FISCALIZAÇÃO NO FUTEBOL

COLUNA DO ESCRETE DE OURO: O VAR como o sintoma do mau uso da tecnologia

O futebol é um dos poucos esportes de alto nível que ainda dá muita margem para a interpretação dos árbitros.

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Antônio Gabriel

Publicado em 18/05/2024 às 18:42
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"Não acho que o VAR seja o problema, mas o modo como eles o utilizam que é. Você não pode mudar essas pessoas, isso está claro, então eu votaria para eliminar o VAR". Tais palavras podem parecer de John Textor, Renato Gaúcho ou qualquer jogador revoltado com uma arbitragem ruim numa rodada do campeonato brasileiro, mas são de um dos técnicos mais aclamados dos últimos anos no futebol mundial.

Foi assim que o alemão Jurgen Klopp, que está se despedindo do Liverpool nesse fim de semana, se posicionou em relação ao uso do árbitro de vídeo, que vem sendo o centro de um enorme debate no futebol inglês. Na última semana, o tablóide britânico "The Athletic" revelou que os clubes que disputam a Premier League irão votar no próximo dia 6 de junho, na assembleia anual da competição, se querem continuar ou não com o VAR na próxima temporada.

Isso é muito significativo. Uma tecnologia que chegou com a premissa de tornar o jogo mais justo, claro e limpo, vem causando mais polêmicas e dúvidas, gerando a revolta justamente daqueles que deveriam ser os maiores beneficiados: jogadores, treinadores e torcedores, que, aliás, pintaram algumas das principais arquibancadas da Inglaterra com a mensagem "mostre ao VAR o cartão vermelho" em várias rodadas da Premier League.

Mas não se engane pensando que esse texto se trata de uma revolta contra o VAR. A ferramenta é perfeita e dá a chance necessária para que os erros sejam extintos do jogo, no entanto, como Klopp mesmo disse, "não sabem usá-lo".

O futebol é um dos poucos esportes de alto nível que ainda dá muita margem para a interpretação dos árbitros. Basta pegarmos, por exemplo, partidas de futebol americano ou basquete, que também são esportes de contato, para perceber que as polêmicas, por mais que existam, são muito mais brandas e pontuais. No futebol nosso de cada dia, a sensação é que há uma nova recomendação de arbitragem toda a semana e que o livro de regras recebe mais emendas do que a constituição.

E posso comprovar isso com simples perguntas: atualmente, você tem clareza da diferença entre mão na bola ou bola na mão num lance de pênalti? Você tem clareza de qual ponto do corpo já vale para a marcação de impedimento? Se é o tronco, o braço ou o pé? Tudo muda de acordo com o homem ou a mulher que está na frente das telas.

Aliás, falando em impedimento, no recente duelo entre Botafogo x Bahia pela Série A, em um momento a referência foi o cotovelo aberto do atleta, no outro foi o ombro, algo que, num lance ajustado, faz toda a diferença ao se traçar as linhas.

Há uma fragilidade inegável na operação das tecnologias, na preparação de alguns profissionais que usam essas ferramentas e na aplicação das regras. Diante disso, não há tecnologia que se salve

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