ARGENTINA

Ao assumir presidência da Argentina, Javier Milei prepara tratamento de choque

Vários líderes latino-americanos comparecem à posse de Milei, como o chileno Gabriel Boric e o paraguaio Santiago Peña; e europeus, entre eles o ucraniano Volodimir Zelensky e o húngaro Viktor Orban, além do rei da Espanha, Felipe VI

Cadastrado por

AFP

Publicado em 10/12/2023 às 11:01
Javier Milei toma posse como presidente da Argentina neste domingo (10) - JUAN MABROMATA/AFP

Javier Milei, economista libertário e ultraliberal de 53 anos, assume neste domingo (10), a Presidência da Argentina, determinado a dar-lhe um tratamento de choque com o qual promete tirar o país da sua agonizante crise econômica, embora precise do apoio da oposição.

Alheio à política tradicional, à qual se refere depreciativamente como "a casta", Milei prestará juramento ao cargo perante o Parlamento, conforme a tradição, mas fará um discurso aos cidadãos, que começaram a se reunir desde cedo na praça em frente ao Congresso, com bandeiras, camisas da seleção de futebol e cartazes.

A data comemora os 40 anos do fim da última ditadura militar iniciada em 1976 e encerrada com a posse do presidente Raúl Alfonsín, em 10 de dezembro de 1983.

Vários líderes latino-americanos comparecem à posse de Milei, como o chileno Gabriel Boric e o paraguaio Santiago Peña; e europeus, entre eles o ucraniano Volodimir Zelensky e o húngaro Viktor Orban, além do rei da Espanha, Felipe VI.

"Esperamos que ele tenha sorte, que esteja bem, que o deixem fazer isso, isso é o mais importante. Ele recebe um país arruinado, em último lugar", disse Raúl Serenga, um aposentado de 72 anos, à AFP. 

Terceira economia da América Latina, a Argentina registra uma inflação anualizada superior a 140% e uma taxa de pobreza superior a 40%. Para enfrentar esta crise, Milei propôs medidas drásticas para cortar gastos públicos, reduzir o Estado e liberalizar num país habituado durante anos a subsídios e déficits fiscais.

"Se Milei cumprir 50% do que disse, estaremos mudando muito o nosso futuro", disse Franco Propato, um vendedor de motocicletas de 23 anos ,que está disposto a dar tempo ao novo presidente "porque a política que tivemos durante 40 anos está nos deixando com uma bagunça muito grande, que não terá como ser consertada de um dia para o outro".

A Liberdade Avança, o partido de extrema direita de Milei, é apenas a terceira minoria no Congresso, o que o obriga a conciliar muitas das suas reformas com outras forças políticas.

"Há uma tentativa de expandir a coalizão e ampliar um pouco mais o apoio legislativo do governo. Mas tudo isso tem um preço. Se negociar, não será tão anticasta", disse à AFP o cientista político Diego Reynoso.

O presidente terá, no entanto, a liberdade de decidir sobre a desvalorização do peso e algumas medidas de redução de gastos. A dolarização, tema central da sua campanha, foi suspensa enquanto se aguardam os primeiros resultados do seu plano econômico.

"A primeira prova de fogo decisiva para o presidente será decidir se ele vai realmente interromper a emissão (de dinheiro) ou se adota uma postura mais pragmática e deixa para depois o objetivo da não emissão", disse à AFP o economista Víctor Beker, da Universidade de Belgrano.

"Estaríamos em uma situação de aumento dos preços, sem dinheiro no bolso das pessoas. Haverá um choque entre as promessas e a realidade. Veremos qual será o resultado", acrescentou.

Apoiadores de Milei se reuniram no sábado à noite em frente ao Banco Central argentino para um "velório" simbólico com coroas de flores e até um aviso fúnebre, uma referência direta a uma promessa do novo presidente de fechar o órgão, que ele esclareceu que não será instantâneo.

De um total de 18 ministérios do governo de Alberto Fernández, o de Milei sairá apenas com metade.

Depois de alertar que provavelmente haverá estagflação nos primeiros dias de seu governo, Milei garantiu que manterá a assistência social aos mais necessitados.

Mas assim como há entusiasmo entre os seus apoiadores, outros estão preocupados com o que está por vir.

"Acho que a inflação continuará, talvez pior do que antes. Não vejo nada de bom no futuro", disse Martina Soto, uma mulher de 66 anos, perto do Congresso.

Tags

Autor

Veja também

Webstories

últimas

VER MAIS