Infeliz a espiral crescente e alarmante do número de assaltos praticados em nosso país, alguns deles resultando em vítimas pela ação grotesca de criminosos sem nenhum compromisso com a sociedade, com a vida, com Deus e com aqueles que os colocou no mundo.
Cabe a reflexão, o pensar de público sobre o que se passa na intimidade de uma família, quando, abruptamente, se vê diminuída dos seus pertences materiais conquistados à força do trabalho, do suor, das energias despendidas e do esforço que a inteligência exercita. Pior - infinitamente pior -, irreversivelmente triste, quando, além dos anéis, se vão dedos inocentes, acompanhando os corpos cujas vidas a brutalidade humana ceifa na simplicidade e frieza de assassinos impunes.
Fui, recentemente, acometido desse mal urbano e desumano. Dei uma de andarilho vagueando pelas ruas do Espinheiro até que, ao dobrar a Av. Agamenon Magalhães, na proximidade do viaduto João de Barros, dois homens, um armado de revólver, ameaçaram-me de morte, caso desse passos à frente. A partir daí, tomado de sobressalto, veio o medo e sobreveio a sensação de que a vida é apenas uma chama de vela apagável ao menor dos sopros. Estabeleci o diálogo, conversamos, acalmei-os, até que, a contragosto, entreguei-lhes parcos pertences, para, depois, rogar a Deus a preservação da vida.
O problema não é apenas um caso de polícia, de leis que penalizem os infratores, de vigilância indormida. Há aspectos sociais de tal ordem que, se o Brasil não reverter a sua política econômica, o seu quadro social, serão gerados o caos e o temor em nosso cotidiano, exposto à barbárie que nos atemoriza.
Enquanto houver desemprego e desigual distribuição de renda, o homem estará aviltado na sua condição humana, de gente querendo ser gente no meio do povo, no seio da sociedade. A fome é má companheira e impulsionadora dos vícios e dos malefícios sociais.
Há poucos dias, um amigo, estacionado num sinal de trânsito, travou com um menino de rua o seguinte diálogo estarrecedor:
- Tio, descola um dinheiro para mim. São 9h, estou com fome!
- Com fome, meu filho? Não tomou o café da manhã, por quê?
- Porque eu sou um bolo de miséria!
É estranho, até paradoxal, apesar dos extraordinários avanços tecnológicos, ver-se, neste século, o homem, ou isolado na multidão, temeroso, ou metamorfoseado em tirano, inimigo, como se lobo fosse para o semelhante, contrariando assim o mandamento do "Amai-vos uns aos outros como Eu vos amei."
A tecnologia, porquanto tecida pelas mãos do homem, é filha do humanismo. Todavia, parece se rebelar como se o feitiço tivesse que sempre se voltar contra o Criador. Os avanços do mundo moderno parecem negar o bem-estar social, a felicidade que é sempre o ponto de busca do homem, que sonha com a plenitude nesta vida terrena.
Na agenda da atualidade, consta, com frequência, o furto cibernético nos aplicativos dos bancos, quando os assaltantes são céleres nos atos, deixando a vítima, sob prejuízo e sobressalto, à espera da morosidade da Justiça, quando as excelências se acham na obrigação de ouvir a parte contrária, que é sempre o sujeito oculto da oração, deixando-a no sofá do conforto da longa espera.
Abominável é o privilégio de alguns poucos em detrimento de outros tantos afogados no poço da miséria. O homem de hoje, principalmente o terceiro-mundista, como nós, vive inquieto e apreensivo com os sobressaltos de atos brutais engendrados nas alcovas das consciências de pessoas inescrupulosas, cujas mãos, envoltas em luvas de pelica, satanicamente, deformam a dignidade da criatura humana.
Bom seria que o homem tivesse a técnica para construir até a bomba atômica, mas lhe sobrasse o humanismo para somente utilizá-la para o bem da humanidade. Melhor ainda se o Menino do Dedo Verde, nascido da criatividade de Maurice Druont, fosse realidade e os canhões atirassem flores ao invés de balas. Rosas e vidas no lugar de granadas e mortes.
Roberto Pereira, ex-secretário de Educação e Cultura de Pernambuco e membro da Academia Brasileira de Eventos e Turismo (Abevt).