pés, suplicando que fizessem as pazes.
Apesar dos pedidos do papa por reconciliação, a violência continua, incentivada por elites políticas.
Muitos esperam que sua visita contenha os confrontos. "Já sofremos muito. Agora queremos alcançar a paz", declarou Robert Michael, de 36 anos, que esperava vê-lo.
Para a visita de Francisco, foram mobilizados cerca de 5.000 policiais e soldados adicionais e a sexta-feira foi decretada feriado nacional.
Na RDC, outro país africano afetado pela violência, Francisco fez um discurso aos bispos congoleses na capital Kinshasa. O argentino pediu então que não se limitassem a "ação política" e se concentrassem no povo.
Na terça, ao iniciar sua visita, denunciou o "colonialismo econômico", que impede a RDC de se "beneficiar suficientemente de seus imensos recursos" naturais.
Esta é a quadragésima viagem internacional do chefe da Igreja Católica desde que foi eleito em 2013 e a terceira à África subsaariana.