Vão mudar o sofá

ARTHUR CARVALHO
Publicado em 27/12/2022 às 21:11
Os dilemas do futebol brasileiro Foto: FREEPIK


Na década de 50, o Vasco tinha uma ala direita famosa – Sabará e Walter, ambos “escurinhos”- e bota “escurinhos” nisso! O Brasil vinha de uma trágica derrota por 2x1 do Uruguai, num Maracanã superlotado de mais de duzentas mil pessoas, perdendo a copa de 1950, “em casa”, com a ”culpa”, como não podia deixar de ser, recaindo nos três “morenos”, Bigode, Juvenal e Barbosa, sendo que Barbosa foi condenado por ter sofrido o segundo gol do ponta-direita Gighia, até o final da vida. “A pena máxima do Código Penal Brasileiro é de 30 anos, eu já estou com 50”, desabafou ele em uma de suas últimas entrevistas.

Como o Brasil perdeu a partida contra a Hungria em 1954, na Suíça, quando nosso treinador Zezé Moreira deu uma chuteirada na cara do Ministro da Educação e Desportos húngaro, Nelson Rodrigues reafirmou que sofremos do “complexo de vira-lata”. E a CBF resolveu tomar as medidas “drásticas e necessárias”. A primeira, excursionar pela Europa com um escrete para treinar para a Copa da Suécia de 1958.

Segundo o jornalista Mário Filho, em O Negro no Futebol Brasileiro, a delegação estava hospedada num hotel de luxo de Londres. Na sagrada hora do chá inglês, Sabará saiu do banho enrolado numa toalha molhada e, ao passar pelo salão onde as madames lanchavam, elas gritaram de espanto, e uma delas desmaiou com o susto e a inusitada aparição.

Foi o bastante para a CBF e a imprensa tupiniquim concluírem, com o devido estardalhaço, que se o Brasil quisesse ser campeão mundial teria que banir definitivamente os negros da Canarinha. E assim foi feito. Em vez de Djalma Santos, De Sordi; de Zózimo, Orlando; de Garrincha, Joel; de Pelé, Dida, e de Canhoteiro, Zagalo e Pepe.

Até aí, tudo bem. Mas faltava um psicólogo para avaliar os jogadores. E nomearam um tal de doutor João Carvalhais, que tomou duas urgentes providências: diagnosticar que Garrincha não podia jogar por ser incapaz psicologicamente e que Pelé ainda era muito imaturo pela pouca idade. Ou seja, se Nilton Santos e Didi não tivessem obrigado Feola a escalar Garrincha e Pelé, o Brasil amargaria outra derrota e continuaria sendo o país de vira-lata de Nelson Rodrigues.

Agora a CBF contratará uma equipe de psicólogos e psiquiatras para “tratar” dos jogadores. Ou seja: para eximir de culpa seus diretores e técnicos incompetentes. E ”confessa” que, precisando de psiquiatras e psicólogos, continuamos sendo uma indigente e fracassada população de vira-lata.

Arthur Carvalho, bicampeão invicto de futebol pelo juvenil do Sport (54-55).

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