A Rússia acusou, nesta segunda-feira (30), a Ucrânia e seus aliados de terem organizado os distúrbios de domingo em um aeroporto da república russa do Daguestão, de maioria muçulmana, nos quais os manifestantes supostamente estavam à procura de passageiros israelenses.
Na noite de domingo, uma multidão invadiu a pista e o terminal do aeroporto da capital Makhachkala, em meio às tensões provocadas no mundo pelos bombardeios israelenses contra a Faixa de Gaza, em represália ao sangrento ataque do Hamas no sul de Israel em 7 de outubro.
"Os acontecimentos da noite de ontem em Makhachkala foram instigados também através das redes sociais, entre outros a partir da Ucrânia, por agentes dos serviços especiais ocidentais", declarou o presidente russo Vladimir Putin.
Os ucranianos, "sob a direção de seus chefes ocidentais, tentam provocar pogroms na Rússia", acusou.
O presidente russo apontou, entre outros, o papel de Estados Unidos, rival da Rússia e apoiador incondicional de Kiev, no conflito desencadeado após a ofensiva de Moscou na Ucrânia em fevereiro de 2022.
"Sem sucesso no campo de batalha, [os Estados Unidos] desejam nos dividir, no que concerne à Rússia, por dentro, para nos enfraquecer e semear a confusão", disse Putin na televisão russa.
EUA
O porta-voz do conselho de Segurança Nacional da Casa Branca, John Kirby, reagiu às acusações e classificou as declarações de "clássica retórica russa".
"Quando algo ruim acontece em seu país, acusam outros", afirmou. "O Ocidente não tem nada a ver com isso", insistiu.
Por sua vez, o porta-voz do Departamento de Estado americano, Matthew Miller, disse que considerava "absurdas" as acusações de Moscou a Kiev.
Horas antes, a porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da Rússia, Maria Zakharova, afirmou que os enfrentamentos no aeroporto tinham sido "o resultado de uma provocação planejada e dirigida do exterior", na qual Kiev havia desempenhado um papel "chave e direto".
A Rússia lançou uma ofensiva na Ucrânia em fevereiro de 2022. O porta-voz da diplomacia ucraniana, Oleh Nikolenko, rechaçou as acusações e denunciou uma "tentativa de colocar a responsabilidade" em seu país.
O presidente ucraniano, Volodimir Zelensky, que é judeu, considerou ontem que os incidentes ilustravam a presença de uma "cultura russa de ódio contra outras nações".
MANIFESTAÇÕES
Vídeos publicados nas redes sociais e por veículos da imprensa russa mostram um grupo de pessoas inspecionando os veículos que deixavam o aeroporto, derrubando portas no terminal e cercando um avião na pista.
Um dos manifestantes levava um cartaz que dizia "os assassinos de crianças não têm lugar no Daguestão", de acordo com um dos vídeos.
O site Flightradar informou que um voo da companhia Red Wings procedente de Tel Aviv pousou em Makhachkala às 19h (13h de Brasília).
O site independente russo Sota informou que era um voo de trânsito, que decolaria em direção a Moscou duas horas mais tarde.
Nesta segunda, um grande dispositivo de segurança cercava o aeroporto, enquanto os funcionários começavam a reparar as barreiras danificadas, reportou um jornalista da AFP.
O aeroporto sofreu "danos significativos", informou seu diretor-geral, mas conseguiu reabrir na tarde de hoje, de acordo com a agência de aviação russa.
A polícia prendeu 60 pessoas e mais de 150 "participantes ativos nos distúrbios" foram identificados, informou o Ministério do Interior russo em nota, acrescentando que nove policiais ficaram feridos e dois deles foram hospitalizados.
DISTÚRBIOS CONTROLADOS
Sergei Melikov, presidente do Daguestão, afirmou nesta segunda-feira que os distúrbios foram organizados em território ucraniano, em pleno conflito armado entre Kiev e Moscou.
"Os iniciadores desta ação são evidentemente nossos inimigos, os que a organizaram a partir do território ucraniano", disse Melikov, segundo a agência RIA Novosti.
Melikov acusou, em particular, um canal de Telegram crítico às autoridades locais, "Utro Dagestan", liderado por "traidores" na Ucrânia.
O canal, que tem quase 60.000 seguidores, divulgou uma convocação de protesto no aeroporto de Makhachkala no domingo à noite para impedir a chegada de passageiros "indesejáveis" no voo da Red Wings procedente de Tel Aviv.
Durante os incidentes, Israel pediu à Rússia para proteger "todos os cidadãos israelenses e todos os judeus". O governo dos Estados Unidos, por sua vez, condenou o que classificou de "manifestações antissemitas".