Dormia na indiferença em pleno coração do bairro de Boa Viagem um esqueleto que virou paisagem invisível para muitos; o Edifício Holiday, obra pioneira dos anos 50. Sua construção foi uma iniciativa arrojada, avançada em seus sofisticados cortes arquitetônicos, bem além da então praia de veraneio cercada de coqueirais e circunscritas a poucas casas espalhadas em um areal sem fim. Um marco vanguardista de um povo inovador e ousado. Imagine-se para época uma construção com 17 andares e 476 apartamentos.
Os anos e o tempo mudaram sua ocupação inicial, o tornando no decorrer da ampulheta de muitas quadras em um degradante espaço de risco por todos os ângulos. Mantendo apenas sua majestade em meia lua, curva, melhor vista a distância, transformando-se em símbolo de desprezo na cidade. Até que o prenúncio de uma tragédia anunciada se fez chegar. Um conjunto de riscos em muitas disciplinas exigiu sua desocupação plena. Hoje, essa estrutura que flutuava sem destino certo em uma urbe que carece de habitação para milhares de seus filhos, caminha para reencontrar bom destino. Parece escapar dos tempos marcados pela indiferença, onde os feitos são acudidos pelo imediatismo de narrativas rasas.
Há muito que nada se falava do velho prédio, que ao alento do sol, sombra e brisa salgada, resiste em busca da esperança de uma utilidade possível. Entidades como a Comissão de Justiça e Paz da Arquidiocese, conselho de arquitetura e o sindicato das empresas de engenharia consultiva tentaram contribuir para minimizar o impasse no momento mais agudo, no entanto suas prerrogativas e competências legais são de ofício limitados. Cabe por dever de justiça registro do acompanhamento atento da atual gestão municipal a esse desafio.
No momento em que o Presidente do Tribunal de Justiça de Pernambuco, Desembargador Ricardo Paes Barreto, em uma curta interinidade como Prefeito do Recife, anuncia para o próximo mês de maio o leilão do velho Holiday recebemos como oxigênio a aragem providencial da corte de justiça.
Longe de existir um epílogo pronto e acabado, reinaugura-se agora de forma objetiva um norte, sinaleira de luz acesa, alternativas na mesa, esperança sólida de futuro necessário. O sopro de esperança que clamava no coração de tantos recifenses poderá fazer o Holiday reencontrar seu destino de voltar a servir ao Recife, em meio aos seus amplos subúrbios multicoloridos e vastos horizontes molhados.
Fernando Dueire, senador da República