No Natal, Papa Francisco pede silêncio das armas e fim das divisões

Como acontece todos os anos em sua tradicional mensagem "urbi et orbi", pontífice argentino citou os principais conflitos e focos de tensão no planeta

Publicado em 25/12/2024 às 20:29
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O papa Francisco pediu nesta quarta-feira (25) para calar as armas e "superar as divisões", em uma mensagem aos milhões de cristãos que celebram o Natal, mais uma vez ofuscado pelos conflitos em Gaza, na Ucrânia e outras regiões.

Como acontece todos os anos em sua tradicional mensagem "urbi et orbi" (à cidade e ao mundo), o pontífice argentino citou os principais conflitos e focos de tensão no planeta.

"Convido todas as pessoas (...) a tornarem-se peregrinos da esperança, a calarem as armas e a superarem as divisões", afirmou diante de milhares de fiéis reunidos na praça de São Pedro do Vaticano.

Situação humanitária na Faixa de Gaza

Jorge Bergoglio, 88 anos, voltou a denunciar a situação humanitária na Faixa de Gaza. "Com os olhos postos no berço de Belém, dirijo o meu pensamento para as comunidades cristãs de Israel e da Palestina, em particular de Gaza, onde a situação humanitária é gravíssima. Haja um cessar-fogo, libertem-se os reféns e ajude-se a população esgotada por causa da fome e da guerra", disse.

Na terça-feira, o pontífice deu início ao "Ano Santo" 2025 da Igreja Católica, para o qual são esperados mais de 30 milhões de peregrinos em Roma.

Durante a missa do Galo, o pontífice já havia pedido um pensamento para as "crianças metralhadas", as "bombas sobre escolas e hospitais", em alusão aos bombardeios de Israel em Gaza.

Papa Francisco recordou Haiti, Venezuela, Nicarágua e Colômbia

Francisco, que citou 18 países na mensagem "urbi et orbi", também recordou o Haiti, a Venezuela, a Colômbia e a Nicarágua, entre outros. Ele pediu para que os países do continente americano, "na verdade e na justiça, encontrem o quanto antes soluções eficientes, para promover a harmonia social".

O jesuíta também enviou uma mensagem à Ucrânia, que celebra pela segunda vez em sua história moderna o Natal no dia 25 de dezembro, e não em 7 de janeiro como no calendário juliano seguido pela Igreja Ortodoxa russa.

"Calem-se as armas na martirizada Ucrânia. Tenha-se a audácia de abrir a porta às negociações e aos gestos de diálogo e de encontro, para alcançar uma paz justa e duradoura", afirmou o pontífice, poucas horas após a Rússia lançar mais de 70 mísseis contra o sistema de energia ucraniano.

Celebrações de Natal silenciosas na cidade de Belém

Em Belém, cidade da Cisjordânia ocupada e berço do cristianismo, as celebrações foram silenciosas.

Desde o início da guerra de Gaza, em outubro de 2023, Belém prescindiu da sua enorme árvore de Natal e das decorações que normalmente atraem os turistas, restando apenas algumas poucas luzes festivas.

"Este ano, limitamos a nossa alegria", disse o prefeito de Belém, Anton Salman.

O patriarca latino de Jerusalém, Pierbattista Pizzaballa, contou a uma pequena multidão que acabara de retornar de Gaza, onde viu "tudo o que foi destruído, a pobreza, o desastre".

"Mas também vi vida. Não se rendem. Assim, vocês tampouco devem se render", completou.

Hisham Makhul, morador de Jerusalém, afirmou que passar o Natal na cidade santa representa uma "via de escape" da guerra entre Israel e Hamas, que devasta a Faixa de Gaza há mais de 14 meses.

"O que estamos vivendo é muito difícil e não podemos esquecer completamente", declarou Makhul, em alusão ao território cercado.

O Ministério da Saúde do governo do Hamas em Gaza relatou nesta quarta-feira que 23 pessoas morreram nas últimas 24 horas no território palestino.

Cristãos que vivem em Gaza e na Síria

Quase 1.100 cristãos vivem em Gaza e centenas deles se reuniram em uma igreja para rezar pelo fim da guerra.

"Este Natal tem cheiro de morte e destruição", disse George Al Sayegh, um deslocado palestino na Cidade de Gaza.

O primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, se dirigiu na terça-feira aos cristãos e agradeceu o apoio na luta de Israel contra as "forças do mal".

Na Síria, onde Bashar al-Assad foi deposto em 8 de dezembro, as novas autoridades, dominadas por grupos islamistas, tentaram tranquilizar os cristãos, em um país maioria sunita.

"Não era algo evidente reunir-se nas atuais circunstâncias e rezar com alegria, mas, graças a Deus, fizemos isso", afirmou Sarah, que compareceu à catedral ortodoxa de São Jorge em Damasco.

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