Feliz Mundo Trans

O mundo trans não é novo. Nova é a sua atual perspectiva, que deve falar mais sobre liberdade e felicidade do que qualquer outra coisa. Há tantos que ainda creem que o destino dos que se percebem de outro gênero, presos no próprio corpo, é o eterno cativeiro.
PEDRO HENRIQUE REYNALDO ALVES
Publicado em 15/07/2023 às 0:00
SUS deve garantir que pessoas trans que fizeram alteração no nome no registro civil tenham acesso ao atendimento de saúde referente ao sexo biológico Foto: PIXABAY


 Recentemente uma conhecida jurista pernambucana surpreendeu a sociedade ao assumir novo gênero e nova identidade social. Num ato de muita coragem, publicou em suas redes sociais as razões e sentimentos que motivaram sua transformação, passando a viver seu novo mundo, se equilibrando com maestria em cima de saltos altos entre reações assombradas por preconceitos e palavras e gestos de verdadeiro acolhimento.

O papel de desafiar tabus sensíveis é mais visível e melhor desempenhado por quem possui maior protagonismo social. Pessoas como Rita Lee e Hebe Camargo, vanguardistas nas ideias da liberdade sexual feminina, por exemplo, contribuíram mais para a causa do que duas mil Genis, sem o mesmo risco das pancadas e cusparadas sofridas pela personagem Buarqueana.

Esta semana, ao ser bem atendido por um jovem em uma que frequento, indaguei sobre a vendedora que usualmente me atendia. Ao ser informado que ela não mais trabalhava ali, elogiei as qualidades da ex-funcionária. Já no caixa, o simpático vendedor me falou que tinha uma questão sensível a falar. Foi quando me disse ter passado pela transformação e que não dissera antes com receio de minha reação, sendo motivado pela forma empática que me referi a sua antiga identidade. Percebi que para aquele vendedor, de cor de pele e classe socioeconômica distintas de seus habituais clientes, assumir publicamente sua condição de transgênero era um obstáculo quase intransponível em sua carreira profissional.

O mundo trans não é novo. Nova é a sua atual perspectiva, que deve falar mais sobre liberdade e felicidade do que qualquer outra coisa. Há tantos que ainda creem que o destino dos que se percebem de outro gênero, presos no próprio corpo, é o eterno cativeiro. Uma luz, para os de alma pequena, está no livro Translúcida, lançado pela editora Amanauense, que reúne 38 imagens de presas trans, de autoria do ministro Sebastião Reis, do STJ, com poemas de diversos autores. Aos juristas Sebastião Reis e Antonella Galindo, minha singela homenagem.

Pedro Henrique Reynaldo , advogado e ex-presidente da OAB/PE

 

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