VIOLÊNCIA NA FRANÇA: avó de adolescente morto por policial pede calma contra atos violentos

Idosa afirmou a uma TV local que a morte do neto é responsabilidade apenas do policial que cometeu o crime e que a violência precisa terminar
Roberta Soares
Publicado em 02/07/2023 às 21:01
A França registrou no sábado (1º) a quinta noite seguida de protestos nas ruas contra a violência policial. Adolescente de 17 anos foi morto por um policial após furar uma blitz em Paris, na terça-feira (27/6) Foto: Richard BOUHET / AFP


Em meio aos violentos protestos que tomaram conta de diversas cidades da França há cinco dias, a avó do jovem de 17 anos morto por um policial militar depois de furar uma blitz, na terça-feira (27/6), em Nanterre, perto de Paris, fez um apelo por calma e paz no País.

A idosa, identificada apenas como Nadia, pediu calma para as centenas de pessoas que saíram às ruas em protestos contra a violência policial praticada contra o neto, Nahel. “Parem com isso. É o que peço às pessoas que estão quebrando coisas. Vocês não deveriam quebrar vitrines ou saquear escolas. Estão usando o caso do Nahel como um pretexto. Devem parar”, pediu em uma entrevista ao canal francês BFM TV.

A idosa afirmou que a família culpa apenas o policial envolvido no crime e, não, toda a polícia francesa. "É só com isso que estou brava. A culpa é apenas do policial que matou meu neto. E, não, de toda a polícia francesa. Para nossa sorte, temos a polícia", disse.

Nadia relatou, ainda, que sua filha, mãe de Nahel, está muito abalada com a morte do rapaz. "Eu perdi minha filha. Sem o filho, ela está perdida. Minha filha não tem mais vida, acabou, e eu a entendo. Como avó, levaram minha filha e meu neto. Levaram os dois. Estou cansada, não aguento mais. Eu não durmo mais e até desliguei a TV, desliguei tudo", desabafou.

VIOLENTOS PROTESTOS TOMARAM CONTA DO PAÍS

A França registrou no sábado (1º) a quinta noite seguida de protestos nas ruas contra a violência policial. Nos últimos dias, manifestantes incendiaram carros, saquearam lojas e atacaram prédios oficiais, como delegacias e a casa do prefeito de L'Hay-les-Roses, cidade ao sul de Paris.

Zakaria ABDELKAFI / AFP - Franceses protestam nas ruas contra a morte de um jovem de 17 anos, baleado a queima-roupa por um policial

O ministro francês do interior, Gerald Darmanin, disse que a última manifestação foi menos intensa, com a mobilização de 45 mil policiais pelo país durante o funeral de Nahel na cidade de Nanterre, nos arredores de Paris.

Segundo ele, os 2 mil manifestantes presos são, em boa parte, menores de idade. A média de idade do grupo é de 17 anos.

CARRO É USADO PARA ATACAR CASA DE PREFEITO

O ataque com um carro à casa de um prefeito do subúrbio de Paris marcou a quinta noite consecutiva de distúrbios na França, embora a violência tenha sido menos intensa do que nas noites anteriores.

A França vive uma onda de violência desde a publicação do vídeo da morte de Nahel, morto a com tiros disparados à queima-roupa por um policial durante um controle de tráfego, na terça.

A raiva da população se transformou em distúrbios na França e em indignação para além de suas fronteiras, especialmente na Argélia, país de origem da família do jovem morto.
Um dos incidentes mais graves ocorreu em uma pequena localidade nos subúrbios de Paris, L'Haÿ-les-Roses, onde um carro colidiu com a casa do prefeito na madrugada deste domingo (2) e depois pegou fogo.

JEFF PACHOUD / AFP - O governo francês informou a detenção de 875 pessoas (408 em Paris e nos subúrbios) e 249 agentes feridos, assim como 492 edifícios atacados e 2.000 veículos incendiados

A esposa e um de seus dois filhos pequenos ficaram levemente feridos, enquanto o prefeito, Vincent Jeanbrun, do partido de direita Os Republicanos, estava na prefeitura coordenando a resposta aos distúrbios.

Ao canal de TV francês TF1, Vincent Jeanbrun disse: "somos prefeitos. Não somos perfeitos. Fazemos coisas que estão indo na direção certa, outras que são menos compreendidas. Não pedimos unanimidade, mas nunca imaginaria que minha família seria ameaçada de morte e que teríamos um atentado nesta bela cidade”.

PRESIDENTE FRANCÊS TENTA CONTER VIOLÊNCIA

O presidente francês, Emmanuel Macron, anunciou uma reunião sobre a situação, neste domingo (2) à noite, com sua primeira-ministra e os ministros do Interior e da Justiça.
De acordo com o Ministério Público, os primeiros indícios são de que "o veículo foi lançado com a intenção de incendiar a casa".

A primeira-ministra Elisabeth Borne classificou o ataque como "intolerável" e a Associação de Prefeitos da França (AMF) convocou uma manifestação na segunda-feira, ao meio-dia (7h em Brasília), em frente às prefeituras de todo o país.

Segundo o presidente da associação, David Lisnard, desde terça-feira "150 prefeituras ou prédios municipais foram atacados".

 

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