Peruanos voltam às ruas para protestar contra a presidente Boluarte

Os manifestantes tentaram entrar novamente no terminal aéreo, provocando a reação da tropa de choque, que respondeu com gás lacrimogêneo
Filipe Farias
Publicado em 09/02/2023 às 21:58
Novas manifestações pedindo a renúncia da presidente do Peru Dina Boluarte e em memória às mortes de 18 civis há um mês em Juliaca (sul) Foto: ERNESTO BENAVIDES / AFP


Da AFP

Milhares de pessoas foram às ruas de várias cidades peruanas nesta quinta-feira (9), em novas manifestações pedindo a renúncia da presidente Dina Boluarte e em memória às mortes de 18 civis há um mês em Juliaca (sul) durante um protesto violento.

Em cidades andinas e na região de selva, perto do Amazonas, foram registradas mobilizações pedindo uma saída para a crise política, que se seguiu à tentativa frustrada de autogolpe do ex-presidente Pedro Castillo e à chegada de sua vice, Boluarte, ao poder, em dezembro passado.

Em Juliaca foram registrados os protestos mais multitudinários. Os manifestantes pediram justiça aos mortos em 9 de janeiro, quando cerca de duas mil pessoas tentaram tomar de assalto o aeroporto Inca Manco Cápac, 1.300 km ao sul de Lima, na região de Puno.

A marcha avançou para o aeroporto, onde os manifestantes se concentraram para continuar com suas reivindicações. Ali, um contingente policial cercava o aeródromo, entrincheirado em um posto de defesa improvisado com sacos de areia, placas de metal e tábuas.

À tarde, os manifestantes tentaram entrar novamente no terminal aéreo, provocando a reação da tropa de choque, que respondeu com gás lacrimogêneo, segundo imagens da mídia local.

Choro e protesto

Horas antes, centenas de pessoas, incluindo parentes e amigos das vítimas fatais, foram às ruas em uma mobilização que juntou choro, palavras de ordem contra o governo e cantos de protesto, executados com instrumentos como trompetes e tambores.

"O sangue derramado jamais será esquecido" ou "Quantos mortos você quer para renunciar?" foram algumas das mensagens dirigidas à presidente Boluarte, enquanto mães e familiares exibiam fotos e imagens dos falecidos na violência dos protestos.

"Tiraram meu filho de mim, assassinando-o. Você não pode pagar pela vida do meu filho", exclamou Faustina Huanca, uma vendedora ambulante de 57 anos, em declarações à AFP.

Huanca, assim como muitos manifestantes, estava vestida de preto e participou de uma missa católica na qual o sacerdote fez algumas orações e abençoou os presentes com água benta espalhada com rosas vermelhas.

"Dois policiais passaram e atiraram em mim à queima-roupa (...) Tenho mais de 70 balas de chumbo em todo o corpo, (os médicos) só conseguiram extrair oito na primeira cirurgia que fizeram. O resto ficou no meu corpo", assegurou Diego Quispe, trabalhador independente de 34 anos.

"Que todo mundo saiba que em um dia como hoje, em 9 de janeiro, caíram nossos irmãos neste lugar", disse à AFP uma mulher chamada Edit, que não quis se identificar com seu nome completo e afirmou ser parente de uma vítima.

Lima e outras cidades

Na cidade de Arequipa, a segunda mais importante do país, 765 km ao sul de Lima, houve mobilizações pelo centro histórico até a Praça de Armas de centenas de pessoas de sindicatos e organizações sociais, segundo informes da imprensa local.

Também houve manifestações em Ayacucho (565 km ao sul de Lima), Pucallpa (730 km a nordeste) e Puno (1.300 km ao sul), onde exigiram a saída de Boluarte e justiça para as vítimas dos protestos.

Em Lima, na praça Dois de Maio, no centro, uma manifestação de protesto foi convocada para a parte desta quinta-feira, com uma centena de presentes até o momento.

Após dois meses de convulsão social e protestos no Peru, foram reportados 47 civis mortos em confrontos durante as manifestações e um policial falecido no contexto do conflito, segundo a Defensoria do Povo.

Além disso, 62 rodovias nacionais permanecem bloqueadas por manifestantes.

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