E para as escolas, nada?

Não adianta só investir em boas cadeias, aliás para os de colarinho branco, nem precisa. Eles não ficam lá
SÉRGIO GONDIM
Publicado em 31/03/2023 às 15:37
Para cada cela, uma sala de aula, para cada presídio, um Compaz em contrapartida Foto: DIVULGAÇÃO


Não se pode dizer que a explosão de violência no Rio Grande do Norte foi de todo uma surpresa. Nem mesmo com tamanha extensão, mostrando núcleos do crime a postos para tocar o terror em dezenas de bairros e cidades, um verdadeiro exército comandado a partir de celas do sistema que teoricamente deveria proteger a sociedade.

As cenas mostraram cárceres superlotados como sempre, dando razão a reclamos dos presidiários servidos de comida azeda, sem nenhuma chance de ressocialização, sem horizonte fora do crime.

As imagens mostraram jovens descamisados atirando coquetéis Molotov nas lojas, repartições públicas, ônibus e pessoas. Disseminaram o pânico, mataram, fecharam postos de saúde, pararam o transporte coletivo e tudo que dele depende. “É nóis”, gritavam. Não vieram de disco voador e havia liderança assumida, usando a única linguagem que aprenderam na vida.

O tempo passa e ninguém consegue eliminar o uso de telefone pelos presos, mesmo na segurança máxima. Da central, passam o dia infernizando a vida do país, comandando mais crimes, gerenciando golpes contra aposentados, julgando e condenando sumariamente seus desafetos. Tentam corromper o que resta de bom na polícia.

No país, muitos só vislumbram oportunidade no crime. Outros, os graúdos, não precisam roubar para viver, mas quando são apanhados com a mão na botija confessam, devolvem e dão a volta por cima recuperando o dinheiro em liberdade, com auxílio de inacreditáveis brechas de um sistema jurídico que parece a seu serviço.

Claro que o estado deve reagir pronta e energicamente, como está tentando, até porque precisa apagar o estopim aceso no Rio Grande do Norte.

Agentes da força nacional, autoridades da segurança, milhões de investimentos chegando, como acontece nos morros depois que as famílias são soterradas.

A repressão é necessária, mas através dela esse problema jamais será resolvido. Tanto mais prendam, mais terão para prender. Existe fila de pretendentes para entrar no crime que, por ser organizado, limita o acesso de tantos aspirantes, afinal pretendem manter a ordem e a eficiência, dando sentido à expressão organização criminosa.

Não adianta só investir em boas cadeias, aliás para os de colarinho branco, nem precisa. Eles não ficam lá.

Quando o diagnóstico e o tratamento chegarem às raízes do crime violento disseminado, a liberação de verbas será direcionada também à boas escolas e aos professores. Para cada cela, uma sala de aula, para cada presídio, um Compaz em contrapartida.

Assim, quando o criminoso preso estiver chateado porque não assiste televisão e enviar comandos para o terror, não vai encontrar quem cumpra.

Estarão ocupados na escola, no profissionalizante, no rumo do mercado de trabalho e de um espaço na sociedade onde vivam melhor do que entre as barras de presídios sem TV.

Enquanto isso, seguiremos comprando televisões para que os presos não percam o reality show líder de audiência, onde podem aprender a importunar ainda mais.

Continuaremos construindo centrais do crime onde serão graduadas as novas lideranças e de onde partem as ordens para osque não têm oportunidade fora do crime. Sem acesso à educação básica de qualidade, um direito constitucional que lhes é negado, a guerra estará perdida.

Sérgio Gondim, secretário-executivo de Segurança Cidadã do Recife

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