Os livros me completam. Gosto da palavra porque tem o poder de sintetizar a existência. Entendê-la resulta de vários momentos interpretativos. A depender da sua posição, os ensinamentos pululam. Escrever não é fácil, muito pelo contrário, difícil, bastante difícil. Urge que as versões se adequem ao sentido do que se quer dizer.
Quantas vezes a minha fala não interpreta a razão maior da intenção primeira! Sei disso e, no entanto, vou tentando seguir adiante como se o gesto buscasse sempre e sempre versões múltiplas e variadas. A riqueza do texto sintetiza o que há de mais valioso na escrita. Importa conhecer razões que me levem a caminhos diversos. Cada frase tem seu sentido lógico, ainda que versada em mistérios ocultos.
Estarei sendo confusa na tentativa de explicitar o que há de incógnito nas intenções que partem do fundo da alma? Vale acreditar na força da mensagem de cada um. Jamais serei única na capacidade expositiva. Todos adotarão um modelo próprio, capaz de ir além da amplitude do dizer. Afinal, a escrita reclama a versatilidade ontológica.
Quando me disponho a escrever, percebo-me imbuída de indecifráveis mistérios; ora de um jeito, ora de outro. Pouco importa. Vale a intensidade do que se quer dizer. Até onde poderei ir na imensidão do complexo? Jamais serei capaz de definir tamanha obscuridade.
Melhor trazer o pensamento à luz da interpretação. Serei capaz? Vale a pena abraçar a grandeza do dito e do não dito. Haverá uma bipolaridade que ampliará as conexões. Afinal, viver não deixa de ser a palavra mais intensa que conheço.
E jamais saberei decodificá-la. Opto pela grandiosidade das suas indefinições. Nada mais digno do que conhecer a pequenez de cada um. Há no Serum máximo de abstração. Importa reconhecer as dificuldades interpretativas. “Quando a alma é viúva/Do que não sabe, o sentimento é cego”, reforça o poeta.
Cada palavra detém uma decodificação. Não adianta insistir em regras absolutas. Todas as coisas se revelam por entre o pensamento de cada um. Somos únicos na difícil elaboração do expressar-se. Sei e não sei, eis a grande bipolaridade. Prefiro silenciar diante da própria indefinição.
Afinal, as dúvidas abraçam o corpo e a alma em uma intensidade absoluta. Sigo todos os caminhos e estou sempre perdida. Serei diferente? Claro que não. Importa aceitar o palco das incertezas e acreditar na verdade do nada saber. A mim me basta a consciência da pequenez. Assim, estarei sempre pronta para acatar as inquietações.
Nada de novo foi dito. Apenas externei o que há de silencioso no meu âmago. Opto pelo que sou e não sou. Uma eterna hesitação que jamais se calará. É necessário expor o que há de silencioso no íntimo. Somente assim, aceitaremos a multiplicação dos caminhos. E de cabeça baixa,acataremos a interioridade do que somos.
Fátima Quintas, da Academia Pernambucana de Letra