Vivemos na era da Internet. Uma rede global de computadores interconectados que permite a comunicação e o compartilhamento de informações, em tempo real, entre usuários no mundo.
É possível também realizar transações comerciais e financeiras, acessar uma infinidade de recursos, aprender em eventos e instituições nacionais internacionais, jogar, conversar, formar redes com vários objetivos e muito mais.
Deixamos de ser meros espectadores daquilo que acontece no mundo. Somos também produtores e disseminadores de conteúdo, que precisam ser transformados em conhecimento.
Para isso é necessário saber selecionar dados e informações para os propósitos definidos, o que exige novas habilidades e traz novos desafios.
Participar de redes diferenciadas e globais, aprender a identificar fontes fidedignas de dados e informação, definir critérios de seleção, enriquece significativamente o aprendizado, inserindo o usuário no cenário mundial competitivo.
Entretanto, apesar dos inúmeros benefícios, a internet pode ser usada para propagar informações falsas, promover a violência, o ódio, a discriminação e cometer crimes como o cyberbullying, a difamação, o assédio sexual, as fraudes.
Há também preocupação com relação à privacidade do usuário, especialmente em relação ao uso de seus dados pessoais sem seu consentimento. Além desses casos, é importante estar ciente que nem todas as informações disponíveis na internet são confiáveis.
Diante desse cenário, a UNESCO, considerando seu objetivo em promover a liberdade de expressão, a livre circulação de ideias e a informação, como meios para garantir a democracia, a paz e o respeito aos direitos humanos, realizou em Paris, nos dias 21 a 23/02, a conferência "Internet for Trust" (Por uma Internet confiável) e discutiu um conjunto de diretrizes globais para regular as plataformas digitais, melhorar a confiabilidade da informação e proteger a liberdade de expressão e os direitos humanos.
Contou com a participação presencial de quatro mil representantes de governos, plataformas digitais, academia, jornalistas e sociedade civil. Outros tantos cidadãos participaram virtualmente, com o direito de questionar os palestrantes e debatedores.
Os participantes poderiam acessar antes do evento uma primeira versão de orientações para regulação das plataformas digitais. Esse documento será atualizado com a colaboração dos participantes, inclusive online, no site www.unesco.org/em/internet-conference/guidelines. A meta é ter o documento finalizado e publicado em setembro/2023.
Durante o evento, os palestrantes e debatedores abordaram práticas e experiências sobre gestão de conteúdo, transparência, liberdade de expressão, segurança, direitos humanos, tecnologia, responsabilidades, políticas regulatórias.
Entretanto, faltaram discussões sobre educação midiática, a participação das escolas e universidades, fundamentais no processo para combater as causas da internet usada para fins prejudiciais às sociedades e também para potencializar os benefícios.
A educação midiática forma o cidadão crítico que avalia a confiabilidade das informações, faz escolhas conscientes, entende como o mundo da mídia funciona, como as informações são produzidas e difundidas e como devem ser analisadas criticamente antes de sua difusão.
Compreende o desenvolvimento de um conjunto de habilidades para acessar, analisar, criar e participar de maneira crítica do ambiente informacional e midiático em todos os seus formatos.
Na instituição educacional, os educadores precisam estar preparados para habilitar os alunos a diferenciar fatos de opiniões, produzir e compartilhar mensagens com responsabilidade, saber identificar fake news e se a fonte da informação é confiável, refletir sobre o que não foi dito, pesquisar em sites de busca sobre a informação e, ao receber a informação, não se precipitar em disseminá-la sem antes fazer essas verificações.
Também é essencial aprender a construir narrativas midiáticas dedicadas a alguma causa ou serviço.
É imprescindível que a iniciativa da UNESCO considere a Educação midiática nas discussões e orientações.
Eduardo Carvalho, Autor do livro Educação Cidadã Global