Calendário Independente

FÁTIMA QUINTAS
Publicado em 27/12/2022 às 21:16
Calendário oficial de 2023. Foto: REPRODUÇÃO/VEECTZY


Os dias se acumulam, os anos dilatam o conhecimento, as perspectivas se multiplicam na incógnita velocidade do Ser. Eis que surge um novo tempo – 2023. Será que a frase tem algum sentido? Espanto-me. Não detenho a menor interferência na passagem dos dias. Assim caminha a humanidade... As horas vagueiam ao largo da soberania. Sigo à margem de um calendário inteiramente independente. Quase sempre perplexa, nasço todos os dias. Vou e volto ao sabor dos instantes e dos meses. Somos todos iguais.

Mas o pensamento tem um caráter de independência. Então, adquiro alguma singularidade. Talvez me engane. Não faz mal. Tenho pelas ideias um eterno agradecimento. Pensar é o verbo maior da humanidade; aquele que eleva o Ser ao mistério das indagações. E os símbolos se acrescentam na dinâmica da vida. Há tantas interferências no ato de dizer, de falar, de silenciar! Sim, porque o silêncio é a força inabalável da Existência. Nele surgem encantos e desencantos. Não há nada mais difícil do que tentar compreender a “realidade” humana. As palavras se esgotam, os significados se modificam a cada instante, explodem verdades e inverdades ao longo da evolução dos dias. Ainda bem. Assim, as versões aumentam no labirinto da vida.

Sou pequena demais para interpretar o derredor. Busco por todos os lados as inúmeras perspectivas que me cercam. Saber-me uma incógnita aumenta as simbologias. Então, jamais serei única diante das indecifráveis complexidades. Estou sempre buscando respostas que não encontro. Não temo a fragilidade, ao contrário, ela me fortalece. Persigo os enigmas, raramente os decifro. Necessito de múltiplas inquietações, importa entender o oculto. Quem disse que sou capaz?

Os suspiros me narram segredos. Escuto-os com o máximo enlevo. Vale a pena exacerbar a nossa interioridade. Quanto mais abraço o conhecimento, tanto mais aumenta o cartel de surpresas. E assim, a vida se instala, plena de esconderijos e surpresas. Que mais poderei desejar? Os sigilos crescem na medida em que a adequação do Eu se ajusta à realidade circundante.

Fátima Quintas, da Academia Pernambucana de Letras

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