*Especial para o JC
No último dia 07/10, exatamente 50 anos e um dia depois da Guerra do Yom Kippur (Dia do Perdão), Israel viveu um dos piores atentados da sua história. As autoridades do país já contabilizaram mais de 1000 mortes nos ataques. Os atos de terrorismo, majoritariamente praticados contra a população civil, partiram da Faixa de Gaza, um pequeno território ao sul de Israel que faz fronteira com o Egito, e é controlado por um movimento islâmico fundamentalista chamado Hamas. Esse grupo, cujo acrônimo significa "Movimento de Resistência Islâmica", nasceu em 1987 no contexto das revoltas conhecidas como "intifadas".
Esse movimento radical é herdeiro da Irmandade Muçulmana, originada na cidade do Cairo, e foi fundado por Ahmed Yassin, Aziz Al-Rantissi e Mohamed Taha. No terceiro capítulo, da "Carta de Princípios do Hamas", os terroristas expressam que "a terra Palestina é uma terra islâmica", deixando claro que a convivência com os judeus é impensável. Atualmente, esse grupo controla a Faixa de Gaza, de onde vieram os ataques. O que é esse território? Como ele se formou ao longo do tempo? É isso que explicaremos a seguir.
Podemos compreender que a Faixa de Gaza teve transformações ao longo do tempo. A primeira foi devido à Guerra de Independência de Israel, que teve início em 1948, logo depois da proclamação da partilha da região do antigo mandato britânico. O fim das hostilidades levou a vários palestinos e refugiados a se assentarem naquela localidade. O fim da guerra trouxe o Egito como ator relevante: a faixa ficou sob administração egípcia até o início de uma nova guerra, a de 1967, conhecida como Guerra dos Seis Dias. Apenas com os Acordos de Oslo, em 1993, assinado por Yitzhak Rabin e Yasser Arafat, que criou a Autoridade Nacional Palestina (ANP), é que a região voltou a ter administração dos palestinos.
Será apenas em 2005 que Israel, durante o governo de Ariel Sharon, retira suas tropas e colonos de Gaza. Em 2007, o Hamas venceu as eleições contra o Fatah, da ANP, liderada por Mahmoud Abbas. O que seguiu foi uma violenta guerra civil em que os militantes extremistas ganharam e expulsaram a Autoridade Palestina da Faixa de Gaza. Desde então, o grupo controla, com mão de ferro, todos os aspectos da vida local - política, econômica e militar.
No ano seguinte, as Forças de Defesa de Israel lançaram a Operação Chumbo Fundido, visando eliminar a infraestrutura e destruir o grupo. Yaoav Gallant, atual ministro da Defesa, que estava na guerra daquela época, afirmou que eles foram parados pela "política".
A pergunta que fica é: e qual o futuro da Faixa de Gaza? O território, menor que a cidade de São Paulo, é densamente povoado tendo, aproximadamente, 2,1 milhão de habitantes. Os ataques terroristas do Hamas desencadearam uma forte reação das autoridades judaicas e, como mencionou Gallant, parece que o fator político não será um empecilho: os soldados devem fazer uma incursão terrestre e finalizar com o grupo extremista.
Pelo menos é o que as pesquisas de opinião israelenses detectaram. Enquanto isso, a população civil da localidade, é usada como escudo humano para as ações dos seus líderes, parece ter um destino sombrio à frente. Depois que a guerra terminar, quem fará a administração de Gaza? A ideia dominante no momento é retomar o território e
devolvê-lo para a ANP. De qualquer forma, a sina da região parece ser uma só: instabilidade e politicamente complexa com um grande passado pela frente.
*Antonio Henrique Lucena Silva é Doutor em Ciência Política/Estudos Estratégicos pela UFF e professor da UNICAP