Uma tradição que se repete há mais 150 anos na Argentina, mas que dessa vez terá inspiração americana. Essa será a estética da posse de Javier Milei como presidente da Argentina neste domingo, 10. A cerimônia começará cedo, na sede do Congresso Nacional e deve se arrastar até a noite, no Teatro Colón, em Buenos Aires.
A equipe de Milei não divulgou uma agenda oficial do evento, sendo a grande parte das informações sobre os traspasso de cargo passada por fontes internas à imprensa argentina. Em suas redes sociais, Milei convocou seus apoiadores a estarem na Praça do Congresso por volta das 11h.
O libertário deve sair às 10h30 do Hotel Libertador, onde montou seu QG desde o primeiro turno das eleições, para se dirigir ao prédio legislativo. Os horários entram em conflito com um planejamento da segurança presidencial, que coloca a chegada de Milei ao Congresso para depois das 12h.
Ali, ele mudou o protocolo. O costume é o presidente de saída, no caso Alberto Fernández, entregar o bastão e a faixa presidencial ao eleito, então Milei fazer um juramento, assinar o "Livro de Honras do Honorável Senado da Nação e da Câmara de Deputados", e então um discurso dirigido aos legisladores.
Mas o libertário decidiu fazer diferente e imitar a cerimônia dos Estados Unidos, em que o presidente empossado discursa das escadarias do Capitólio para a multidão. Para a novidade, foram montadas estruturas para a transmissão do discurso presidencial na Praça do Congresso.
O discurso é mantido "não a sete, mas a cem chaves", segundo a imprensa argentina. Apenas o circulo mais próximo de Milei teria acesso ao discurso: Karina Milei, sua irmã, Guillermo Francos e Santiago Caputo, seus nomes fortes.
Então, o presidente empossado seguirá do Congresso para a Casa Rosada. Os prédios dos dois poderes são unidos pela famosa Avenida de Mayo. De acordo com a imprensa argentina, Milei fará o trajeto em um conversível, que não será o Cadillac preto que Juan Domingo Perón comprou em 1955, pois não ficou pronto a tempo. Membros do partido A Liberdade Avança (LLA) disseram, no entanto, que um colecionador emprestará um similar.
Acostumado a cumprimentar seus apoiadores de conversíveis e até adentrar no meio da multidão, a atitude de Milei gera apreensão na segurança presidencial. De acordo com o jornal La Nación, o operativo de segurança será um dos maiores já montados para uma posse, maior que o montado para a saída de Cristina Kirchner da presidência em 2015.
Pela previsão, às 13h Milei deve estar na Casa Rosada, onde receberá as delegações estrangeiras. Ali deve estar Jair Bolsonaro, com quem o libertário se reuniu na última sexta-feira, 7, e que deve receber o mesmo tratamento que chefes de Estado em exercício. Luiz Inácio Lula da Silva não participará da cerimônia, enviando o chanceler Mauro Vieira.
Além de Bolsonaro, o rei Felipe VI da Espanha estará presente, junto com Santiago Peña do Paraguai, Viktor Orbán da Hungria e até o nome de Volodmir Zelenski foi confirmado pela equipe do libertário, embora não houvesse informações de chegada do ucraniano até sábado à noite. Se vier, será a primeira vez que Zelenski visitará a América Latina.
Após um almoço, Milei fará a apresentação de seu Gabinete e empossará seus ministros e secretários de Estado. Alguns nomes já confirmados pelo libertário são: Luis "Toto" Caputo no ministério da Economia, Nicolás Posse como chefe de Gabinete, Patricia Bullrich na Segurança, Luis Petri (vice de Patricia) na Defesa, Guillermo Francos no Interior, Guillermo Ferraro na Infraestrutura, Diana Mondino nas Relações Exteriores, Mariano Cúneo Libarona na Justiça, Sandra Petovello no Capital Humano (que concentrará Educação, Trabalho e Desenvolvimento Social) e Mario Russo na pasta da Saúde (ministério que Milei havia prometido erradicar).
A promessa do libertário em seu famigerado vídeo de "ministérios afuera", era reduzir as pastas para apenas oito, mas neste sábado ele voltou atrás e disse que manteria Saúde como ministério e não mais secretaria, deixando o número em nove. Porém, até a apresentação, os nomes podem ser mudados - e mudaram muito ao longo da transição, ficando de fora figuras-chaves do La Libertad Avanza, como Ramiro Marra e Carolina Píparo.
Por fim, a cerimônia de posse terminará com uma missa na Catedral Metropolitana e um evento de gala no Teatro Colón, com a ópera Madame Butterfly. Milei não fará eventos na tradicional Plaza de Mayo, como fez Alberto Fernández e Cristina Kirchner na última posse.
Embora adaptada, o cerne da cerimônia de posse segue uma tradição antiga da Argentina, que começou em 1868, quando Bartolomé Mitre transferiu os atributos presidenciais para Domingo Faustino Sarmiento. O ritual se manteve por praticamente todas as posses presidenciais desde então, com exceção dos períodos ditatoriais.
O dia 10 de dezembro também é simbólico. A data foi escolhida após o retorno da Argentina para democracia depois de sete anos de regime militar, quando Raúl Alfonsín tomou posse em 1983. A data consta no artigo 1º da Lei da Cerimônia de Posse Presidencial, que diz que o dia 10 de dezembro é instituído como o dia "para proceder à realização da Cerimônia de Juramento do Presidente eleito no Honorável Congresso da Nação".