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Guerra na Ucrânia: Europa perde força em novo cenário geopolítico, avalia especialista

O cientista político Thales Castro analisa impactos da guerra, papel dos EUA e riscos para a Europa diante da nova dinâmica global

Por Maria Clara Trajano Publicado em 05/03/2025 às 16:04

O cenário geopolítico global passa por uma transformação acelerada, e a guerra entre Rússia e Ucrânia tem papel central nesse processo.

Em entrevista à Rádio Jornal nesta quarta-feira (5), o cientista político Thales Castro avaliou as implicações do conflito para os diferentes atores envolvidos e destacou que a Europa é a principal prejudicada nessa nova configuração.

"Estamos vivendo um momento de extrema ebulição na conjuntura internacional. Desde 2020, com a pandemia, passando pela retirada das tropas americanas do Afeganistão, a invasão da Ucrânia em 2022 e o avanço da direita conservadora na Europa, há um jogo geopolítico sendo redefinido", afirmou Castro.

O especialista mencionou a recente capa da revista Foreign Affairs, intitulada The Center Will not Hold ("O centro não consegue se manter coeso"), como um reflexo das mudanças profundas na ordem mundial.

A posição dos EUA e o discurso de Donald Trump

A postura dos Estados Unidos no conflito também foi abordada na entrevista. Segundo Thales Castro, o governo americano tem reduzido significativamente o apoio financeiro e militar à Ucrânia, o que impacta diretamente as estratégias de Kiev.

"O presidente Trump reafirmou isso em seu discurso no Congresso americano. O apoio bilionário que a Ucrânia recebia dos Estados Unidos foi cortado, e Zelensky já sente essa pressão", destacou.

Além disso, Trump tem se posicionado como um potencial mediador da paz, o que, segundo Castro, pode fortalecer sua influência global.

"Ele quer se capitalizar como o peacemaker, aquele que trará a paz. Mas, ao mesmo tempo, há um jogo de negociações diretas entre Rússia e EUA, como ocorreu recentemente na Arábia Saudita", explicou.

A nova realidade da Europa e da Otan

A mudança na postura americana deixa a Europa mais vulnerável. O cientista político destacou que, sem o suporte dos EUA, os países europeus precisarão reorganizar seus orçamentos para manter sua segurança.

"A Europa vai perceber que é a grande perdedora desse contexto todo. A Otan depende fortemente do orçamento americano. Agora, os países europeus terão que financiar sozinhos sua defesa, o que pode gerar déficits fiscais significativos", avaliou Castro.

A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, já alertou sobre a necessidade de fortalecimento militar do bloco. "O discurso na Europa já mudou, e agora há uma corrida para se armar, lembrando que França e Reino Unido possuem arsenais nucleares", disse o especialista.

Zelensky em posição delicada

Outro ponto abordado na entrevista foi a mudança de postura do presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky. Segundo Castro, ele se encontra em uma posição política frágil diante da redução do apoio internacional.

"Zelensky percebeu que está isolado. Ele foi a Washington e entrou em uma 'arapuca', um jogo político em que não tem mais sustentabilidade", afirmou.

Além das dificuldades políticas, há ainda o impacto econômico, já que a Ucrânia possui recursos minerais estratégicos em regiões agora controladas pela Rússia. "Ele está sendo forçado a ceder nas negociações, pois a Ucrânia não tem mais como sustentar a guerra sem o suporte dos aliados", analisou Castro.

Cenário de risco e incerteza

O futuro do conflito ainda é incerto, mas as movimentações diplomáticas e econômicas apontam para um período de maior instabilidade. Para Castro, a Europa precisará se reinventar diante da nova realidade global, enquanto os EUA e a Rússia continuam a negociar nos bastidores.

"Estamos diante de um jogo novo, perigoso e ainda muito turbulento. A forma como os países europeus vão reagir e reorganizar sua segurança coletiva será determinante para os próximos anos", concluiu.

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