Sinto ar de balbúrdia. Um pós-festa prolongado, adentrando o horário de trabalho. É verdade que a cerveja sempre foi o ponto forte, mas depois do expediente. Não me encanta a equipe de transição. Chef não entende de fome, técnicos sem a condução de líderes provados não irão preparar a indispensável reparação na educação, ex-ministros e ex-dirigentes de estatais petistas já deram o que tinham que dar, sua nomeação só tumultua o ambiente, especialmente as nomeações de políticos comprometidos com erros, novas e renovadas lideranças petistas seriam mais oportunas, e elas existem, por certo. Beira a irresponsabilidade o Presidente eleito escancarar o pensamento sobre a oposição entre responsabilidade fiscal e social. Nesse ponto, no mérito, concordo com ele: a prioridade é a fome já, a fome que está nas ruas, na barriga, não a fome ideal que aplaca o remorso e a consciência do setor empresarial, especialmente o financeiro, aquela fome que seria remediada se o país mantivesse um orçamento equilibrado, não fizesse gastos, limitando-se a um teto. Isso equivale a uma torcida hipócrita para debelar-se a fome em dez anos - deixa morrer; no futuro, quem sabe, se o teto funcionar e as contas ficarem em ordem, a gente cuida deles, e param de morrer. Inaceitável. Mas não precisava falar, há consenso no essencial quanto à PEC da transição, aprofundar o conceito antes mesmo de tomar posse e sem nomear a equipe que comandará a economia foi um brutal passo em falso para um político inteligente como Lula. Não que eu me preocupe com a Faria Lima. Preocupa-me o sentido de responsabilidade que deve comandar os atos do governo eleito, a precaução, a prudência, o ambiente de paz, que, em relação à última declaração, nem mesmo a autoridade do vice-presidente conseguiu manter, ele foi e está sendo muito assediado. Sob todos os ângulos que se olhe, parece haver ainda forte emoção, impacto da vitória suada, mas a emoção deve ser canalizada para a reorientação das políticas públicas, não para chorar. Sou fã de Janja, ela deve ter protagonismo, mas qual? Indicar ministros? Ela não pode ser hostilizada por querer exercer o papel que quiser, mas muito da controvérsia recentemente instalada se deu pela falta de clareza não das palavras, mas dos atos, ela está em todos os espaços, inclusive os públicos e os políticos, com presença marcante. E Lula não esconde a influência que dela recebe. Podem me chamar de machista e misógino, mas é preocupante. E a viagem ao Egito no jatinho do empresário? De carona? Ora, convenhamos. Não penso que seja ingenuidade, penso que é subestimar as pessoas, penso que é arrogância. Se não ajustar logo, e tenho fé que o será, vamos ter problemas. Ainda bem que problemas de uma democracia.