A abertura do Carnaval geralmente traz impactos para a mídia, voltados para as atrações, segurança e similares. Mas ontem, no Recife e no Brasil, um político chamou atenção por surpreender com sua estratégia de comunicação, além de entregar uma espetacular abertura de carnaval. O que era esperado de uma comunicação “tradicional” de um governante? A “velha coletiva de imprensa com a velha foto com todos abraçados, com artistas, e aquele estandarte” para anúncio do investimento na festa e desejar um bom carnaval com segurança. A novidade seriam fotos, sorrindo, se possível com populares, para durar 10 minutos no Instagram e logo depois se perderem no burburinho das redes.
João Campos foi além. Muito além. Nevou…, com leveza, mostrando que sua comunicação é inesperada, ousada, participativa e conhece muito bem o cenário de desafios, oportunidades e tendências da política figital. E tudo isso não surge por acaso, por sorte ou porque era carnaval. Implementar estratégias de comunicação demanda tempo. E, muitas vezes, um período muito curto de campanha não é suficiente.
Não é de hoje que o prefeito da Cidade do Recife, João Campos, se destaca com uma comunicação inovadora, abandonando conceitos e lógicas tradicionais de marketing político, atuando com base em conhecimento de comunidades, criando efeitos de rede e utilizando plataformas sociais para criar fatos e mídia espontânea a respeito de sua gestão e dele próprio. Sua capacidade de olhar o cenário e entrar nas narrativas existentes, saindo do ideário tradicional que o político cria a narrativa, mostra sua capacidade, e da sua equipe, de entender de fluxos, ser ágil, ter coragem para inovar, cocriar com o povo e, mais ainda, mostra uma desburocratização da comunicação e uma participação direta e ativa do prefeito como agente de comunicação. Acabando, de uma vez por todas, com aquela comunicação em que o time de marketing tenta criar um personagem que não existe.
Com uma estratégia montada, na “neve”, os algoritmos fizeram a parte deles, aumentando a festa, literalmente. O engajamento fluia rapidamente, a mídia contribuia aumentando as conexões e dando autoridade ao assunto e a narrativa, cocriada, se propagou, lindamente, com a rapidez das conexões, relacionamentos e interações em tempo real das redes sociais globais. De repente, tínhamos um universo de conexões no mundo em rede, onde todos, física ou digitalmente, comentavam que o prefeito nevou. Todas as bolhas foram furadas.
O “descolorir o cabelo” levou ao Brasil uma pauta política: a periferia também dita moda e comportamento, e muito mais. E, no Recife, ela tem espaço e voz. Essa foi a mensagem passada, nos códigos e linguagens de uma tribo que se sentiu aplaudida, ontem, em cada menção que elogiava o prefeito e até daqueles que nunca tinham ouvido a expressão “nevar”, mas, ontem, conseguiram entender. A “neve” ocupou e expandiu um espaço onde, quase nunca, há política.
E, para encerrar, porque esse texto daria um grande estudo, vale lembrar que João Campos, ao assumir o cargo de prefeito do Recife, enfrentou desafios significativos devido à disseminação de desinformação e à percepção de imaturidade a ele associada. Rotulado por adversários como "Pequeno Príncipe", Campos encontrou-se em meio a uma batalha narrativa que ameaçava minar sua autoridade e legitimidade como líder municipal. Esta alcunha, derivada do clássico de Saint-Exupéry, embora carregasse conotações de inocência e esperança, foi manipulada para projetar uma imagem de inexperiência e ingenuidade.
A virada na percepção pública começou a se materializar quando as ações de Campos, que não são apenas marketing de imagem nas redes sociais, traduziram-se em melhorias visíveis na cidade. Projetos urbanísticos, revitalização de áreas degradadas e a implementação de programas sociais começaram a refletir a competência e o cuidado do prefeito pelo bem-estar dos recifenses. As redes sociais do prefeito se tornaram um "sistema de acompanhamento de obras".
O apelido "Meu Prefeito", adotado espontaneamente pela população, simboliza uma transição da desconfiança para a apropriação afetiva de sua figura, marcando uma nova fase de sua relação com os cidadãos. A transformação de imagem de João Campos teve implicações significativas na sua capacidade de governança e mobilização social. Ao reconfigurar a narrativa ao seu redor, Campos não apenas neutralizou as críticas infundadas mas conseguiu galvanizar a população em torno de objetivos comuns de desenvolvimento urbano e social. Essa nova imagem, endossada pela adoção do visual platinado durante o Carnaval, serviu como um catalisador para uma gestão que buscava ser inclusiva, inovadora e, acima de tudo, próxima do povo.
A narrativa "Meu Prefeito Nevou", emergindo desse contexto, não é apenas um testemunho da evolução de Campos como figura pública, mas reflete uma mudança paradigmática no que diz respeito à relação entre política, imagem e o imaginário popular. Essa transformação demonstra que, mesmo em face de adversidades, é possível forjar um caminho de respeito mútuo e cooperação, onde a liderança inspira e une, redefinindo o que significa o ser político na era figital. Viva a Periferia! Viva o Carnaval!
Rosário Pompéia e Silvio Meira, autores do Marketing do Futuro da Política