Editorial JC: O cessar-fogo esperado
Acordo entre Israel e os terroristas do Hezbollah, anunciado nesta terça, promete uma trégua de dois meses na região mais conflituosa do mundo
Um passo fundamental para a estabilidade regional - foi como o primeiro-ministro do Líbano, Nayib Mikati, recebeu a notícia do tão esperado cessar-fogo no Oriente Médio. O acordo finalmente firmado entre o governo israelense e o grupo terrorista Hezbollah pode fazer a vida voltar a ser próxima do normal para as populações do maior barril de pólvora do planeta. A eleição de Donald Trump nos Estados Unidos pode ter tido alguma influência, segundo analistas, mais por causa da expectativa do que pode acontecer a partir de janeiro no cenário global, do que por qualquer interesse pacifista das partes envolvidas.
O fim dos conflitos na fronteira de Israel com o Líbano a partir desta quarta foi confirmado pelo ainda presidente dos EUA, Joe Biden. O papel da Casa Branca vem sendo demandado desde que a invasão de Israel por terroristas do Hamas causou uma reação em cadeia que estava até agora em curso, numa espiral sem controle que tem se agravado com a expansão dos atores na guerra, como o Irã e a Rússia. Aliás, a relação entre a guerra na Ucrânia e a Faixa de Gaza, longe de ser óbvia, vem sendo mencionada, mas ainda será objeto do olhar distanciado dos historiadores do futuro.
Mas o direito à defesa continua sendo a principal narrativa de Benjamin Netanyahu e seus aliados, inclusive os norte-americanos. Após a morte de dezenas de milhares de palestinos, e a ampliação dos ataques ao Libano e ao Irá, o governo israelense embarca no cessar-fogo com o discurso pronto para voltar aos combates, se voltar a sofrer um ataque. Desde muito antes do bárbaro ataque do Hamas, o olho por olho vem sendo a regra no Oriente Médio. Difícil discernir a razão em territórios armados de radicalismos e financiados pelo ódio que se retroalimenta.
Mesmo sendo difícil acreditar numa paz duradoura, o anúncio do acordo traz alento e esperança ao final de um ano especialmente delicado para as relações internacionais, até com o retorno do horror nuclear como estratégia de imposição do poder. Falta um cessar-fogo na Ucrânia, antes que a Guerra Fria de russos e norte-americanos siga esquentando na Europa, atemorizando o mundo. Tomara que a posição de Israel inspire disposição semelhante em Vladimir Putin, mesmo que temporariamente.
A solução dos dois Estados permanece como agenda negada por Israel, apesar do apoio do atual governo dos EUA e de grande parcela da comunidade internacional. Sem o povo palestino ser visto em sua soberania e direitos históricos, a interrupção do conflito na região pode ser apenas mais um intervalo em uma longa tragédia de fogo e morte.