Em seu discurso de posse no último domingo, ao falar do que o país precisa, enquanto demandas essenciais, o presidente da República mencionou necessidade antiga dos brasileiros, que diz respeito a solicitações históricas por melhor educação e maior acesso cultural: os livros.
Foi apenas uma menção de passagem, que merece o registro devido para o acompanhamento de iniciativas visando a formação de políticas públicas com esse propósito, tanto no âmbito do governo federal, quanto na articulação com os governos estaduais e municipais.
No mote da união para reconstrução, a coordenação do governo Lula no impulso aos planos e programas de estímulo à leitura e à literatura deve abranger o diálogo incessante com as demais esferas de gestão.
Para tanto, a nova configuração do Ministério da Cultura traz, de partida, o que se tem como conquista institucional para o setor: uma secretaria específica de Formação, Livro e Leitura, dentro da qual se insere a diretoria de Livro, Leitura, Literatura e Bibliotecas.
Entre as competências atribuídas à nova secretaria, estão a parceria com os demais entes federativos e com a sociedade civil; a democratização da difusão de conhecimento e à formação de cultura e arte; a descentralização dos processos de formação em todo o território nacional; o incentivo e subsídio de programas, ações e projetos da sociedade; a intersetorialidade das políticas de cultura e de educação; o atendimento ao indicado no Plano Nacional do Livro e Leitura, notadamente para a formação de leitores autônomos, críticos e reflexivos; a potencialização da arte literária de todas as regiões; e a definição de diretrizes e políticas nas bibliotecas estaduais, municipais e comunitárias.
Uma lista extensa de atribuições é dada à diretoria do Livro, Leitura, Literatura e Bibliotecas, começando pela implementação do PNLL no MinC, em sintonia com o Ministério da Educação. E mais: difundir o livro e incentivar a criação literária nacional, apoiar estados e municípios em suas políticas e planos, fortalecer as bibliotecas e os espaços de leitura, promover a literatura brasileira, coordenar o Programa Nacional de Incentivo à Leitura – PROLER, e o Sistema Nacional de Bibliotecas Públicas, entre outras responsabilidades.
A abertura de uma caixa específica para cuidar do livro e da literatura no organograma do MinC tem tudo para ser o primeiro passo de longo trajeto. Cujo maior desafio já se apresenta na gestão da nova secretaria: contribuir para dar consistência social e política aos diversos setores e integrantes da cadeia produtiva e criativa do livro no Brasil.
Os ativistas da leitura – na expressão do professor, editor e escritor José Castilho – detêm um papel importante a cumprir, pois o novíssimo apêndice do MinC pede engajamento e participação que demonstre cabalmente a sua relevância. É hora de juntar todos: escritores, editores, livreiros, mediadores de leitura, bibliotecários, ilustradores, capistas, tradutores, contadores de histórias, empreendedores de eventos literários, jornalistas, divulgadores de livros nas redes sociais e uma vasta gama de profissionais envolvidos na criação, produção e entrega de um livro.
liás, vale reler um trecho do artigo de José Castilho, publicado no primeiro dia do ano no Jornal Rascunho: “Somos excessivamente silenciosos e pouco nos fazemos ouvir pelos governos e pela sociedade, salvo raras e episódicas exceções”. Para ele, é o momento de agir, e transmitir “a mensagem inequívoca que um Brasil de leitoras e leitores plenos é o mais eficaz instrumento para a emancipação civilizatória de seu povo”.
Sim, o Brasil precisa de livros. Para que a necessidade venha a ser atendida – e sempre haverá essa necessidade – os ativistas da leitura devem ser, como os livros, valorizados. Não apenas com inserção na burocracia, mas com maior reconhecimento político e social, levando a formação de leitores e a diversidade da literatura para cada vez mais brasileiros.
Fábio Lucas, editor do Livronews
@livronewsnoinsta