Tenho a sensação de que todos os dias renasço. Como se a vida me trouxesse o prazer de mudanças alheias à vontade. Não sei quem sou, mas busco sempre e sempre crescentes transformações. Preciso conhecer a interioridade que me habita. Hoje, de um jeito; amanhã, de outro. Todos nós somos iguais e jamais calculamos a ânsia de reavivar os enigmáticos momentos. Não basta apenas decifrar as emoções, importa que todas venham a contribuir para a transformação do Eu. E assim, a palavra vai descortinando o que se passa no íntimo de cada um. A pluralidade dos instantes se recria minuto a minuto. Renasce o desejo de acreditar em fascinantes ideias. A vida prossegue independente da vontade; todavia, há um mistério interior que habita a alma. Uma maneira de abraçar o mundo com visões renovadas. Prossigo no caminho e não desprezo os impulsos que se multiplicam. A cada dia, um novo despertar. Quantos sonhos acumulados se alojam na diversidade dos encontros? Não sou capaz de divisá-los; recebo-os com afeto e intensidade de ânimo. De um modo ou de outro, os passos transitam na estrada principal. Indagações sem respostas cruzam a existência. Vou e volto com os mesmos anseios, ou seja, uma busca perenemente frenética. Necessito de paz, ainda que receba, com orgulho, as impulsões. Nada decifro. E tanto procuro!
Desde quando me habita uma multidão de expressões indagatórias? Para onde vou? Vou apenas. O máximo de perplexidade me constrange. Sei disso, entretanto jamais desejo conviver com mudanças que não me sacolejem. Urge acreditar nos múltiplos caminhos e segui-los com a veemência das pulsões. Recolho-me plena de preciosismos; jamais abandonarei as possíveis interrogativas. Há um alvorecer que permeia o núcleo ontológico. À procura do tudo e do nada, eis-me em plena ansiedade. E, assim, os dias e as noites acontecem diante do mesmo questionamento: Quem sou eu?
Viver simboliza o clímax da interjeição. Todos nós sabemos disso, entretanto desejamos descobrir mais e mais, como se nada tivesse um começo explícito. O mundo emerge das indefinições. O maior desejo se reduz ao menor esteio de revelação. Não adianta abraçar mitos ontológicos. Somos todos iguais na incapacidade de traduzir mistérios que nos rodeiam. As complexas indefinições necessitam ser aceitas sem temor. E o poeta se exprime: "O que há em mim é sobretudo cansaço.../Não disto nem daquilo./Nem sequer de tudo ou de nada:/Cansaço assim mesmo, ele mesmo/Cansaço".
A beleza dos versos me fascina. Uma intensidade que permeia as nossas dúvidas. Não urge apenas ler as metáforas; sim, apreendê-las na beleza interiorizada. Que as palavras me alertem para a vida. A letra tem o poder da significância. O que já me satisfaz. Mesmo assim, os caminhos se cruzam e não são claros. Afinal, que saberei eu do mundo existencial? Nada. Absolutamente nada.
Fátima Quintas, da Academia Pernambucana de Letras