Há algum tempo, ao final de cada período letivo, tenho o imenso prazer de sentar-me em uma "roda conversa" com os alunos do ensino médio do Colégio Cognitivo, tendo como pauta a rotina e as perspectivas das profissões jurídicas. Em tais encontros, antes de me entregar a uma escancarada apologia ao meu amado ofício, prefiro velar para que aqueles jovens façam as mais acertadas escolhas no respectivo encaminhamento profissional.
Isso porque, em algumas décadas de experiência enquanto docente, gestor ou advogado, fui testemunha do elevado preço pago por incontáveis conhecidos que, tomados pela paixão ou sucumbindo a pressões familiares, optaram por carreiras para as quais não estavam minimamente vocacionados.
Poderia ter sido, inclusive, o meu caso. Recordo-me que, ainda pequeno, era um apaixonado pela aviação. Montei muitas maquetes de caças, pratiquei aeromodelismo, frequentei as cabines de comando da frota das extintas Varig, Vasp e Transbrasil. Guardo na lembrança o êxtase sentido quando, aos dez anos de idade, recebi do meu pai um inesquecível presente: um voo acrobático conduzido por um instrutor do Aeroclube de Pernambuco. Passaram-se os anos e adquiri a consciência do meu déficit de atenção, que demoliu os sonhos de menino.
Também não teria tido condições de ser um cantor da noite, apesar do profundo apreço pelo violão. Apesar do extenuante esforço nas muitas aulas, e do talento do Alysson, meu professor, as dificuldades rítmicas e a inconsistência na manutenção do andamento me deram a inabalável certeza de que jamais atravessaria as fronteiras da indigência musical. Resumindo: se tivesse me tornado um aviador estaria morto e, se fosse músico, estaria passando fome. E nenhum esforço teria sido suficiente para superar a condição pessoal da crônica falta de talento.
Para quem quer fugir da mediocridade, um conselho: quem é péssimo em matemática não deve ser contador, quem tem dificuldade para se comunicar não deve trilhar o jornalismo e quem se atrapalha com a escrita não deve ser advogado.
Os caminhos são planos para aqueles que conseguem aliar compromisso e dedicação ao utilíssimo talento para a carreira eleita. Aos desprovidos do necessário autoconhecimento, bem como àqueles que renunciam à razão nas suas escolhas, o futuro costuma reservar um íngreme aclive ou, para alguns, o precipício profissional.