"Antigamente, quando tinha guerra, os soldados iam pro campo de batalha e era soldado matando soldado. Agora não, o cara fica de longe jogando foguete e não sabe na cabeça de quem vai cair, não sabe quem vai morrer", acrescentou.
No dia 7 de outubro, o Hamas, que controla a Faixa de Gaza, lançou um ataque surpresa de mísseis contra Israel e a incursão de combatentes armados por terra, matando civis e militares e fazendo centenas de reféns israelenses e estrangeiros. Em resposta, Israel bombardeou várias infraestruturas do Hamas, em Gaza, e impôs cerco total ao território, com o corte do abastecimento de água, combustível e energia elétrica.
Os ataques já deixaram milhares de mortos, feridos e desabrigados nos dois territórios. Em Gaza, a autoridade de saúde informou que mais de 7,3 mil palestinos, incluindo 3 mil crianças, foram mortos.
DIÁLOGO
Lula defende o diálogo para uma solução pacífica para a região e a abertura de um corredor humanitário e diz que tem feito um esforço para que as negociações aconteçam. "Se eu tiver informação que tem um presidente de tal país que é amigo do Hamas, é pra esse que eu vou ligar: ‘ô cara, fala pro Hamas libertar os reféns, pra que ficar com inocente lá retido? Liberta, tem gente que precisa de remédio para tomar, liberta os reféns’. E também falar pro governo de Israel [...] abrir as fronteiras para saírem os estrangeiros", disse.
A autoridade do Hamas diz que a libertação de reféns depende um cessar-fogo.
O presidente Lula continua manifestando preocupação com o grupo de cerca de brasileiros que estão na Faixa de Gaza, aguardando um acordo entre Israel e o Egito para abertura da fronteira ao sul do enclave (termo da geografia, que se refere a um território totalmente cercado por outro, com características políticas, sociais e culturais distintas).
"Alguém tem que falar em paz", disse. "É com o poder desse diálogo que eu acho que em algum momento a gente vai conseguir sentar à mesa [de negociação]. Eu não posso como ser humano, a gente ver a quantidade de crianças mortas em uma guerra e ninguém assumir a responsabilidade por essas mortes. Cada um se acha mais inocente e as crianças vão perecendo", acrescentou.
Desde o início do conflito, Lula conversou com diversos líderes mundiais sobre o conflito – de Israel, Autoridade Palestina, Irã, Turquia, Egito, Emirados Árabes, França, Rússia, Conselho Europeu e Catar. Segundo o presidente brasileiro, ainda estão previstas conversas com líderes de China, Índia e África do Sul.
PODER DE VETO
O presidente também comentou sobre a rejeição, no Conselho de Segurança, da proposta apresentada pelo governo brasileiro que pedia pausas humanitárias aos ataques entre Israel e o Hamas. Do total de 15 votos, houve 12 votos a favor, duas abstenções, sendo uma da Rússia, e um voto contrário, por parte dos Estados Unidos. Por se tratar de um membro permanente, o voto norte-americano resultou na rejeição da proposta brasileira.
Lula defendeu o fim do poder de veto dos cinco membros permanentes do colegiado - China, França, Rússia, Reino Unido e Estados Unidos – e a abertura do Conselho de Segurança para novos membros.
"É uma contradição cinco países do Conselho de Segurança. São eles que fabricam armas, que vendem armas e que fazem guerra. É a contradição. Por isso queremos mudar, queremos que entrem vários países. Queremos democratizar o Conselho de Segurança da ONU porque hoje ele vale muito pouco", disse.
O presidente lembrou que o diplomata brasileiros Oswaldo Aranha presidiu, em 1947, a sessão da Assembleia-Geral da ONU que criou o Estado de Israel. "Portanto, a ONU, agora, deveria ter coragem de assegurar a criação do Estado Palestino, para viverem em paz, harmonicamente", disse.
A guerra entre Israel e Hamas tem origem na disputa por territórios que já foram ocupados por diversos povos, como hebreus e filisteus, dos quais descendem israelenses e palestinos.
Além dos membros permanente, hoje, fazem parte do conselho rotativo Albânia, Brasil, Equador, Gabão, Gana, Japão, Malta, Moçambique, Suíça e Emirados Árabes. Para que uma resolução seja aprovada, é preciso o apoio de nove do total de 15 membros, sendo que nenhum dos membros permanentes pode vetar o texto.
"A proposta do Brasil não foi rejeitada, ela teve 12 votos. Ela foi vetada por causa de uma loucura que é o direito de veto concedido aos 5 países titulares do Conselho de Segurança, que eu sou radicalmente contra. Isso não é democrático", disse.