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Por que parte do mercado não aprova Lula?

São 55% dos atores do mercado que creem que a economia irá piorar nos próximos 12 meses

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ADRIANO OLIVEIRA

Publicado em 25/11/2023 às 17:21
Quando você olha atentamente para a política econômica do atual governo Lula, é nítido e claro o objetivo dela: ter controle dos gastos públicos através do aumento da arrecadação - Agência Brasil

Pesquisa da Genial/Quaest revela que em março de 2023, 90% dos atores do mercado (gestores, economistas, analistas e tomadores de decisão do mercado financeiro), avaliavam negativamente o governo Lula. São 52% no mês de novembro.

E mais: 43% avaliam positivamente o trabalho do ministro da Fazenda Fernando Haddad. 80% avaliam que a qualidade da equipe econômica atual é pior do que a do governo anterior – Novembro/2023.

São 55% dos atores do mercado que creem que a economia irá piorar nos próximos 12 meses. 73% afirmam que a política econômica do Brasil está indo no caminho errado. E 77% definem a falta de uma política fiscal que funciona como o principal problema que dificulta a melhora da economia – Novembro/2023. Os dados da Genial /Quaest revelam que parte do mercado não é otimista com o atual governo. Quais as razões?

Existe no mercado brasileiro e em parcela da imprensa a ideia fixa de que o controle dos gastos públicos deve ser o exclusivo instrumento da política econômica. Será ele, portanto, o meio que possibilitará o desenvolvimento econômico. O equilíbrio fiscal é necessário. Todavia, ele não é um único fim. André Lara Resende em seus belos artigos e livros tem insistido nesta tese.

Quando você olha atentamente para a política econômica do atual governo Lula, é nítido e claro o objetivo dela: ter controle dos gastos públicos através do aumento da arrecadação. O crescimento da arrecadação virá através da promoção da justiça tributária e da reforma Tributária, a qual foi recentemente aprovada pelo Senado. A justiça tributária significa que indivíduos que não pagam impostos passarão a pagar. Por exemplo: tributação dos fundos exclusivos.

A semana que findou revelou como parcela do setor produtivo brasileiro e do mercado são contraditórios, pois defendem maior controle dos gastos públicos, mas esquecem de defender a justiça tributária. O presidente Lula vetou a desoneração da folha de pagamento de 17 setores da economia. Os empresários destes setores reagiram, obviamente. Diversos parlamentares também. Ora: se eu defendo controle dos gastos públicos, por que defendo, também, a desoneração da folha de pagamento de determinados setores?

Quando desonero, deixo de arrecadar. Se deixo de arrecadar, o governo perde condições de cumprir com a meta de déficit zero. Se não existe déficit zero, isto significa, a priori, que o governo está gastando mais e não tendo controle dos gastos públicos. Portanto, o que os defensores do controle fiscal querem? Como desejam controlar os gastos públicos?

O Brasil é fortemente desigual. São milhões de pessoas que precisam de políticas sociais focalizadas para que não estejam na miséria e venham a adquirir condições de aproveitar as oportunidades que o mercado oferece. Portanto, se eu falo insistentemente em corte dos gastos públicos, e relego a necessidade de políticas sociais e de arrecadar mais, entendo que a política econômica deve atender exclusivamente os interesses dos atores do mercado. Pois, não importa os indicadores sociais (saúde, educação), mas, apenas, os indicadores do mercado (Ibovespa).

Parte dos agentes do mercado sofre de miopia. Mesmo ciente de que o ex-presidente Jair Bolsonaro provocava tumultos, os quais possibilitam crises política e econômica, eles torciam pela reeleição do então presidente. Pesquisa da Warren, em 29/09/2022, revelou que 58,4% dos atores do mercado (amostra: 113 entrevistados) acreditavam que a vitória de Bolsonaro era o melhor cenário para os ativos de risco.

É claro que a decisão do ministro do Trabalho Luiz Marinho de revogar a portaria que simplificava os trabalhos aos sábados, domingos e feriados, é uma atitude que contraria, com razão, os interesses do setor produtivo e dos trabalhadores que desejam ou precisam trabalhar nestes dias. Contudo, a defesa insistente do ministro Haddad do déficit zero, da reforma Tributária e do fim dos privilégios tributários sinalizam que ele e o presidente da República tem responsabilidade com a dinâmica da economia.

Por que, então, parcela do mercado não gosta de Lula? Três hipóteses: 1) O histórico sindical do presidente Lula; 2) As crises econômica e política do governo Dilma; 3) O histórico do PT em defender gastos públicos.

*Adriano Oliveira é Doutor em Ciência Política. Professor da UFPE. Fundador da Cenário Inteligência.

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