De que educação estamos falando?

Precisamos de uma escola que seja capaz de promover o desenvolvimento pleno de nossos estudantes, o que está em consonância com o Artigo 2º da Lei de Diretrizes e Bases da Educação, ou ainda com o Artigo 205 da Constituição Federal. Mas essa escola começa em casa
MOZART NEVES RAMOS
Publicado em 30/04/2023 às 23:51
Violência nas escolas Foto: Thiago Lucas/ Artes SJCC


Os últimos atos de violência nas escolas nos mostram que devemos fazer uma séria reflexão sobre que tipo de educação precisamos oferecer a nossas crianças e nossos jovens. Tais acontecimentos vêm-se avolumando há já algum tempo, mais precisamente nos últimos vinte anos. Alguns os atribuem ao uso crescente e sem controle das redes sociais. Outros dizem que os pais estão deixando de lado o seu papel de educar e terceirizando as escolas. Na verdade, há um conjunto de fatores que permeiam a gravidade do quadro atual de violência.

A escola está imersa em uma sociedade de valores cada vez mais pobres - essa é a grande realidade. Se não trabalharmos para mudar essa sociedade, seremos cada vez mais reféns da violência, das drogas e do desencanto pela vida. Em breve, se continuarmos nessa toada, as escolas estarão presas dentro de si mesmas. É preciso repensar nossos papéis na sociedade, enquanto pais, educadores, políticos, empresários... enfim, precisamos definir qual é a sociedade que queremos deixar para as futuras gerações.

Imaginar que todo esse quadro será resolvido apenas pela educação é simplificar demais o problema. Mas uma coisa é certa: sem ela não vamos obter resultado algum! E de que educação estamos falando? Quatro séculos antes de Cristo, Aristóteles já enfatizava a necessidade de educar o coração, além da mente: "Educar a mente sem educar o coração não é educação". O que significa isso? Que é preciso ir além dos aspectos meramente cognitivos.

Precisamos de uma escola que seja capaz de promover o desenvolvimento pleno de nossos estudantes, o que está em consonância com o Artigo 2º da Lei de Diretrizes e Bases da Educação, ou ainda com o Artigo 205 da Constituição Federal. Mas essa escola começa em casa. Como disse o papa Francisco na Audiência Geral de 20 de maio de 2015, dirigida às famílias, ao afirmar: "Chegou a hora de os pais e as mães voltarem do seu exílio - porque se autoexilaram da educação dos próprios filhos - e recuperarem a sua função educativa".

Os choques geracionais estão dificultando muito o diálogo entre pais e filhos - não podemos deixar de reconhecê-lo. Eles precisam de ajuda, e creio que uma aliança entre a escola e a família é essencial para derrubar os muros invisíveis da alma. Isso exige uma educação que promova a compaixão, a aceitação, a tolerância e a amizade - olhar o outro como se fosse nosso espelho. Não sou filósofo - profissão que sempre admirei (quando jovem estudava muito filosofia da ciência). Sou professor, e reconheço que preciso exercer mais a humildade para aprender, desenvolver mais a humanidade em mim - isso talvez seja um bom começo. Penso que não podemos desistir de que é possível uma sociedade mais humanizada - e ela começa dentro de cada um de nós.

Mozart Neves Ramos , titular da Cátedra Sérgio Henrique Ferreira da USP de Ribeirão Preto e professor emérito da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE)

 

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